Olá, garoto do espaço!

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Voltava para casa e apesar de ter sido seu ultimo dia de aula antes das férias, ficou duas horas a mais de castigo por ter brigado com um colega. Mas ele não devia ter ofendido a memória de sua mãe. Estava com 14 e há quase 08 anos sua mãe falecera em decorrência de um câncer extremamente agressivo. Então ele passou a viver com o pai, que após alguns meses de viuvez, arranjou outra mulher.

A vida não era simples. Estudava durante a manhã e a tarde ajudava no mercadinho do pai, sempre sendo repreendido e diminuído pela madrasta a todo o momento. A coisa que mais gostava era aquele trajeto da escola até em casa, pois pelo fato de morarem na área rural, não havia quase nenhum transito, com exceção de alguns carros de boi que passavam de vez em quando. E ele podia assim apreciar a paisagem e espairecer dos problemas que o esperavam quando chegasse.

O céu estava começando a escurecer e as primeiras estrelas já davam sinais de vida, foi quando ele viu um clarão, como o de uma estrela cadente, cortar o céu e cair no meio da plantação de café da família Silveira. Em seguida ouviu um estrondo surdo que fez seus ouvidos doerem. Olhou para os dois lados da estrada, não havia ninguém. Resolveu pular a cerca para ver o que foi aquilo, sua curiosidade era tanta que mal conseguia se conter.

A cada passo que dava em direção ao cafezal, seu coração respondia com uma pulsada nervosa. Passou a mão pelos cabelos castanhos e cacheados em um tique-nervoso enquanto se forçava a continuar andando. Conforme foi se aproximando do meio da plantação, notou que uma fumaça de cor estranha, um verde escuro que em alguns momentos beirava o preto, subia em espiral para o céu. O cheiro era insuportável, como enxofre e ácido sulfúrico. Podia assimilar os odores, pois já os havia estudado nas aulas de química.

Foi se embrenhando no meio dos pés de café até chegar a uma clareira, causada pelo objeto que pensou ser um meteorito, mas ao se aproximar, constatou se tratar de algo bem diferente. Maior e mais elaborado.

Completamente cromado, com um formato oval, sem portas ou janelas e sobre um par de pés semelhantes aos dos helicópteros, estava à coisa que caíra do céu, a qual emitia um ressonar metálico. Pensou em dar meia volta e ir para casa, mesmo que ninguém acreditasse na sua história, pelo menos lá estaria seguro. Chegou a fazer menção de se virar, quando ouviu uma voz fraca e ofegante dentro de sua cabeça, falando com ele.

"Coloque sua mão na frente... Para abrir... Por favor..."

Pensou que estava enlouquecendo, talvez fosse efeito colateral dos pesticidas utilizados no cafezal ou talvez... Mas aconteceu algo que lhe deu calafrios e o fez obedecer de pronto o pedido anterior. A mesma voz repetiu a frase com o acréscimo de seu nome no final.

"... Por favor, Cláudio."

Lentamente levou a mão até o que julgava ser a frente daquela coisa e encostou a palma contra a superfície, ouvindo uma liberação de vácuo para logo em seguida os contornos de uma porta, que logo se abriu, se formaram. E então um clarão tomou conta do lugar, e por instinto, Cláudio cobriu os olhos.

Aos poucos uma forma sólida começou a surgir cobrindo a luz o suficiente para que o jovem pudesse olhar. Milhares de coisas passaram por sua cabeça, até que o ser que saia de repente cambaleou e caiu inconsciente em cima de Cláudio, o qual o amparou da melhor forma possível.

Em seus braços estava uma criatura pálida, sem qualquer pelo ou cabelos e apesar de ter uma aparência de menino, pode notar, já que o ser estava nu, que o mesmo era assexuado. Tanto braços quanto pernas eram delicados e de aparência quebradiça. A única parte da criatura que tinha alguma coloração eram os lábios, róseos e visualmente macios.

Tentado por sentir a maciez daquele local, Cláudio deslizou delicadamente o polegar por sobre a pele morna e suave dos lábios e como em uma reação de reflexo, o ser em seus braços abriu os olhos. Duas pupilas totalmente negras que pareciam absorvê-lo o encararam fixamente para em seguida um sorriso pálido de agradecimento surgir no rosto do ser.

Olá, garoto do espaçoWhere stories live. Discover now