PARALELOS

4

— Senhor, os testes continuam inconclusivos. A enzima catalisadora está instável. Quanto maior o corpo a ser transportado, maior a margem dos erros. Não há problemas para os roedores e cachorros, por exemplo. Todos tiveram sucesso no transporte. Porém, a algo no ser humano que... — calou-se.

— O ser humano é realmente incrível. — sorriu desajeitado. Suspirou. Bufou levando as mãos sobre seus olhos — Doutora Jane Takahashi, vá para casa. Descanse. Finalizarei mais alguns testes e já vou também.

A doutora de corpo volumoso e cabelos desgrenhados retirou suas luvas de nitrila. Estava cansava demais e realmente precisava descansar. — Não quer mais minha ajuda? Não precisa mais de mim? — sorriu.

— Eu sempre quero sua ajuda. Este projeto é nosso. Desde a ideia na faculdade até hoje, você sempre esteve ao meu lado. — retribuiu sorrindo em seu bigode felpudo.

— Eleonor foi uma mulher de sorte mesmo. O senhor é sensacional. Ela teve sorte que meu gosto é outro senão você seria meu. — gargalhou alto relembrando as festas dos velhos tempos em que saíam juntos a procura de novas calouras.

— Ela foi uma pessoa fantástica mesmo. Sinto falta dela. Mas, sabemos que breve a verei novamente. — fechou os olhos inspirado com o que havia dito.

— Em breve nos reencontraremos. Bem, eu já me vou. Não esquece de trocar o soro. Hoje realmente estou mais cansada. — disse apontando para o franco colorido. — Bom final de semana. Segunda nos vemos Alt.

— Até amanhã Taka. — piscou ao ouvir os apelidos.

Althon Frossard olhou para o relógio na parede do laboratório. "Já faz umas 3 horas que a Jane se foi." — esfregou os olhos — "A noite realmente será longa." — resmungou enquanto terminava de coar o café. Por fim, depositou o líquido negro em sua xícara e rapidamente levou até sua boca. Seu corpo suplicava por aquela temperatura e sabor. O gosto era forte. Exatamente como preferia.

O sujeito então recostou seus cotovelos no balcão de mármore da ala do refeitório e, após mais algumas goladas, bufou para si: "O soro AuKr280,765 está instável, mas funcional. Se aumentar a dose e aplicar no mesmo instante, aumentará a estimulação delta e ativará intrinsecamente o córtex." Althon, por fim, aproximou do misterioso tanque negro sustentando duas seringas em uma das mãos. A porta foi aberta. Sabia que no fim, seria ele o primeiro. O doutor olhou para o recinto gélido. "Odeio injeções." — resmungou momento antes de injetar em seu braço ambos os líquidos. Pobre coitado, por descuido, acabara esquecendo de trocar o soro e a absorção daquela solução em alta dose, destruiria completamente os cromossomos do seu corpo.

Tremores começaram a surgir minutos depois. As convulsões o fizeram perder o controle e a musculatura afrouxar-se. Alt imediatamente tomou e caiu. A dor era transcendental. Antes do seu campo de visão embaçar, notou sua pele queimar e algumas protuberâncias nos extremos dos braços surgir. Com extrema dificuldade, injetou sem controle barbitúrico afim de reduzir a taxa de metabolismo do tecido cerebral, assim como seu fluxo sanguíneo. É o que lhe restava para amenizar a dor. Sua vida estava esvaindo. Uma hemorragia deu-se iniciando asfixiando-o. Os órgãos começaram a falhar. Os danos neurológicos eram irreversíveis. Seu corpo, superaqueceu fazendo perder vinte litros de fluidos corporais instantaneamente, felizmente, já estava em coma induzido.

A doutora Jane Takahashi só foi encontrar, o corpo do amigo completamente irreconhecível, dias depois. Foi anunciado em dezenas de canais e jornais que Althon Frossard se matou. Tudo por conta de uma carta encontrada dizendo que encontraria sua falecida esposa naquela noite.