ATO I

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Eduardo sempre teve alguns medos irracionais que o travavam. Como seu medo do escuro que sempre que é deixado em casa sozinho tem seu corpo paralisado por inteiro e não consegue sair do seu quarto.

Sua imaginação muito fértil, sempre prega peças a si mesmo e seu coração acelera só de imaginar o que possivelmente pode lhe acontecer se for banhado pela escuridão da noite. Imagina monstros, assassinos, assaltantes e seres mascarados de todos os tipos, como se serial killers se escondessem nas sombras dos moveis velhos daquela casa de seus avôs, apenas esperando o momento certo de mata-lo sem deixar rastros. E quando seus avôs voltassem, nem sentiriam falta do menino que vivia trancado no quarto.

Infelizmente, para ele, não poderia viver para sempre trancado naquele quarto. Não, Eduardo tinha que sair para estudar e, possivelmente, fazer amizades. Mesmo que no fundo achasse uma perda de tempo conhecer pessoas novas, pois sabia que em algum momento todos iriam o abandonar, se esforçava, principalmente naquele primeiro contato. Sempre tenta se mostrar uma pessoa mais interessante do que realmente é. Eduardo tinha o terrível costume de contar piadas, uma atrás da outra. Pelo menos, nisso ele realmente era bom e sempre conseguia fazer os outros rirem.

É uma pena que naquele momento, ele estava sozinho. Sem ninguém para fazer rir. Andando pela rua já em um horário perto de escurecer. Estava saindo da casa de uma amiga, onde eles fizeram uma festa, e andava de volta para casa. Sozinho.

Ele sabia que antes que conseguisse chegar em casa tudo já estaria escuro e todas as lojas fechadas. Ele estaria ali sem proteção, sem amigos e sem família.

Decidiu acelerar seus passos e começou a suar, mesmo que um vento frio batesse de frente ao seu rosto. Precisava ir mais rápido, precisava chegar em casa.

Mas não tinha mais tempo, já escureceu e ele ainda estava na metade do caminho. Resolveu parar de andar a passos rápidos, pois e se precisasse fugir? Como iria conseguir sem folego algum? Precisava se preparar para qualquer tipo de terror eminente.

Algo iria acontecer. Sua mente sabia disso e estava em completo alerta.

Mas o que? Quando? Não sabia, e seu coração continuava a palpitar forte e sem parar com o nervosíssimo e as ideias que preenchiam o vazio de sua mente.

A escuridão o engoliu por completo e agora não tinha mais o que fazer. 






Perto da casa de Eduardo existe uma loja de pneus da michelin e ele sempre que passava por lá, desde seus 6 anos, encarava aquele boneco gigante e se perguntava:

"O que ele está pensando? " Mas não conseguia saber, apenas via aquele sorriso e tinha medo de imaginar.

Imaginava o que nunca poderia acontecer, do boneco ganhar vida e destruir o telhado da casa, esmagando seus avôs na sua frente. Sem poder fazer nada só ficaria ali paralisando encarando o que sobrasse dos corpos deles. Olharia pro alto e veria o rosto daquele boneco gigante, sorrindo para ele. A luz da lua ofuscaria a mão do boneco que viria na direção de seu corpo e o levaria até a boca.

Ali naquele momento é que ele acordava, suando e sem conseguir respirar.

Foi com aquele pesadelo que lhe foi apresentado algo que de tempos em tempos viria assombrar ele, não só na sua mente, os ataques de pânico. Recorrentes com o passar do tempo.

Mas era apenas um sonho idiota.

Quem tem medo de um boneco feito pra vender pneus? 







Já estava chegando em casa, já tendo sobrevivido encontrões com pessoas que não conhecia. Um carro que parecia seguir ele para todos os cantos. E um homem encapuzado do outro lado da rua.

Eduardo já estava com a chave de casa na mão quando viu aquele boneco gigante. A escuridão da noite deixava aquele boneco ainda mais assustador. O menino travou da cabeça aos pés e não sabia como se mexer.

Podia sentir o metal da chave em seus dedos, mas sua mente não queria o permitir nem se mover pra ir correndo pra porta de casa. Talvez a melhor opção seria ficar ali, até sua respiração voltar ao normal e poder ir para a casa.

E se fosse? E se chegasse em casa e o boneco ganhasse vida para matar todos ali. Não, não poderia. Iria permanecer ali, encarando o bicho enorme nem que tivesse que ficar ali até amanhecer.

Não iria se perdoar se fosse para a casa e esse boneco ganhasse vida apenas para matar as pessoas que ainda se importavam com ele.

"Isso é idiotice."

"Nem o pior filme de terror daria a vida um boneco gigante e..."

--Eduardo? O que você tá fazendo ai fora meu filho? – seu avô perguntou.

Os pássaros cantavam e já era de manhã. Seu avô recolhia o jornal do chão.

--Eu...

--Eu fiquei preocupado com você. – Seu avô foi até ele para puxar sua mão até dentro de casa. – Vem, depois você me conta o que fez essa noite. Precisa dormir.


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⏰ Última atualização: Sep 01, 2019 ⏰

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