KyungSoo

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“Eu não entendo como ele pode ser tão idiota.” Exclamei apontando meu refrigerante ameaçadoramente para tela. Jongin riu ao meu lado e disse:

“Eu já disse KyungSoo. Se ele não saísse de casa não teria filme.”

“Mas isso é totalmente falso.” Eu olhei para meu colo. “Minha pipoca acabou. Vou fazer mais. Quando os zumbis ganharem no final, me chame.” Ouvi Jongin gargalhar. “Você fala de mim, mas rir de filmes de terror é um desrespeito muito maior.”

“Você que está me fazendo rir, não o filme.” Jongin respondeu.

Era domingo de tarde e eu tinha pedido para ver um filme de terror na televisão dele. Era apenas uma desculpa vergonhosa para ficar com ele, mas Jongin não pareceu se importar. Não me lembrava muito bem de como a noite anterior havia acabado. Alguns flashes de memória fazia com que eu lembrasse de estar nos braços de Jongin, depois no carro e depois na cama. Eu tenho uma vaga lembrança de pedir pra ele dormir comigo, mas hoje de manhã acordei sozinho, então devo ter imaginado mesmo.

“Se eu visse um zumbi,” comecei dizendo “a primeira coisa que eu ia fazer seria tentar mata-lo. O cara ficou tentando chamar o morto. Óbvio que ia morrer.”

“Veja pelo lado do cara.” Jongin estava defendendo o personagem. “Era a irmã dele. Não seria fácil chegar estourando a cabeça dela. Matar nunca é fácil.”

Voltei a sala e entreguei uma garrafa de cerveja para ele. Jongin também pegou uma tigela de pipoca e deu espaço para eu me sentar no sofá ao lado dele.

“Já matou muita gente?” Perguntei e senti como ele ficou nervoso. Eu já sabia ver quando ele ficava tenso. O rosto se mantinha indiferente, mas os ombros e o pescoço tencionavam e a linha do maxilar ficava pronunciada.

“Algumas.” Ele respondeu visivelmente incomodado.

“Quer falar sobre isso?” perguntei me virando para ele.

“Não.” Ele disse e bebeu um gole da cerveja.

“Acho que eu não poderia matar ninguém. Uma vez eu tentei matar um rato, mas não consegui.” Eu tinha virado de volta para a TV, mas senti quando Jongin se moveu para me fitar. Quando olhei para ele, Jongin estourou em uma gargalhada. “É sério. E não é para rir. Foi triste.”

“Estou tentando imaginar você tentando matar o rato. Como foi? Você encima do sofá com uma vassoura na mão?” Jongin falou rindo. Fiquei sério. Aquilo não tinha sido engraçado e eu não tinha mencionado o assunto para que ele risse. Demorei a responder e Jongin foi parando de rir aos poucos.

“Eu tinha um gato.” Comecei e encarei a tela da televisão. “Era o meu melhor amigo. Eu deveria ter uns quinze anos. Eu sou filho único e ele era quem me fazia companhia. Só que....” Suspirei e Jongin continuou me observando, sem rir agora.  “Bem, ele não caçava ratos. Meu padrasto” mesmo depois de tantos anos, falar a palavra ainda era difícil. “queria se livrar do meu gatinho. Ele dizia que não iria criar um bicho sem serventia.”

“Isso é uma coisa cruel para se dizer a um garoto.” Jongin falou baixo.

“E o pior é que ele estava se referindo à mim, de certa forma. Eu achava que era mesmo do gato. O vizinho também tinha um gato, e esse caçava. Não ria.” Avisei sem olhar para ele. “Eu roubava os ratos mortos do vizinho e trazia para casa, para que ele pensasse que foi o meu gato. Não ria, Jongin.”

“Você roubava ratos mortos?” Ele perguntou e eu senti a diversão em sua voz.

“Eu estava tentando salvar meu gato.” Disse me defendendo.

O VizinhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora