Dezenove: Ciúmes

Start from the beginning
                                    

Sacudi a cabeça, sem conseguir acreditar em meus próprios ouvidos.

— Esse é o motivo de toda a sua raiva para comigo nos últimos dias, Luana? — perguntei baixo, ainda chocada com o ressentimento dela. — Porque eu estou confiando em meu antigo amor ao invés de dar uma chance para um novo?

Ela deu de ombros, voltou suas energias para o filho e quis mostrar uma indiferença que só durou alguns minutos, pois depois de algum tempo, a garota se aproximou e tocou meu ombro.

— Sou sua amiga e não quero vê-la sofrendo ainda mais — disse e eu reparei nas lágrimas transbordando as órbitas dos olhos dela.

Arfei, deixando claro o meu cansaço com aquele assunto.

— Tudo bem, Lu. Você pode até estar certa, mas eu sei muito bem quem era o Victor de dois anos atrás. Ele é uma pessoa completamente diferente agora — justiquei meus atos. — Ainda não confio nele cem por cento, mas conheço bem o poder de Cristo para mudar a vida de uma pessoa. 

Com o dorso da mão, ela enxugou uma lágrima sorrateira e concluí que talvez toda aquela implicância estava mais relacionada com a própria Luana do que comigo.

— Existem lobos vestidos em pele de cordeiro misturados ao povo de Deus. Eu não me deixaria enganar — advertiu, sem fazer questão de evidenciar sua intolerância com o doutor.

Assenti com a cabeça e só acabei concordando porque, sinceramente, eu não queria mais discutir.

— Quer saber? Mabel já aproveitou bastante desse passeio ao parquinho e está na hora de voltarmos para casa. — Levantei-me do gramado e comecei a organizar os itens de Mabel novamente na bolsa.

Esperei até Luana estar pronta para retornar comigo ao instituto, mas quando  ela guardou todos os pertences de Arthur, não pensou duas vezes antes de sair andando empurrando o carrinho o mais rápido possível a fim de colocar uma distância considerável entre nós.

Fiquei de coração apertado com aquela situação, mas não podia fazer nada para mudar os preconceitos de Luana. Não era fácil pra mim precisar lidar com meus próprios dilemas acerca de Victor, imagine convencer outras pessoas quanto a veracidade de sua mudança de caráter.
Acabei respeitando o espaço e o momento de ira da moça e aproveitei o silêncio durante o caminho para ninar a bebê exausta de suas atividades hiper-energéticas.

O parque não ficava tão longe, por isso não demoramos muito tempo até estarmos de volta ao casarão. Ao chegarmos, com o tempo livre, eu fui direto para o meu quarto acomodar Mabel, mergulhada em seu sono profundo, ao meu lado na cama. Demorei mais tempo no cômodo, me beneficiando da tranquilidade para meditar na palavra do Senhor e me alimentar espiritualmente. Ao findar o devocional, orei e sem prever meu próprio cansaço acabei pegando no sono, agarrada a minha filha e acordei somente no finzinho da tarde, início da noite.

— Eu sei, mãe, mas eu não posso mais adiar a conversa com as meninas. O bazar beneficente é daqui duas semanas. Chame a Sarah, por favor — a voz de Amanda foi a responsável por me despertar.

Sentei na cama devagar para não acordar Mabel. Desnorteada, eu massageei meu pescoço dolorido devido ao fato ao pouco espaço na cama.

— Já estou indo — murmurei sonolenta enquanto ainda ouvia o burburinho das duas mulheres a uma parede de distância de mim.

— Viu só? Sarah leu nossos pensamentos — dona Socorro brincou. — Estamos na sala de TV, querida.

Balbuciei um "ok" e mesmo zonza, perdi algum tempo admirando como minha ovelhinha ficava linda dormindo tão tranquilamente. Com dó, preferi não acordá-la mesmo sabendo do risco dela perder o sono durante a noite e querer me alugar. Tomei-a em meu colo com cuidado e logo após saí do quarto, fechei a porta cautelosamente desci as escadas.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now