As doses frequentes de cafeína tem me acompanhado desde que cheguei, contudo ainda assim o cansaço não se dá por vencido.

Gesticulo para ele falar logo e, após respirar fundo diz:

— Eu acho que seria melhor você ir para casa Deise. Ela está chegando, e em algumas horas seu Otávio e a mulher também.

Eu não tenho reação.

— Não é por mal, — ele continua — mas é que talvez esse seja um momento apenas para a família.

E ouvir isso quebra meu coração. Meus lábios tremem.

— Deise...

— Eu não acredito que ouvi isso justo de você. — Digo num fio de voz — Aquela merda era para ser comigo. — engulo um soluço — Quem entraria na frente de uma merda dessa por quem não ama?

Tenho coragem de falar em voz alta o que minha mente tem me dito desde então.

— Ninguém... — Ele murmura

— Você acha que eu queria que uma merda dessa acontecesse para eu poder enfim ver isso? — Ele não diz nada. — Eu só quero que ele acorde Marcelo.

Uma lágrima solitária faz o seu caminho pela minha bochecha.

— Você não está bem... — ele tenta argumentar.

— E quando foi que eu estive? — Encaro seus olhos — A pergunta é: você vai me colocar para fora?

Ele fica assustado.

— Não. É claro que não, pelo amor de Deus!

— Foi o que pensei. Se a família de Anderson tiver algo a dizer eu estou bem aqui. Nunca fui de correr de uma boa briga e, se eles consideram tanto e Anderson como se deve não procurarão confusão. E eu não vou sair daqui. — Enfatizo mais uma vez antes de desviar o olhar e focá-lo outra vez, na parede branca.

Ele fica me encarando por mais alguns minutos sem dizer nada, o suspiro que sai dos seus lábios antes de sentar me dá a certeza de que não tocará mais no assunto, ainda assim não me deixa menos chateada com ele. Pode até querer evitar qualquer tipo de desavença, talvez por conhecer a irmã de Anderson mas não é menos doloroso saber que tenho que sair para deixa-los com ele, é como se eu não tivesse o direito de estar aqui.

Uma porra que isso vai acontecer. Respeito muito o Senhor Otávio e sua mulher, mas estamos em outras circunstâncias agora, sou capaz de esquecer por um momento a educação que minha mãe me deu se isso significar permanecer aqui passando por cima deles.

Levanto e me afasto. Preciso de mais cafeína ou não vou ter energia o suficiente para enfrentar o que acredito que esteja por vim. Foi uma ótima decisão vestir algo confortável e calçar um tênis. Caminho por alguns corredores e sorrio envergonhada para a mulher que, antes de eu me aproximar já está com o copo de café estendido na minha direção.

Volto para a sala de espera e meus olhos saltam para fora quando vejo seu Otávio e a mãe de Anderson. Ela chora no ombro do marido que tenta acalma-la acariciando suas costas. Ele não tenta esconder a surpresa quando me vê, já ela, me olha com interesse e curiosidade, talvez não esteja lembrando já que faz algum tempo que não a vejo.

— O que está fazendo aqui? — Aperto o copo com firmeza para ter em quê me apegar.

Seu tom de voz é apenas de curiosidade mas, ainda assim, fico receosa.

— Anderson é meu chefe, tinha que estar aqui senhor. — é o que respondo.

Eles se sentam com Marcelo que conta tudo que aconteceu e as notícias que temos, mas os acalmam falando que de acordo com o médico de plantão tudo indica que ele ficará bem.

DEISE © - OGG 2 [COMPLETO]Where stories live. Discover now