VINTE E TRÊS

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- Ela está, não está? - Um sorriso bobo em meus lábios se formou ao falar da minha filha.

- As duas estão. - Susan apontou para Livia que entrava na área dos alunos com Natie. Ela usava um lindo vestido verde escuro que deixava suas costas nuas e tinha um caimento perfeito na cintura. A saia levemente rodada dava uma pureza a mais. Ela estava de tirar o fôlego.

Seus olhos encontraram os meus e eu sorri pra ela. Eu queria o sorriso dela de volta, sentiria que assim teríamos uma chance. Ela me olhou por uma longa quantidade de segundos e deixou um pequeno sorriso escapar. Ela desviou o olhar se voltando para Natalie. Meu estômago se contorceu.

A festa estava linda. Mesmo com toda a tempestade dentro do meu peito, esse momento estava sendo gratificante para mim também. Natalie é e sempre foi tudo o que tenho de mais valioso. Vê-la leve, sem as preocupações do semestre, me esqueceu o coração.

- Parabéns meu amor! - A abracei forte quando as homenagens aos calouros terminou.

- Obrigada, pai! Vem, a tia Susan vai levar a gente pra comer, é a despedida da Liv. - Natie fez um biquinho e eu não entendi absolutamente nada. 

- Despedida? Como assim?

- Livia vai viajar amanhã cedo junto com tia Susan. Vai passar um tempinho das férias na expedição enquanto a mãe trabalha. Vai ser um sonho! - Todo o ar que havia em meus pulmões sumiu. Me senti afundando mais e mais naquele poço. Mas que porr...

- Ela...ela vai embora? - Me senti fraco. Minha visão começou a rodar e minhas pernas falharam.

Senti que estava desabando de fato e não vi mais nada. Acordei no chão com um número considerável de pessoas ao meu redor. Que merda.

- Pai!? Você está bem?

- Estou - Falei com dificuldade tentando levantar.

- Fique deitado, os paramédicos já vão chegar. - Uma das milhares de pessoas ao meu redor falou.

- Eu estou bem. Foi só uma queda de pressão. - Eu me levantei.

No meio da multidão encontrei os olhos de Livia, que me olhavam atentamente.
Quando todos se certificaram que eu estava bem eu disse a Natie que ia tomar um ar e passei por perto de Livia.

- Me encontre lá fora. Por favor. - Sussurrei rápido em seu ouvido e rezei para que ela aceitasse. Fui para fora e a esperei por um tempo considerável. Já quase perdendo as esperanças eu senti seu cheiro e virei para ela.

- Livia. - Minha voz era carente até demais.

- Você está bem? Natalie disse que não te viu comer nada hoje, você está fraco. - A expressão de Lívia era totalmente preocupada, eu gostei.

- Eu não senti fome... Livia, eu preciso falar com você.

- David, você acabou de desmaiar!

- Livia... eu preciso falar.

- Eu estou aqui, David.

- Você vai embora, Livia? Vai me deixar?

- Vou passar um tempo viajando com a minha mãe. Volto para o próximo semestre. Quanto a te deixar... você já fez isso. - Ela me olhou e eu agarrei seu pulso.

- Livia, por favor! Tente ser compreensiva, você nem sequer conversa comigo!

- Eu tentei conversar sobre assumirmos o que sentimos, David. E você me disse para não me apaixonar por você.

- Livia, me escuta!

- Não, você vai me escutar agora. Você me machucou. Eu já estou apaixonada por você, perdidamente, e não há nada que eu possa fazer sobre isso. - Sua voz era autoritária. - Mas eu não posso ficar sofrendo assim por você. Não hoje. - Uma lágrima escorreu de seu olho e meu coração apertou. - Eu estou indo embora da cidade amanhã, e estou indo embora daqui agora. Por favor, não me segure.

- Livia... - Ela foi embora sem olhar para trás. Me deixando sozinho com a minha mala enorme de culpa e saudade.

Eu não pude dizer que sentia falta dela, que esses poucos dias sem ela me devastaram totalmente. Que toda essa situação era nova e assustadora pra mim. Não pude dizer que eu estava apavorado com tudo isso, e ainda mais sabendo que eu podia machucá-la.

Havia tanta coisa presa em minha garganta, havia tanto para dizer, mas ela foi embora. Meu peito doía, meus olhos estavam inchados e eu percebi que não aguentaria permanecer mais um segundo naquele lugar. Eu precisava ficar sozinho.

Entrei novamente no salão de festas tentando encontrar Natalie. Queria saber se ela precisaria de mim, não queria estragar o dia dela, faria o possível para parecer bem.

- Filha...

- Nossa, pai! O que aconteceu?

- Eu estou me sentindo um pouco mal ainda...

- Você parece triste, pai. Não doente. O que aconteceu?

- Eu... eu... - Senti uma lágrima escorrer do meu olho e me senti extremamente vulnerável. Natalie me abraçou em um gesto singelo de amor puro.

- Tudo bem, pai. Tia Susan me leva pra casa ou durmo por lá mesmo. Pode ir. Eu te amo, não sei o que está acontecendo, mas tudo vai ficar bem.

Dei um beijo em sua cabeça e me dirigi até meu carro. Antony percebendo o meu estado decidiu vir embora comigo.

- Cara, está tudo bem? É a Livia, não é?

- Acabou, Antony. - Fitei o volante parado.

- O que aconteceu?

Lhe contei tudo, sem deixar de fora nenhuma das merdas que eu fiz. Antony me olhava atento tentando digerir tudo.

- David, porra... Você estragou! Eu te disse para tomar cuidado, te disse que ela não ficaria nessa para sempre. É óbvio que ela iria querer mais que quase-trepar escondido com você!

- Merda, Antony! Eu sei. Eu acabei de perdê-la, ela se foi! Tudo o que eu não preciso agora é dessa conversa de 'eu te avisei'.

- Bom, então o que você vai fazer?

- Eu... não faço a menor ideia. - Comecei a dirigir.

Cheguei em casa depois de deixar Antony e desabei em lágrimas. Nunca fui de chorar. As últimas vezes foram por causa da morte de Anne. Faziam anos. Mas agora eu estava aqui, percebendo que ela está indo embora, percebendo que eu estou prestes a perder mais uma vez o amor da minha vida.

Eu tentei me convencer de toda forma: E se for melhor assim? E se ela for mais feliz sem mim? Não fazemos sentido juntos. Como eu não pensei na grande merda que poderia acontecer? Isso tudo é insano demais.

Mas no fundo nada me importava. Eu precisava dela.

Livia Mitchell

Ainda eram cinco da manhã quando minha mãe me acordou. Natalie acabou dormindo na minha casa mesmo, já que queria me acompanhar até o aeroporto. Meu coração ainda estava partido, mas eu sentia como se fosse algo necessário a ser feito. Eu precisava ficar longe dele, colocar a cabeça no lugar.

Eu entendo o medo dele de deixar as pessoas saberem, mas não podemos viver um relacionamento escondido. O fato dele ter me deixado ir era pesado demais para mim. Eu disse algumas vezes que estava apaixonada por ele, mas ele não retribuiu isso. Talvez eu não quisesse aceitar que ele não sente o mesmo por mim, mas já estava na hora.

No aeroporto eu esperei por um gesto que me fizesse voltar atrás de tudo, por algo que me provasse que ele sente por mim o mesmo que sinto por ele. Eu esperei e esperei e esperei.

Me despedi de Bryan e de Natie com algumas lágrimas nos olhos, sem saber se eram por ficar longe deles ou por tudo que havia acontecido entre mim e David. Parte de mim havia desistido de esperar por ele, por algum gesto ou sinal, considerando o jeito que eu o deixei ontem. Me senti mal por tudo que acontecera, era insano pensar que o motivo de estarmos longe era querer que ficássemos juntos, sem mentiras, sem segredos.

Minha mãe estava muito animada por eu ter aceitado, o que me deixava feliz em meio àquele tormento. Quando meu voo ficou pronto eu perdi totalmente as esperanças de que ele fosse chegar. Entrei no avião esperando esquecer todas as tristezas e angústias. Esperando esquecer um pouco dele.

Até amanhã! ♡

Não se apaixone por mimOnde histórias criam vida. Descubra agora