JOGOS VORAZES - POR OUTRO OLHAR

OS JOGOS

"Guerra, uma guerra terrível. Viúvas, órfãos, filhos sem mãe. Isso foi o que a revolta trouxe para a nossa Terra, 13 distritos se rebelaram contra o país que os alimentava, os amava e os protegia. Irmão contra irmão, até não sobrar nada. Então veio a paz, luta difícil, vitória lenta. O povo se reergueu das cinzas. Mas a liberdade tem seu preço, então, ficou decidido que cada um dos 12 distritos de Panem deveria ceder, todo ano, um garoto e uma garota como tributos para lutarem até a morte, numa demonstração de honra e sacrifício. O único vencedor seria banhado em riquezas, como demonstração de nossa generosidade de nossa clemencia. Esses jogos ficaram conhecidos como Jogos Vorazes".

"Todo ano a mesma coisa. " Digo para Parker.

Estamos ouvindo esse discurso tolo desde as 09h da manhã, agora beira as 14h. Eu e Parker temos 15 anos, ambos somos amigos desde o que? 5 anos. Nossos pais foram mortos numa explosão na mina de carvão do nosso distrito, o último, o 12, quando tínhamos 10 anos. Após o ato, a Capital mandou clemencia, e nos deu alguns poucos grãos que duraram algumas semanas. Em casa existe apenas eu e minha mãe, mas na de Parker, a coisa é diferente. Ele vive com avó, 3 irmãs e 1 irmão. Ele é o segundo irmão mais velho, o primeiro, com 19 anos, trabalha nas minas. Mas o trabalho não dá conta de alimentar tantas bocas, então, quando nossos pais morreram, nós tivemos que nos virar.

Eu sou alto, com cabelos loiros, mas não muito, olhos castanhos claro, que mudam de cor ao sol. Os anos caçando ilegalmente na floresta me proporcionaram um corpo atlético, forte o suficiente para esganar um animal, pernas ligeiramente rápidas para fugir dos predadores mais fortes que lá habitam. Parker é um pouco diferente, ele é mais baixo que eu, um pouco mais magro (pois ele não caça tanto tempo quanto eu, mas eu já vejo seu corpo tomando forma futuramente).

Nós estamos em cima de uma rocha, vendo o sol no seu ápice sob nossas cabeças.

"E se eu for escolhido? " Indaga Parker.

"Você não vai. ". Eu prontamente respondo.

"Mas e seu for? Quem cuidará da minha família, quem dará a eles comida todo dia? Eles não podem voltar a passar fome. "

"Eu os alimento, fique tranquilo. "

Temos intimidade o suficiente para ele confiar isso a mim, ele sabe que eu não preciso tanto, afinal, uma caça do dia na minha casa dura três, quatro, dependendo do que minha mãe cozinhar. Eu caço desde os meus seis anos, a gente sempre ia na floresta, ilegalmente, claro. Se os Pacificadores pegarem a gente, com sorte, somos transformados em Avox só. Porém, se tivermos com caça, provavelmente seriamos mortos. Caçar é ilegal, pois tudo é da Capital, e isso se configuraria roubo, tecnicamente.

Por sorte, por ser o último distrito, nós meio que vivemos sob nossas regras. Aqui, os Pacificadores compram nossas caças, nossas plantas comestíveis, enfim. Os Pacificadores também vão ao Hob, que é uma espécie de mercado negro. Lá você acha de tudo: fios dos mais variáveis, tecidos, comida, existe até um velho que vende animais. Eu, particularmente, vou no Hob apenas para negociar caça, e pegar pequenas coisas que minha mãe pede. Temendo que algo de mal acontecesse ao meu pai, ele me ensinou a caçar, técnicas de armadilhas e sobrevivência. Minha família tem uma espécie de caderno contendo as mais variáveis espécies de plantas, desde as venenosas, para fazer um potente dardo envenenador, até medicinais e comestíveis. Meu pai adicionou mais coisas a ela, técnicas de armadilhas, novas plantas comestíveis e como prepara-las. Existem uma parte em que ele ensina diversas maneiras de purificar uma água, usando apenas algumas bagas aquáticas. O livro ficou comigo depois de sua morte, eu sempre me vejo revezando ele, adicionando coisas novas, como onde achar determinado animal, como atrair uma caça. Tudo que eu aprendi obviamente eu devo ao meu pai, porém, eu me virei sozinho desde então.