— Então, você tem meu número, mande uma mensagem, tudo bem, Eliana? — ouvi um pedaço da conversa do médico com a mulher e revirei os olhos para as suas investidas baratas.

— Obrigada. Pelo visto, além de bonitão, você é muito generoso — agradeceu a mulher e piscou de um jeito sedutor, ignorando a minha presença nas proximidades. — Agora se me dá licença, preciso continuar meu trabalho.

A tal Eliana saiu e Victor enfim me notou plantada ali de braços cruzados observando tudo feito uma idiota.

— Glória a Deus, você veio — ele louvou e eu fui pega de surpresa por seu sorriso espontâneo e a gentileza em levantar-se e dar a volta na mesa, apenas para puxar a cadeira para mim. — Sente-se, por favor — pediu enquanto mantinha os olhos fixos em meus movimentos.

"Você ainda pode fugir" pensei e olhei para saída algumas vezes, antes de tomar a decisão de obedecer ao pedido do doutor e sentar-me na cadeira de madeira.

— Qual o problema com a Mabel? — perguntei aflita sem nem esperar ele voltar ao seu lugar.

— Bom dia pra você também. O céu está de um azul lindo nesta manhã, não acha? — Ele sorriu, sentou e pegou o cardápio apoiado sobre a mesa.

— Victor, não começa — pedi, me esforçando para não perder a calma logo de cara.

— Vai querer algo para comer? Eu pensei em um café para nós dois, mas um pão de queijo pra mim e pão com mortadela pra você. Não é nada sofisticado, mas se não estou errado é o seu sanduíche favorito, certo? — sondou como se o seu objetivo fosse simplesmente me irritar. — Vou chamar a Eli.

Bati com o punho na mesa e chamei a atenção do doutor. — Fale sobre minha filha ou eu vou embora daqui agora.

— Por falar em filha, você ficou ainda mais linda depois de ter se tornado mãe, sabia? — Victor elogiou, eu me irritei e não aguentei mais ficar ali. Levantei e estava decidida a ir embora quando o médico se esticou e segurou meu punho. — Desculpe, eu só estou ansioso. Não vou mais te enrolar.

Olhei para a mão dele envolta na minha e por uma razão desconhecida até por mim, decidi ficar e voltar para o meu lugar.

— Posso te contar algo antes? É muito importante — pediu com sinceridade.

Soltei o ar numa rajada pela boca. — Apenas desenvolva, eu não tenho muito tempo.

Victor assentiu e pareceu pensativo, sem saber por onde começar.  — Bem, eu não sei se você sabe, mas há quase um ano, meu pai sofreu um AVC. 

A notícia foi repentina, mas suficiente para me causar bastante desconforto. Eu sabia como Victor era extremamente ligado ao seu pai e fazia de tudo para agradar a ele, pelo menos era assim em nosso tempo de namoro.

— Sinto muito — balbuciei, sem entender a razão dele ter entrado no assunto.

— Sempre admirei o bem sucedido doutor Carlos Ferraz. Ele foi uma das razões pra eu ter escolhido a medicina — informou e eu descansei o cotovelo sobre a mesa aguardando ansiosamente Victor chegar em algum lugar com aquela história repetida. — Eu o imitava em tudo, queria ser sua réplica e até me declarei como ateu convicto por causa dele.

Franzi o cenho mostrando minha confusão. — Mas, você disse...

— Sim, foi mentira. Eu nunca fui cristão de verdade, fingia amar a Deus e os meus discursos religiosos eram apenas para te agradar — interrompeu-me e eu não pude julga-lo nesse sentido, pois eu também já fingi ser crente apenas para agradar e pagar de filha perfeita. — Nunca fui uma boa pessoa, Sarah.

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