Aleph.

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Subindo os degraus daquela escada entalhada em pedras coloridas, pela primeira vez em dias reparei no sol.

Reparei como ele planava alegremente, em como era lindo, como me invadia de esperança. Respirei-o com toda a voracidade que meus pulmões me permitam, parando no quarto degrau, deixando também que ele me queimasse levemente a pele.

Percebi que também além de lindo, era um tanto zombeteiro. Ele sorria, ria... Só não consegui distinguir se era para mim, ou de mim.

Ou ainda talvez fosse só a minha imaginação fértil, com suas engrenagens em pleno movimento.

Rapidamente da mesma forma que a esperança veio, o cansaço surgiu; fazendo-me sentir subitamente esgotada.

Olhei para o céu. Eu não deveria estar naquela igreja.

Eu sei, eu sei, era o casamento do meu irmão com a minha melhor amiga. Hermione estava tão linda, Oh Merlin. Cabelos enlaçados num coque alto, presos em um enfeite de borboleta; totalmente exuberante em seu vestido branco... Mas nada se comparava à sua expressão, olhando a de meu irmão. Acho que nunca havia visto Ronald com as bochechas tão rosadas de satisfação, orgulho e... Amor.

Até pensar nesta palavra – se é que eu posso minimamente caracterizá-la assim – me doía.

Continuei subindo os degraus, parando na porta da igreja. Como praticamente era costume meu, cheguei atrasada. A cerimônia já havia se iniciado. Fui andando, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Enquanto andava, tentei me concentrar nos meus próprios pés revestidos por um par de escarpam pretos, mas os meus malditos olhos são inúteis.

Eles buscam, buscava e pelo que sei buscarão pela eternidade ele, se para a eternidade ele estiver lá.

Vai ser sempre o dono dos meus olhos.

E se por ventura eles algum dia não estiverem lá, se não houver aqueles olhos claros, brilhantes, com aquela luz intensa, capaz de iluminar os quarteirões escuros e vagos do meu coração, será como tentar pisar no chão do mar.

Então, meus parabéns olhos, vocês conseguiram o que desejavam.

Os olhos de Harry Potter.

Estaba tan cansada

De sólo dar passos atrás

De tratar de olvidarte y de pensarte

Lo que me sigue és escapar

Estava ali, ereto, numa seriedade risonha, observando o casal em matrimônio, como se o tempo todo soubesse que aqueles dois iriam ficar juntos para sempre.

E os meus olhos vibraram ao vê-lo.

E, de repente senti vidros microscópicos invadindo minha íris e indo diretamente para a córnea, fazendo de meus olhos brotarem lágrimas aprisionadas há quase três anos.

Assim que meus olhos começaram a protestar contra a libertação de meu choro, meu coração resolveu descontrolar-se também, se debatendo no peito, e o enorme barulho que ele causava deve ter chamado a atenção dele. Ainda parado com suas mãos prendendo os braços timidamente às costas, vi seu rosto mudar de sereno para surpreso e depois para desconcerto. Tudo ao mesmo tempo.

Eu obriguei meus olhos a me obedecerem, baixei-os e dei meia-volta, saindo da igreja.

Abrindo-os já fora, notei que as lágrimas haviam sido aprisionadas novamente, como se nunca tivessem tido vontade de libertarem-se de mim. Não sei como consegui esta proeza, mas havia conseguido.

Aleph | harry potter × ginny weasleyWhere stories live. Discover now