— Mas eu fiz pior. — Viro o rosto para encará-lo. — Contratei um detetive.

— Vocês são mal resolvidos. Começaram e terminaram errado. Igor tem mágoas e nunca vai esquecer. Você meio que se tornou obcecado por ele, mas duvido muito que seja amor.

— Agora você quer julgar o que eu sinto? — Solto uma risada.

— Estou dizendo que para quem ama, está fazendo tudo errado. Você tem outras pessoas, se entrega e dá seu corpo, mesmo dizendo que ama o outro. Isso não tem como ser amor. Eu jamais conseguiria sequer beijar outra mulher amando a Mel. Eu só consigo ser inteiramente dela. Isso sim é amor. — Tem razão. Ele está sendo sincero. — É por isso que eu tenho quase certeza que não tem como existir a possibilidade de vocês ficarem juntos. Ele não se importa, Edgar. Não quer saber de você. Aceite isso.

Suas palavras doem. Propositalmente ou não, elas acertam tudo, inclusive meu peito.

Meu irmão esfrega o rosto e se ajeita para se apoiar na janela, cruzando os braços em seguida.

— Acho que sei o que precisamos fazer. — Ergo as sobrancelhas com curiosidade. — Uma viagem entre irmãos. Um pouco de diversão e sair da rotina.

Repuxo meus lábios em um sorriso desanimado.

— Obrigado, Eros, mas Melissa está grávida, vai precisar de você por perto.

— Melissa será a primeira a me dar total apoio. Você sabe que ela se preocupa também.

Sim, aquela maluca se tornou uma das pessoas mais especiais na minha vida e eu tenho certeza que ela vai incentivar qualquer coisa que Eros quiser fazer para me ajudar.

Mas eu não quero isso. Interromper a vida profissional e pessoal do meu irmão por causa dos meus problemas.

— Acho que sei o que quero. — Uma pontada de apreensão martela no meu peito. — Quero ir ver meu pai.

Porque eu sei que ele está solitário e apesar de me odiar, repugnar, rejeitar, eu ainda tenho seu sangue correndo pelas minhas veias. Mesmo que minha mente grite para que eu não vá, o coração amolece.

— Não sei se isso é uma boa ideia. Principalmente nesse momento. E com você pensando no Igor.

Apesar de ir naquele lugar e ser bem tentador procurá-lo, não sei se estou disposto a ouvir as suas palavras duras outras vez. De ver a rejeição na minha direção e a paixão por outra pessoa.

— Minha intenção é só ver meu pai. Não se preocupe.

Parecendo ainda desconfiado, ele se ajeita e assente com um leve movimento na cabeça.

— Certo! Agora mande embora quem quer que esteja na sua cama, tome um banho e vamos tomar um café fora. Preciso compartilhar com meu irmão minha empolgação de ser pai, porra! Até porque você vai ser tio de primeira viagem.

Sentindo-me bem melhor, eu sorrio e vejo Eros se afastando com o aviso de que está me esperando do lado de fora.

Sei que procurar meu pai vai ter um preço, principalmente depois das coisas horríveis que ele me falou da última vez que nos encontramos, mas sei que ele anda mal, doente, não posso e nem consigo manter tanta distância assim.

Decidido, faço o que meu irmão pediu, deixando o dinheiro na mão do homem que acordou depois de vários chamados e sequer tomou um banho. Apenas se vestiu e foi embora.

Quando entro debaixo do chuveiro lembro do Gabriel e do que fiz e falei. Droga! Eu sempre estrago tudo! Preciso ir até ele.

Saio do apartamento e encontro meu irmão na calçada, que me pede para fazer uma caminhada até a padaria mais próxima.

Inesperado - Em breve na AmazonWhere stories live. Discover now