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BAM!

O som da papelada sendo posta em cima da mesa de Edgar fê-lo dar um salto dado que não ouviu Lana entrar no seu escritório no último andar do departamento executivo do hotel.

- Jesus Lana! – exclamou. – Sei que és a filha do Luiz mas não podes simplesmente entrar sem bater. Não devias estar na faculdade ou a preparar para sair à noite? É sexta feita.

Lana ajeitou o seu blazer amarelo canário e olhou para o relógio Swarowski que levava no pulso.

- Ainda são sete da noite. – disse. – Terminei as aulas às quatro e decidi vir ver como vai a implementação do novo time de entreteinimento nocturno no Algarve e ter a certeza que temos equipamentos suficientes para as aulas de windsurf e paddle no Sal. Está tudo aí nos relatórios.

Edgar coloca os óculos que estavam pendurados à volta do pescoço e analisa rapidamente a pilha de papéis que Lana trouxera.

- Hum, muito bem. Verei com mais calma na segunda-feira. Obrigado, não tinhas que fazer isto.

- De nada. – Lana responde orgulhosa de si mesma e volta-se para sair, elegantemente ajeitando a saia amarelo canário que fazia par com o blazer que trazia. – Eu faço por gosto.

Sai do escritório, diz um adeus á secretária que era uma das últimas pessoas a terminar o expediente antes de entrar no fim de semana e entra no escritório principal do pai para apanhar o seu saco Gucci e terminar a sessão do computador.

Antes de apagar as luzes, deteve-se observando a vista a partir da varanda: As luzes da piscina a acenderem-se, os bartenders a prepararem os cocktails nos bares e várias famílias, casais e amigos a dirigirem-se para os vários restaurantes disponíveis para jantar.

Um dia tudo isto será meu. – Pensou e inspirou fundo.

Lana era a filha de Luiz Gonzalez e Alice dos Santos, donos de uma emergente cadeia de hotéis,"Islas", nome vindo do facto de ambos os pais terem nascido em ilhas. O pai era cubano, nascido em Havana e a mãe era da ilha de Santiago em Cabo Verde. Os pais tinham se conhecido em Havana quando a mãe tinha ido para lá estudar medicina e desde então tornaram-se inseparáveis.

Lana nasceu em Cuba e lá viveu até os seus sete anos de idade, rodeada de música latina, boa comida e praias incríveis até a mãe, que até então trabalhava no hospital público de Havana, propor ao pai, que nessa altura era gerente do hotel mais visitado de Havana, pertencente á família, abrirem um novo hotel na sua terra Natal em Cabo Verde pois o mercado turístico estava a desenvolver e ela tinha saudades da sua terra. Então, dois anos depois do pai e o avô começarem as obras para um modesto hotel na ilha mais turística de Cabo Verde, a família Gonzales mudou-se para a ilha do Sal onde Lana passou os próximos onze anos da sua vida, afundando os pés em areia branca e mergulhando no fundo do mar mais azul e cristalino que alguma vez viu na vida para ver as maravilhas do mundo marinho. Desde golfinhos a cardumes de peixes exóticos ela tinha visto de tudo com ajuda dos mergulhadores profissionais da ilha que a tinham mostrado tudo. E sempre depois de uma boa manhã de domingo na praia, ela voltava para o hotel, caracóis cor de mel cheios de sal ao vento, para almoçar o menu sagrado dos domingos: Churrasco com batatas fritas.

A mãe sempre lavava-lhe o cabelo e lhe fazia quatro tranças corridas ao que em crioulo chamavam "rego" antes do almoço porque ela já sabia que era impossível acordar a criança da sua djonga depois de ter passado o dia na praia.

Lana teve uma infância feliz, tinha sempre amigos por perto, quer fossem os amigos da escola ou as crianças que passavam pelo hotel de férias mas como os amigos do hotel eram sempre temporários ela aprendeu a superar a dor de perder alguém que gostava. Isso tornou-a numa adolescente perigosa. Com o seu corpo curvilíneo, pele dourada, lábios grossos de feições finas, olhos castanhos e cabelo cacheado cor de mel, Lana seduzia, sem querer, todos os rapazes que passavam pelo hotel.

Quando viam essa miúda africana linda e sorridente, deslumbravam-se e enamoravam-se. Mas apesar de alguns terem o privilégio de caminharem pela praia de mãos dadas com ela e roubarem alguns beijos, ficavam sempre destroçados quando a deixavam e queriam manter em contacto mas Lana não parecia nem um pouco afectada ou triste.

- Oh, não fiques assim. – dizia ela. - São férias. Vais esquecer-te de mim em dois segundos.

- Mas eu irei lembrar de ti e amar-te para sempre!

Lana ria-se quando eles diziam este disparate para ela e respondia:

- Não, não amas. Tudo é temporário. Até o teu amor.

Quando Lana tinha dezasseis anos o pai já era do maior resort de luxo em Cabo Verde e decidiu abrir mais dois hotéis, desta vez em Portugal e renovar o de Havana.

Dois anos depois Lana terminou o ensino secundário e sabia exatamente o que queria: Estudar gestão hoteleira para continuar o legado do pai. Disse adeus à sua casa e aos seus pais e foi para a melhor faculdade de gestão de Portugal.

- Cheguei! – gritou ao entrar em casa – Passei no hotel pra tratar de umas coisas mas já estou livre.

Tirou os sapatos à entrada e pendurou o blazer.

- Uau, que milagre! – Andrea, a sua colega de casa e consequentemente, uma das melhores amigas, respondeu sarcasticamente ao tirar um saco de uvas do frigorífico - pensei mesmo que ias passar o fim de semana todo naquele hotel.

Lana revirou os olhos e encaminhou-se para a cozinha open space onde se sentou na bancada à frente de Andrea sacudindo os pés no ar.

- Sabes que os meus pais estão em Espanha estão discutindo o projecto dos hotéis em Barcelona e Miami e então eu vou supervisionando o que posso.

- Mas tu só tens vinte e um anos e já és viciada no trabalho para além de seres viciada na escola. – Andrea aproxima-se de Lana e apoia os cotovelos nas pernas dela. – E isso não é o trabalho daquele gajo, Edgar?

- Sim mas só estou a ajudar. Gosto de trabalhar e estudar. Quero ser a melhor no que faço. Alem do mais, - pausei – mantem-me distraída.

A expressão de Andrea tornou-se ligeiramente preocupante e compreensiva.

- Lana...

Lana pulou da bancada:

- Vamos sair esta noite certo? Combinaste com os outros?

- Sim. Ficamos de ir àquele bar de música latina que abriu recentemente. As meninas querem algo mais tranquilo hoje.

Lana fez uma careta porque lhe apetecia ir a uma discoteca barulhenta e grande onde ninguém desse por ela e ela pudesse dar a louca e dançar ao som de afro beats enquanto flertava com algum rapaz giro que nem se lembraria da cara dela no dia a seguir.

- Vocês são aborrecidos. Mas é melhor do que nada. – Agarrou o cabelo com um elástico. – Vou tomar um banho e me preparar. A Celina preparou comida hoje?

Celina era a empregada que ia lá todos os dias e mantinha o apartamento luxuoso limpo e sempre com comida feita.

- Sim, fez bacalhau à brás e bife de atum. Queres?

- Hum... - Lana ponderou. – apetece-me pizza. Uber Eats?

- É pra já. – Andrea tirou o telemóvel.

- Perfeito! Enquanto esperamos eu vou me preparar. Alexa? – Lana falou para o dispositivo – Toca a playlist bad bitch mode no altifalante da casa de banho por favor. Ah, e claro, - sorriu para a amiga - volume máximo.

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Olá! Tentando algo diferente hehe. O que acham? algum feedback? :)

Isla, mi AmorWhere stories live. Discover now