Dezenove: Ciúmes

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Eu estava seguindo para o lugar da reunião marcada por Amanda quando passei pela antessala e reconheci duas vozes muito familiares soando da varanda. Quando me aproximei da entrada principal do casarão, acabei ouvindo um pedaço de uma conversa tensa entre Josué e Victor. Dei mais um passo a frente, apoiei uma das mãos nas vigas da porta e estiquei meus pés na tentativa de espiar sem ser notada.

Contemplei Josué de pé, com a postura rígida como uma pedra, expressão séria e as mãos paradas em sua cintura. Ele estava diante de Victor que também se mostrava tenso com seus braços cruzados no peitoral e uma das mãos apoiadas no queixo. 

— Não, eu te dou minha palavra, irmão. Por que eu faria uma coisa dessas? —  Coelho dizia, enquanto balançava a cabeça negando, com indignação, algo dito anteriormente pelo médico a sua frente.

Victor soltou uma risada forçada, se adiantou até o amigo e apontou o indicador para o peito dele. Nenhum dos dois parecia feliz com a conversa.

— Eu não sei, por isso estou te perguntando. Preciso compreender bem a situação e saber se estou lidando com um amigo ou um traidor — completou a sentença entredentes, cerrando o punho.

As palavras de Victor me intrigaram muito e eu só não cedi a curiosidade de ir perguntar o que estava acontecendo entre os dois naquele instante, porque queria ouvir um pouco mais.

— O soco do irmão da Sarah deve ter afetado sua inteligência, só pode — Josué  manteve-se firme em sua posição, e apesar de irritado, logo seus ombros relaxaram e seu semblante se entristeceu.  — Mas se não quer acreditar em mim, fique aí com sua paranóia — ele estava prestes a sair de cena, e para não pagar de xereta, eu resolvi me aproximar deles. Logo que coloquei meus pés na varanda, fui recebida com olhares aflitos da parte dos dois. — Oi Sarah. Está aí faz tempo? — Josué forçou um sorriso ao me ver e estranhamente recuou.

— Não, cheguei agora pouco — respondi, revezando olhares confusos entre os homens parados e tensos a minha frente. — Por que vocês estão com essas caras?

Josué franziu a testa, colocou as mãos no bolso da calça jeans e encarou o amigo.

— Vamos, conte a ela, doutor Victor — desafiou com um pouco de escárnio na voz.

Victor fuzilou o amigo com os olhos e aquilo me surpreendeu sobremaneira. Ele então tomou ar, e pareceu procurar na mente alguma resposta convincente.

— Apenas problemas corriqueiros de homens — ele respondeu, sendo até um pouco frio comigo.

— Vocês não pretendem partir para agressão, não é? — sondei, pois o comportamento estranho deles, aliado aos punhos cerrados e a postura defensiva sugeriam que ambos estavam prestes a entrar num ringue a qualquer instante.

— Não se preocupe, Sarinha. Ninguém aqui vai perder a calma a esse ponto — garantiu Coelho e para atestar sua palavra e amizade, ele transpassou com um de seus braços, os ombros do rapaz ao seu lado, dando-lhe um abraço lateral. — Afinal não queremos dar mau testemunho, principalmente para as crianças. Certo Victor?

— Sim, é claro, amigo — Victor deu ênfase fora do normal a última palavra e desferindo leves batidinhas na mão de Josué, se afastou e veio em minha direção e tocou a cabeça da bebê apoiada em meu ombro. — Por que trouxe Mabel para cá?

— Eu não queria deixá-la sozinha lá em cima — informei, podendo respirar com mais calma ao ver Victor relaxando os musculos e voltando a razão. — Ela deve acordar daqui a pouco.

— Posso ficar com ela agora? — Pude notar a raiva esvaindo dos olhos de Victor, dando lugar a chateação. Mais um pouco atrás observei Coelho, tão miserável quanto e temi ver amizade dos dois acabar.

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