Vinte e Um: Pai

Começar do início
                                    

— Já chega, vó! — Victor riu e se afastou com delicadeza. — A senhora está me envergonhando na frente da Sarah — brincou e por isso teve sua orelha puxada. — Aí!

Dona Rita deixou o neto massageando o local onde fora antigido pela punição e com a menção do meu nome, ela encontrou um novo alvo para as suas excessivas demonstrações de afeto.

— Oh, Sarah! Há quanto tempo não nos vemos.— Ela acariciou meus cabelos maternalmente. — Está tão bonita, não concorda Victor?

Lancei um olhar inquisitivo em direção ao rapaz e o vi sorrir embaraçado.

— Linda — ele murmurou e eu corei.

— Você está bem, querida? A viagem foi tranquila? Está com fome? Eu nem acredito que aceitou meu convite! — a senhora falou bem rápido, eu quase não pude acompanhá-la.

— Estou bem — respondi tímida e esbocei um leve sorriso. — E agradeço o convite. A senhora sempre me tratou com muita dignidade.

— Oh, querida! Sua doçura só me faz pensar em quanto me entristeci com a notícia do término abrupto entre você e o Victinho. — A mulher olhou para baixo e conseguiu me deixar desconfortável com aquele comentário. —  Quando nos conhecemos e conversamos, eu gostei muito do seu jeito simples e tive grandes esperanças de ver meu neto se casar com uma moça de boa índole. — Mirou meu rosto e esboçou um um sorrisinho. — Posso estar agindo como uma insensata, mas ainda acredito em um grande recomeço.

Um tremor passou por minhas vértebras em resposta ao grande choque. Eu não sabia se deveria alertar dona Rita a não imitar meu exemplo e nutrir expectativas, ou deixá-la perceber por si mesma como nada além de amizade haveria entre o Vic e eu. 

Para o meu alívio, o rapaz de quem falávamos percebeu minha inquietação e tomou a prudente decisão de vir ao nosso encontro.

— Vovó, a senhora não quer conhecer sua primeira bisneta? — Victor sondou e aproximou-se ainda mais de nós duas após retirar a bebê do bebê-conforto. — Essa é Maria Isabel.

Ao colocar os olhos sobre a ovelhinha, a bisa tomou um grande susto e segurou o ar por alguns instantes enquanto deu alguns passos em direção ao neto, com extrema cautela.

— Ela é linda, não é? É tão esperta também — comentou Victor com o peito estufado de tanto orgulho pela cria. — Eu ganhei um tesouro incalculável.

Dona Rita pareceu a beira das lágrimas quando virou-se brevemente em minha direção.

— Posso pegá-la, querida? — ela pediu minha autorização e eu achei isso muito respeitoso da parte dela.

Pensei um pouco, olhei para Mabel com incerteza e quando percebi Victor me instruindo a conceder o pedido de sua avó, eu acabei concordando.

A senhora estremeceu no momento em que a pequenina foi para o seu colo e a abraçou com força. Mabel reclamou e ameaçou chorar, mas foi só sentir a presença de seu pai por perto que logo voltou a sorrir. Enquanto isso, a mulher mais velha se permitiu emocionar com aquele encontro.

Adiantei alguns passos até ficar ao lado dos dois e sorri ao ouvir Victor narrar como Mabel era parecida com ele em muitos aspectos, aos quais eu precisei discordar em sua maioria.

— Sarah, você vai me perdoar, mas ela lembra muito ao Victinho quando tinha a mesma idade. As bochechas, o nariz, os lábios avantajados são iguaizinhos — observou a avó, causando em mim uma ponta de ciúmes materno. — Os olhos são muito parecidos com os seus, Sarah. Na verdade, eu vejo uma mistura perfeita.

Fiz uma mesura com a cabeça.

— Está dizendo isso para agradar a nós dois — brinquei e ela negou prontamente. — Ela é minha cara, pode admitir — vangloriei-me.

Ensina-me amarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora