Desafios

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       Sou uma mulher comum: mãe, esposa, profissional. Sempre vivi intensamente procurando ajudar a todos os que precisam de mim, por isso me tornei auxiliar de enfermagem. Nunca deixei de cuidar.

        Cuidar...

        Em alguma parte do meu caminho, apesar de toda a minha dedicação para com os outros: familiares, pessoas desconhecidas que eu procurava cuidar muito bem na minha profissão, amigos, acho que perdi alguém no meio do caminho, esqueci de cuidar de alguém muito importante tamanha era a minha preocupação para que ninguém ficasse sem minha atenção: esqueci de mim! Sempre a última da fila, mas fui vivendo a vida.

         Um dia, fiz todos os exames de rotina que não fazia a muito tempo e fiquei feliz, tudo estava bem. No meu trabalho vivia sempre correndo. Numa dessas correrias, ergui um galão de água para trocar na unidade que eu trabalhava e machuquei meu braço. Tomei um analgésico e lá fui eu, afinal a vida segue. Duas semanas se passaram, a dor se foi mais os nódulos que apareceram nas minhas duas mamas e na axila direita não desapareceram. Preocupada resolvi conversar com a enfermeira do setor de Ginecologia na minha unidade, ela me examinou e já me encaixou para uma consulta, exames foram pedidos com urgência e não tinha cota pelo SUS, como meu pagamento saia naquela semana, marquei todos os exames particulares em outra cidade pois, aqui não tinha como fazer todos e meu irmão me levou. Quando o resultado saiu, fiquei sem chão: Bi Rads 4. Tinha feito todos os meus exames dois meses antes e todos estavam bons, não entendi como isso evoluiu tão rápido. Fui encaminhada para Curitiba para fazer tratamento lá, fiz biópsia e em 15 dias o resultado saiu: Carcinoma Maligno de Mama. Fiquei sem chão: pensava em minha filha, no meu marido, no meu pai...se eu morresse agora, como eles iam ficar? Como minha filha iria ficar? Ergui minha cabeça e pedi que a equipe que me atendeu fizesse o que fosse possível para que eu pudesse viver, queria ficar com minha família e falei que se fosse preciso retirassem minhas duas mamas. A parte mais difícil foi contar para minha família: meu marido foi o primeiro a saber e confesso que nunca o vi tão triste. Jurei que permaneceria forte e aguentaria tudo por eles.

             A Equipe que me atendeu entrou com a quimioterapia para estacionar o crescimento dos nódulos, dentro de dez dias depois da primeira quimioterapia meu cabelo começou a cair, pedi a meu sobrinho que terminasse de raspar o meu cabelo, em um determinado momento, meu sobrinho parou... pedi a ele que continuasse, não ficasse triste pois eu estava bem, depois eu soube que nesse dia, meus três sobrinhos choraram por mim. Minha filha me achou muito engraçada careca e no dia seguinte, perguntou a mim novamente se eu estava com câncer, até aquele momento, eu não disse nem que sim nem que não. Sentei com ela e disse: sim filha, sua mãe está fazendo tratamento contra um câncer de mama. Ela arregalou os olhos e perguntou se eu iria morrer e eu disse que não, iria viver para ficar com ela e com o papai. Meu marido como sempre me apoiou e foi o meu refúgio. Ele me viu careca, frágil, viu todos os efeitos que a quimioterapia deixou em mim mas eu não desisti e ele não desistiu de mim. Fiz minha cirurgia, após algum tempo fiz 32 sessões de radioterapia e mais seis de quimioterapia. Ia e voltava todos os dias para minha cidade para que minha filha visse que eu estava bem. Infelizmente durante a minha batalha, vi alguns companheiros de viagem perderem a guerra, foram momentos tristes para mim, procurei dar força e esperança aos que ainda estavam no mesmo barco que eu, confesso que nunca me vi em um caixão e enquanto houver vida em mim, lutarei, jamais desistirei. Minhas quimioterapias acabaram, agora tenho cinco anos de terapia oral e acompanhamentos frequentes. Voltei a trabalhar, meu cabelo cresceu um pouco e hoje vivo um dia de cada vez.

       Essa doença não é fácil, mas eu digo para quem está enfrentando a mesma luta que eu que não desista, que tenha fé, se apegue naqueles que ama e nas coisas que gosta, não deixe que as dores e os pensamentos ruins te sufoquem e não te permitam lutar para viver. Viver é a dádiva mais linda que Deus nos deu, não devemos desistir de nossa vida sem lutar.

       Termino meu relato com a seguinte frase:" Você nunca sabe a força que tem até que a sua única alternativa é ser forte." ( Johnny Depp ) 

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