— Sabe, filha, hoje você vai conhecer seu pai. — Respirei um pouco para amenizar meus sentimentos ao dizer aquela palavra de peso tão grande pra mim. — Bem, ele não viu o seu nascimento, nem esteve presente quando te segurei em meus braços e você sorriu pela primeira vez, e muito menos acompanhou seu crescimento até aqui, porém, talvez ainda dê tempo de recuperar.  — Beijei a testa dela enquanto ela me olhava e balançava seus bracinhos gordos em direção ao meu rosto. — Você tem sorte de não entender uma palavra do que eu digo.

Eu me arrumei, atendi aos pedidos de Mabel para alimentá-la e estava prestes a sair do quarto quando comecei a sentir um medo incapacitante. Toda aquela ideia era uma loucura gigantesca e só de pensar em como eu podia estar colocando minha filha em perigo, o arrependimento de ter concordado em apresentar Mabel a Victor começava a bater e minha mente fazia questão de lembrar os erros cometidos pelo meu ex-namorado.

"Victor me abandonou grávida e pode muito bem entrar na vida de Mabel apenas para deixá-la em seguida" pensei, sentindo até mesmo a respiração falhar.

— Ah, Senhor, eu não posso fazer isso. Não posso correr o risco novamente — declarei e voltei para o meu refúgio seguro trancando a porta. — Estamos bem sem ele, ovelhinha. Você não precisa dele — falei para Mabel após sentar-me com ela sobre a cama. — Você têm a mim, as moças do Instituto, o Senhor.

Minha consciência me acusava de ser uma covarde, mas eu preferia ser culpada pela falta de coragem a colocar tudo a perder e precisar fugir mais uma vez em prol da segurança de minha bebê. Todas aquelas emoções foram demais para mim, por isso, eu cedi ao choro enquanto abraçava e acalentava Mabel com toda a força. 

Algumas batidas na porta foram suficientes para me desestabilizar ainda mais. — Sarah? Você não vai descer? Josué está te chamando — era a voz de Luana.

— E-eu já vou — respondi com a voz falha. 

— Você está bem? — ela questionou. — Quer companhia?

— Estou. Só preciso de alguns minutos — eu disse e em seguida despachei Luana prometendo já descer em seguida.

Não havia outra solução. Eu precisava ser forte para encarar aquela situação, do contrário ela só pioraria cada vez mais. Imaginei como seria terrível se eu me negasse a encontrar Victor por muito tempo. Ele poderia se irritar e tentar tirar minha filha de mim e isso eu precisava evitar a todo custo.

Com as pernas bambeando, eu levantei e antes de sair fiz uma oração, entregando tudo ao Senhor.

Desci as escadas com a bebê em meus braços e procurei por Victor por ali, mas somente encontrei Coelho conversando com dona Sô perto da entrada da sala.

Aproximei-me deles e cumprimentei a Josué sem demonstrar muita animação com a presença dele ali.

— Sarah, é bom revê-la — gracejou Josué e ao vê-lo, Maria Isabel se esticou toda a fim de ir para os braços do seu mais novo tio tão querido e bastou pouco segundos para a pequena gargalhar das gracinhas feitas por ele. — Bom dia pra você também, menina.

— Ela acabou de mamar, eu não a balançaria muito — repeti o conselho do dia anterior, achando impressionante como Mabel se dava bem com o sobrinho de dona Sô.

— Essa menina só come! Como pode tanta comida caber em um ser tão pequenininho? — ele fez graça e começou a brincar fazendo cócegas na barriguinha da bebê.

— Você leva muito jeito com ela, Coelho. Parece até ter talento natural pra isso — comentei desfrutando daquele momento de descontração, mas isso não durou muito.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now