Despertar

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Dor. Foi a primeira coisa que senti, depois de muito tempo. Senti um ar pesado, porém limpo, frio e seco percorrer meus pulmões. Senti um breve arrepio, e minha cabeça pesar. Lentamente, abri meus olhos, vi uma luz branca, e ainda meio desnorteada, tentei me mexer. Senti meu sangue voltando lentamente a percorrer meu corpo, todos meus membros estavam dormentes. Minha visão foi gradativamente retornando ao normal, consegui enxergar um vidro embaçado e empoeirado.

- Tempo criogênico finalizado. - Ouvi uma voz robotizada ecoar no espaço claustrofóbico onde eu estava.

Poucos segundos depois, senti meu corpo ser solto de algo que eu não sabia o que era, mas finalmente eu conseguia me mover. Uma luz vermelha se ativou, e de repente o lugar se encheu de fumaça e barulhos de ar comprimido. A trava do vidro empoeirado se soltou, e eu pude finalmente abri-lo. Lentamente, levei a minha mão até a trava, e abri o vidro com muita dificuldade. Eu estava deitada, assim que o vidro se abriu completamente, pude ver o céu. Estava chovendo, uma chuva fina mas que de alguma forma fez eu recobrar quase que totalmente a consciência quando o primeiro pingo de água acertou a minha face.

Tentei me levantar, meu corpo estava extremamente fraco, demorei alguns segundos até conseguir me sentar. Quando me dei conta, olhei ao meu redor. Eu estava em uma planície rochosa, com várias plantas gramíneas cercando o lugar. Mais a frente, havia uma floresta, várias árvores enormes. O vento estava suave, como uma brisa antes da tempestade, e a chuva continuava, porém com um pouco mais de intensidade. Após alguns segundos tentando me situar, senti um enjoo repentino. Vomitei ao lado de onde eu estava, o que parecia ser algum tipo de máquina ou câmara especial. Por sorte, consegui vomitar apenas no lado de fora e não me sujei. Eu ainda estava presa, um tipo de agulha perfurava meu braço, parecia que algum liquido estava sendo injetado nas minhas veias. Era soro fisiológico, estava escrito no compartimento ao lado. Tirei a agulha da pele e tentei me levantar, eu estava tonta e tossia bastante. Sem querer, ao tentar levantar, tropecei e caí para fora da câmara. Deitada, eu consegui ler o que estava escrito em um dos lados dela, "Sindicato". Mesmo ainda não conseguindo raciocinar direito, esse nome não me era estranho.

Depois de finalmente ficar de pé, ainda um pouco tonta e com dificuldades para respirar, consegui dar uma olhada melhor ao meu redor. Eu estava isolada, apenas eu, a câmara em que eu estava, e uma grande planície com árvores à distância e algumas pedras enormes. Olhei para baixo, eu estava vestindo um uniforme vermelho, ajustado perfeitamente à minha pele. Havia um nome escrito um pouco acima do meu peito, cheguei perto do vidro empoeirado e passei a mão para tentar limpa-lo. Consegui ver no reflexo o meu semblante, eu tinha longos cabelos ruivos, olhos verde-claros, e o que aparentava ser o meu nome escrito no uniforme, Natalya Yarina.

Ok, eu sei o meu nome. - pensei. - Agora, o que eu estou fazendo aqui?

Antes que eu pudesse me fazer mais perguntas, ouvi um som de beep que se repetia a cada 2 segundos, vindo do interior da câmara de onde eu havia acordado.

Quando cheguei perto, vi que era um tipo de dispositivo multi-uso, porém havia um botão que piscava uma luz vermelha, ele estava acoplado à câmara. Retirei o dispositivo e apertei o botão, um áudio começou a tocar.

- Oi, Natasha. - Uma voz feminina e doce começou a falar.

- Eu nem sei como começar isso, mas...  você nem foi embora ainda e eu já estou com saudades. Me disseram que quando você acordasse iria esquecer bastante coisa, mas o Sindicato disse que iriam te contar tudo quando isso acontecesse. Mas por algum motivo eu tenho a sensação de que eles não irão te contar sobre tudo. Eu sou sua mãe, eu espero que você ainda reconheça a minha voz daqui a mil anos.

- MIL ANOS? - Pensei alto.

- Seu pai não quis gravar nada, mas ele pediu pra te dizer que ele te ama. E eu também te amo demais, filha. - A voz do áudio parecia começar a chorar.

- Você sempre me deu orgulho, eu tenho certeza que você vai sobreviver, você é inteligente, está no seu sangue. E mesmo não podendo estar com você, eu estarei sempre olhando por ti. Eu te amo, Natasha.

*...*

O áudio terminou e a tela do dispositivo se iluminou. Havia uma data.

22 de Outubro de 3122.
5:54 PM

Ecos do AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora