— Mãe! — a repreendo e ela dá de ombros.

— O que eu tenho a dizer é que não lutei por você dia e noite para que vivesse amarrada ao passado. — Segura firme em meus ombros — Eu criei uma mulher forte e foda, criei uma mulher que se mandou sozinha para uma cidade grande e fez a vida, mesmo enfrentando preconceitos de merdas todos os dias. — As lágrimas rolam pela sua face negra — Criei a mulher que posou de lingerie para o mundo todo e me encheu de orgulho ao ver, ainda mostrei para essas vizinhas entrometidas. — Empina o nariz em meio às lágrimas e eu sorrio — Não tenha medo amor, já viu quem tem sangue nordestino ter medo? Se arrisque e se cair levante, se, se  decepcionar, supere e tente outra vez. Eu sou a sua mãe e você é meu orgulho e o amor da minha vida, eu a amo, todos a ama e não tenha medo de retribuir isso, sei que não fácil  passar pelo que passou e que quando se estar do outro lado julgar é fácil e bom, mas te digo uma coisa: você é Deise, a mulher mais ousada que já vi, você pode tudo.

Choro abraçada ao seu peito o resto da manhã ainda absorvendo suas palavras

***

— Vou dá uma passadinha na casa de Tia Aurora. — Digo quando encontro minha mãe costurando no cantinho da sala.

Ela endireita os óculos e me olha.

— Quando voltar já aproveita e pega aquele macarrão no mercado do Carlos que você adora para fazer sopa. Manda ele pôr na conta. Aquele que parece um parafuso

— Certo. Estou indo.

Pesquei a carteira e sai sendo agraciada pela brisa de fim de tarde.
A casa da minha tia não ficava muito longe por isso decidi passar lá no fim do passeio pela cidade. Estendi a caminhava até a barra e fiquei por lá observando as pessoas correndo e casais tirando fotos, o vento frio, o cheiro de água, areia e peixe...

Suspirei.

Comi um cachorro quente com bastante batata antes de levantar e voltar para o ponto de ônibus.

Será que ainda existirá um Anderson e eu? Tenho medo. Quando pus um ponto final foi por medo de continuar sofrendo quando ninguém não alcançasse as minhas expectativas ou me magoasse, será que terei uma vida algum dia se continuar assim? Eu quero ser feliz e ser uma das pessoas que sabe o que é se apaixonar e viver uma história de amor. Todas as coisas que acreditava ser o melhor para mim foram deixadas para trás desde momento em que Anderson entrou na minha vida e isso eu não posso negar.

Contudo a confiança e sinceridade vem sempre em primeiro lugar em qualquer relacionamento. Eu quero ser sincera e confiar nele, assim como preciso disso vindo dele também. Relacionamentos são construídos por ambas as partes e eu quero muito mesmo, o nós.

É uma questão de necessidade deixar o medo para trás e encarar o realmente quero para mim.

— Pelo amor de Deus. Está no mundo da lua mulher? — Pisco repetidas vezes focando meu olhar no belo homem a minha frente que gesticula sem parar.

Ele é alto e esguio. A pele branca constrata com o cabelo loiro e cacheado, semelha o dos anjos descritos por todos.

— Me desculpe? — Peço ainda confusa.

— Pelo que está se desculpando? Eu sujei você de acarajé. — Aponta a minha blusa e eu sufoco um xingamento ao encarar e mancha amarela no tecido branco. — Olha, ali tem um banheiro, você pode ficar com a minha blusa, não irá fazer falta. — Dá de ombros antes de começar a se livrar da peça.

— Não precisa... — Levanto as mãos impedindo que ele conclua a ação. — Eu estou bem mesmo. É só uma blusa...

— Me chama de Alex... — Pisca o olho, tenho a leve impressa de que conheço esse olhar mas não sei onde. — Você não é daqui, é?

— Na verdade sim, mas não moro. Estou só visitando minha família. Sou de São Paulo. — Não achei nada de mais falar onde morava, São Paulo é enorme por garantia — Você me lembra alguém, desculpa comentar mas os seus olhos me lembram o de alguém só não sei quem. — Sorrio ainda encarando a iria castanha.

Seus lábios se erguem.

— Não sei. Cheguei recentemente no país após alguns anos fora, estou indo para o Rio grande do Sul, e não quis ir antea de visitar essa cidade maravilhosa. Mas tenho um irmão que mora em São Paulo talvez você o conheça.

— Acho que não. — Quis dar por encerrada nossa conversa. O sol já se escondia horizonte, queria ir para casa e decidi o que faria da minha vida. — Foi um prazer Alex.

— O prazer foi meu, mesmo que não tenha falo seu nome.  — E foi ali que eu vi, antes de sair, um brilho sombrio no olhar do anjo.

Fiquei com medo de ser seguida. Passei na casa de minha tia e segui para casa. O rosto do homem não abandonou meus pensamentos em todo o momento, fiquei agoniada e tensa, algo naquele olhar não me era estranho.

Sai do banho sentindo o aroma maravilhoso de sopa de frango que só minha mãe sabe fazer. Mandei uma mensagem para Mari perguntando como todos estavam, inclusive o bebê que ela espera, e estão todos bem.

Vesti a calça de moletom de Anderson e uma blusa quentinha da minha mãe. Me enrolei na coberta, deitei no sofá com o prato na mão liguei a televisão.
Fui zapeando os canais e fiquei muda quando o vi na tela.

A festa de lançamento da nova coleção.

Havia esquecido.

Naquela noite fiquei vidrada olhando para a tela a minha frente. Gritei quando vi Emily e sorri quando as modelos entraram carregando no pescoço, orelhas e pulsos as jóias da Empire, contudo o mundo parou de girar e o ar foi faltando quando vi, adornando o pescoço e colo de uma modelo o meu colar...

O que eu tinha desenhado.

DEISE © - OGG 2 [COMPLETO]Where stories live. Discover now