Eterno

2 0 0
                                    


Era estranha aquela sensação que sentiu ao sair do consultório um misto de náusea e pavor, sua visão estava turva e o chão parecia uma gelatina e em meio a tantas aflições se encosta numa fria parede de alvenaria que ainda se encontrava molhada pela chuva que caiu naquela manhã. A ânsia se torna tão forte que o obriga a curvar o corpo e regurgitar um liquido viscoso de cor esverdeada, situação que chamou a atenção dos transeuntes, que provavelmente imaginavam que ele estava se refazendo de uma bebedeira.

As palavras do médico ainda ecoavam em sua mente, enquanto o mundo inteiro girava a voz rouca do médico embalava-se em uma sinfonia infindável:  "Três meses, três meses, três meses..."

Ainda aturdido consegue mover alguns cambaleantes passos a proeminência da morte foi algo apavorante para ele, que quando descobriu que a havia contraído tal doença de nome estranho, fez uma ampla pesquisa a respeito e descobriu que se tratava de uma moléstia rara, onde um em um milhão contraiam a enfermidade, e todos os casos registrados tiveram como resultado a morte dos maculados pelo vírus, que degenerava todo o sistema nervoso. Mas, nem nos piores pesadelos daquela figura pragmática e metódica pode-se, prever que sua vida estaria programada a findar em tão pouco tempo.

Desvairando pelas ruas, venceu a distância entre o consultório e sua casa, um pequeno apartamento no centro da cidade. Quando chegou ao saguão viu que o elevador estava lotado e decidiu subir os três lances de escada até o segundo andar onde ficava seu apartamento, após várias tentativas consegue abrir a porta, e entra na casa correndo e vai ao banheiro onde novamente vomita, desejou que a secreção verde tivesse o livrado da doença que o consumia.

Caminhou trôpego até a cama e lá permaneceu em silêncio até que conseguiu dormir embalado por uma forte chuva que começou a cair, era o mais relaxante dos sonos que teve em semanas.

Dormiu duas horas aproximadamente e quando despertou tinha a boca seca, mas isto não lhe chamou tanta a atenção quanto um perfume suave que impregnava toda a casa e lhe transmitia certa tranqüilidade o dominando. Ele lentamente se levanta, e dirigindo-se para a cozinha se surpreende com uma figura em sua sala, uma pessoa toda vestida de branco olhando pela vidraça, irradiado por uma densa luz amarela.

Antes que pudesse indagar o que tal sujeito fazia ali, uma voz ecoou pela casa parecendo vir de todos os lados, como se tivesse saindo do chão ou das paredes, era uma voz tranquila que disse:

" Não se aflija, meu amado irmão eu não venho para fazer-te mau e sim para te anunciar um presságio no qual a ti caberá julgar se bom ou mau."

" Que tipo de presságio? E como entrou aqui?"

"Acalma-te que tuas perguntas serão respondidas." Então a figura se vira e revela um rosto sereno e belo e continua falando, porém seus lábios não se movem: "Meu querido irmão, eu sei pelo que passas e te garanto que a morte não é algo no qual deves temer, e sim agradecer por receber está dádiva."

Apesar de aquela figura estar em seu apartamento, não pode sentir por ela desprezo, mas sim alegria em vê-lo, porém não pode conter o espanto em ouvir as ultimas palavras e resmungou:

"Dádiva, queria ver se fosse ele quem soubesse que ia morrer."

"Meu irmão, eu posso lhe garantir que a morte é uma benção, na qual eu já fui agraciado."

Aquelas palavras soaram de certa maneira estranhas, como poderia aquela pessoa que ali estava parado em frente à janela estar morta, o pobre dono do apartamento ficou ainda mais confuso, mas não pode prever que as próximas palavras o atormentariam ainda mais.

"Caro irmão, sei que se aflige com a chegada de sua morte, mas lhe garanto que não sofrerás, porém, não viverás mais que vinte e quatro horas a partir das doze horas de hoje."

EternoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora