XIV-O Fundo do Poço

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Porquê? 

No repouso do quarto, a serenidade era aquela tranquilidade na qual eu podia jurar que iria ouvir algo no silêncio. Onde já estamos à espera de nos assustar, de um ruído qualquer de uma roupa ou um objeto a cair, do aquecedor a falhar...

-Axl...Axl!-ouvi um sussurro, tentando chamar-me, e percebi que tinha entrado alguém no quarto. Naquele momento fez sentido, a voz era real, e apesar de ser estranho, pareceu-me absolutamente lógico estar a receber visitas no meu estado palustre. Quis levantar-me para tentar perceber quem era, mas não consegui. Era-me familiar aquele som. Fazia-me recordar a voz da minha irmã quando éramos pequenos, em Indiana. A maneira como ela me costumava chamar para jantar quando começava a escurecer...ou como quando batia à porta do meu quarto de madrugada porque tinha medo de dormir sozinha...bom, ambos sabíamos do que tínhamos realmente medo.

-Axl!-a voz chamou-me de novo. Sim, era real. Estava ali alguém comigo. Recuperando a força que não tinha, fiz os possíveis para me sentar na cama. 

E à minha frente estava Blue. 

Atirei-me de volta para o colchão, escondendo-me debaixo dos lençóis, em pânico. Senti a minha respiração a tornar-se cada vez mais apressada e o ar abafado contra os lençóis quentes, porém, permaneci paralisado. 

-Axl!!-ela continuou a chamar-me, e eu sentia-a a aproximar-se, mas não ouvia os seus passos. Fechei os olhos com força, forçando-me a afastar as alucinações da minha cabeça, encolhido numa bolinha. 

-Axl, sou eu, por favor!

Respirando fundo, a coragem e a ansiedade de espreitar ganharam vida antes que sufocasse debaixo da roupa da cama. Destapando um pouco do lençol reparei, com horror, na figura que quedava a alguns metros. Era Blue, a Blue que eu me lembrava. Com as mesmas calças esfarrapadas, com o mesmo casaco velho, com o mesmo lenço sujo na cabeça, e eu percebi, de verdade, como sentira a sua falta. 

Solucei com dor, limpando as lágrimas dos olhos ao recordar como ela tinha morrido, e voltei a sentir-me desolado. Porque é que o meu cérebro me pregava estas partidas?

-Não chores, Axl-Blue aproximou-se de mim, sentando-se na beira da cama. Observei-a com fascínio, de olhos muito abertos, secando já as lágrimas. A sua mão tocou na minha apenas visualmente; senti apenas uma massa de ar frio sobre a pele, que me fez arrepiar.  

-Eu...e-tentei emitir palavras, algo que lhe pudesse dizer caso fosse de facto ela, mas desatei a chorar. Isto era louco. Completamente insano, o que me fez sentir mais frustrado. Blue estava morta, e eu sentia-me tão mal que a minha mente tentava recuperar a sua imagem desesperadamente. A culpa fazia-me remoer tudo dentro de mim constantemente.

Eu era miserável. 

Quando a porta se abriu, Blue desapareceu, como água a evaporar-se, e Duff entrou, encarando-me com certa estranheza. 

-Ouvi-te a falar-afirmou, aproximando-se da cama. 

Assenti muito rapidamente, tentando esconder-me de novo debaixo dos lençóis, dando-lhe as minhas costas.  

-Eu sei...eu sei que o processo de desintoxicação é difícil, Axl, mas...deixa-me ajudar-te, por favor-Duff murmurou, aproximando-se-Nós somos amigos. Estamos aqui uns para os outros, certo? 

Funguei levemente, esfregando os olhos, e descobri-me dos cobertores, sentando-me encostado ao estrado da cama. Desistira de qualquer tentativa de me esconder. Isto tudo era infernal, e eu teria de aceitar que precisaria de ajuda, correto? 

Calorosamente, os braços de Duff envolveram o meu corpo. Ele reconfortou-me, garantindo-me que o pior já tinha passado, e que eu iria melhorar depressa. Com o cansaço e a recusa de mais pensamento, afundei a minha cara no seu pescoço, e os meus braços enredaram também a sua cintura, deixando-os descaídos por conta do cansaço. 

Ilusão (Fanfic de Guns N' Roses- Slaxl/Izzaxl)Onde histórias criam vida. Descubra agora