Meu celular vibra em meu bolso, e vejo que é Gael. Havia ligado para ele rapidamente e mandado ele avisar a Diego, um amigo policial sobre o ocorrido e sobre o corpo inconsciente que deveria ser levado a delegacia. Gael me confirma que o sujeito foi apreendido, mas que precisam do depoimento de Júpiter, caso contrário ele teria que ser solto. Xingo mentalmente e observo as duas amigas mais uma vez, ainda abraçadas, mas agora calmas. Me sinto um cretino por me intrometer mas quero que esse dia acabe o mais rápido possível para Júpiter.

- Meninas, - eu chamo, recebendo dois pares de olhos inchados em minha direção. – desculpe ter atrapalhado, mas Gael está na delegacia com o... – eu engulo a seco, tentando controlar a raiva – sujeito, e precisamos do seu depoimento, Júpiter. – Eu digo e ela se encolhe. – Eu sinto muito, e a escolha é sua, mas as autoridades terão que... – engasgo – soltá-lo, se não houver nenhuma acusação. – explico, vendo os olhos de Júpiter encherem de água mais uma vez. Caminho até ela e me abaixo em seu campo de visão. Tomo sua mão na minha e deposito um beijo simples em sua pele fria, tendo consciência de Luísa observando cada movimento meu. – A escolha é sua. Você pode esquecer, descansar hoje e seguir em frente, ou colocar o filho da puta atrás das grades e acabar com o sofrimento de muitas mulheres que poderiam passar exatamente pelo mesmo que você passou. – eu declaro, a olhando nos olhos. E pelo brilho de fúria que recebo de volta, sei que ela sabe o que fazer. Meu coração quase perde uma batida quando ela puxa nossas mãos unidas até seus lábios e repete o meu gesto, beijando meus dedos com suavidade.

- Vamos para a delegacia. – Ela diz, com a voz mais firme.

- Eu trouxe uma muda de roupas para você. – Luísa fala, finalmente. Júpiter concorda com a cabeça e saio do quarto para dar privacidade as duas.

Em vinte minutos, estamos estacionando na delegacia.

Vejo o carro de Gael e abro a porta para Júpiter sair. Ela e Luísa andam de braços dados e Luísa tem uma expressão tão feroz de proteção em seu rosto que ela conquista meu respeito e admiração em segundos.

Assim que entramos, Gael que está concentrado em seu telefone, leva os olhos até nós três e caminha em nossa direção. Seus olhos varrem o rosto de Júpiter e seus olhos escurecem de ódio.

- Oi, Júpiter. – Ele diz, suavemente.

- Oi. – Ela responde, em tom baixo. Está claramente desconfortável.

- Eu sinto muito por tudo que aconteceu. – Ele diz, segurando a mão dela.

- Obrigada. – Ela responde simplesmente, se apoiando mais em Luísa. O movimento parece atrair a atenção de Gael a outra mulher e seus olhos o traem. Ele parece afetado pela beleza da mulher e se a situação a nossa volta não fosse tão caótica, eu teria rido.

- Oi, nós ainda não nos conhecemos, - ele diz, estendendo a mão para Luísa. – Eu sou Gael.

- Luísa. – Ela diz, apertando a mão dele com precisão e rapidez e voltando a abraçar Júpiter. Gael continua encarando a moça por alguns segundos antes de finalmente voltar a realidade.

- Diego já está esperando. – Ele diz, sucinto. Concordo com a cabeça. Seguimos todos por um corredor inócuo e silencioso e entramos em uma sala pequena onde Diego nos espera com um escrivão.

- Boa noite. – Ele diz. Ele veste a roupa de sempre, calça e blusa preta e percebo que ele está mais forte do que a última vez que nos vimos, o cabelo mais curto. – Eu sou o Diego e estarei cuidando do seu caso, Júpiter. – declara, apertando a mão de Júpiter e Luísa em seguida. – Eu sei que você só deve estar querendo descansar e ir pra casa então vamos começar de uma vez para que esse dia possa acabar. – Ele fala, sério. Luísa semicerra os olhos na direção de Diego e ele a encara sem emoção. – Eu posso falar com a Júpiter sozinho? – Ele pergunta, encarando Júpiter que se manteve em silêncio esse tempo inteiro.

- Não. – Luísa fala com o tom maciço. – Ela não vai ficar sozinha.

- De fato, já que eu estarei na sala e o escrivão também. – Diego rebate, com os olhos frios.

- Grande diferença. – Luísa diz, trazendo Júpiter para mais perto de si e pela primeira vez em anos eu vejo os olhos de Diego faiscarem.

- Você vai me deixar fazer meu trabalho e ajudar de fato a sua amiga ou vai continuar me desafiando? – Ele pergunta, com seu tom ácido.

- Diego, qual é a porra do seu problema? – Eu pergunto, o encarando. Ele está mais mal humorado do que de costume e Júpiter parece que vai quebrar a qualquer momento. Minha paciência está no limite. – Está todo mundo no limite do estresse, você poderia por favor deixar Luísa acompanhar Júpiter? – Eu pergunto. – Elas vão se sentir mais confortáveis dessa forma. Diego continua encarando Luísa numa batalha férrea. Ele finalmente me encara de volta e concorda minimamente com a cabeça.

- Pode se sentar, Júpiter. – Ele diz. Júpiter se senta e Luísa mantém as mãos sob seus ombros. – Vocês podem ficar também, já que estamos quebrando padrões. – Ele diz ironicamente encarando Luísa. Júpiter leva a mão até a mão de Luísa em se ombro e a aperta levemente e tenho certeza que é um aviso para a amiga não rebater. Luísa respira fundo e deposita um beijo na cabeça de Jupiter. Elas tem uma amizade muito bonita e me sinto grato por Júpiter ter alguém que a proteja dessa forma.

- Eu preciso que você me explique tudo que aconteceu. – Ele fala. Júpiter respira fundo e começa a narrar toda a situação. Ela passa dez minutos falando e quando sua voz começa a embargar e travar, Diego a interrompe. Eu aperto tanto meus punhos que Gael me encara e manda eu respirar, movimentando os lábios.

- Está ótimo, Júpiter. – Diego fala. – Eu sinto muito por tudo que aconteceu. Sua ação vai salvar muitas pessoas. – Ele garante, se levantando. – Agora é a parte mais difícil. – Diego explica, com pesar. – Eu vou precisar que você identifique o acusado. – Júpiter funga, mas concorda com a cabeça. – Por aqui. – Ele fala, saindo da sala, enquanto o seguimos. Júpiter segue com Luísa e nossos olhos se encontram. Ela me encara por alguns segundos, incerta e eu concordo com a cabeça a incentivando, querendo dizer mil coisas, mas me mantendo em silencio.

Entramos em uma sala com uma janela gigante e sei que quem está do outro lado não consegue nos ver. Diego faz um sinal com a cabeça assim que nos posicionamos, e então dois policias entram segurando ou arrastando um sujeito maltrapilho que tem o rosto destruído. Destruído por minhas mãos. 

É o desgraçado que abusou de Júpiter. Luísa conversa baixinho com Diego e não percebe a comoção de Júpiter que arfa alto e dá um passo pra trás, batendo as costas em meu peito. Ela se vira rapidamente e afunda o rosto em minha camisa. Circulo seu corpo com meus braços e a aperto firmemente. Os olhos de Diego me alcançam e confirmo com a cabeça. Ele concorda e indica a porta, nos liberando para sair.

Levo Júpiter para fora, que chora baixinho e Luísa sussurra para que eu fique com ela enquanto ela dá todas as informações de Júpiter. Concordo com a cabeça, mantendo Júpiter bem próxima a mim. Quando Luísa se afasta vou para o carro com Júpiter e sento no banco de trás com ela.

- Eu sinto muito, Júpiter. – Eu falo, acariciando seu cabelo ainda molhado. – Eu sinto tanto, linda...

- Eu nunca deveria ter saído sozinha... – Ela chora. – Thomas tinha me dito para não fazer isso, que eu deveria chamá-lo... – Ela continua, seu coração completamente partido.

- Linda, para de pensar nisso, agora não adianta mais chorar pelo que poderia ter acontecido. – eu digo, carinhosamente.

- Tenho que falar com minha mãe e com Thomas, ela diz e eu concordo com a cabeça, entregando sua bolsa. Ela alcança seu celular e disca rapidamente o número da mãe e assim que a mãe atende ela começa a chorar de novo. Mantenho minha mão sobre sua coxa, num carinho encorajador, enquanto ela conta para mãe de tudo que aconteceu. Elas conversam por dez minutos e em seguida ela liga para o agora conhecido, Thomas. Eu posso ver que ele está alterado porque quase posso ouvir sua voz alta através do telefone. Júpiter concorda e diz que já vai estar em casa e ele pode encontra-la lá com sua mãe e Luísa. Não me permito sentir ciúme, ela precisa de o máximo de pessoas possíveis lhe dando apoio no momento. Ela desliga e se acomoda em meu peito de novo.

- Obrigada por tudo, Dominic. Por ter me protegido. – Ela diz baixinho e a aperto contra mim, querendo protegê-la de tudo.

- Sempre. – Eu garanto.

- Sempre. – Ela responde, calidamente e então o silencio nos abraça.  

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOWhere stories live. Discover now