Como (não) Planejar um Casamento

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Meu corpo todo tremia enquanto subíamos a escada rolante do shopping. Marcos segurava minha mão com força, tentando me tranquilizar. Eu não estava com medo da escada, nem nada assim. Não era exatamente esse o problema. E, no fundo, eu sabia que estava tudo bem. Inclusive, não sei como poderia estar melhor. Finalmente ia me casar com o amor da minha vida, e isso enchia meu coração de alegria, só que também me deixava bastante apreensiva. Estava mais do que claro que toda a pressão não estava me fazendo nada bem, e era justamente por isso que estávamos subindo aquelas escadas rolantes.

Quando Marcos me pediu em casamento, aceitei sem hesitar. Hesitei muitas vezes depois e isso ainda acontecia quando eu me dava conta do que tudo aquilo significava. E eu nem estou falando sobre compartilhar a vida com alguém. Estou me referindo só às atribulações de organizar um casamento: lidar com fornecedores, decoração, prestadores dos mais diversos serviços, discutir cada mínimo detalhe (um evento mais casual? Muitas flores? Mais clean?), os estilos de cerimônia (formal? Descolado?), o local (na praia? Em um salão? Na rua? Na chuva? Na fazenda? Em uma casinha de sapê?), reunir minha família vinda de todos os cantos do mundo e conseguir a data perfeita ("Sua tia não pode dia 25, tá?"). Eu sentia espasmos nervosos só de imaginar tudo aquilo.

Foi por isso, então, que quando ele sugeriu que viajássemos para nos casarmos escondidos, longe de todo mundo, eu mais uma vez aceitei sem hesitar. Parecia a solução perfeita para alguém com tantos problemas a resolver. No entanto, agora que estávamos ali, subindo as escadas rumo à agência de turismo, eu já duvidava de que era mesmo a melhor opção.

― A dúvida agora é se você deve se casar comigo, Angel? ― questionou Marcos em tom brincalhão, quando finalmente saímos da escada no andar da loja.

― Claro que não ― me apressei em responder. Não era isso. Nunca seria. ― É só que... Não seria mais fácil se a gente simplesmente fosse morar juntos e esquecesse essa história de casamento?

― De novo você com essa ideia? — disse ele, rindo.

Quando vi, já estávamos em frente à loja.

― Não foi por isso que a gente decidiu que era melhor se casar em outro lugar? ― perguntou ele.

Ele sabia, por causa dos meus longos monólogos, que o que estava por trás do "não é mais fácil a gente simplesmente juntar as escovas de dentes?" era uma imensa apreensão de não saber como minha família reagiria quando descobrisse que eu preferia fugir a fazer uma festa tradicional, tão típica da família Müller. Mas essa decisão não era por causa da minha família em si, era mais porque eu tinha certeza de que ia surtar no processo. Nem muitas sessões de terapia seriam capazes de impedir que eu agisse como uma Noivazilla. Era mais forte do que eu.

― Bom dia, sejam bem-vindos! ― exclamou a moça sentada na primeira mesa da agência de viagens, assim que passamos pela porta. ― Fiquem à vontade.

Ela indicou as duas cadeiras livres à sua frente e nós nos sentamos. Eu ainda estava tremendo. A verdade é que me sinto muito aflita quando as coisas fogem ao meu controle. A moça, percebendo a situação, me ofereceu um copo d'água. Eu neguei com a cabeça, sem ter forças para abrir a boca e responder que não precisava.

― Como posso ajudá-los? ― perguntou ela, desviando os olhos preocupados de mim para Marcos. ― Uma viagem para o feriado? Já estão pensando no Carnaval?

― Na verdade... ― interrompeu Marcos. ― Estamos em busca de um destino para nos casarmos...

― Casamento! ― berrou a moça. ― Agora está tudo explicado! ― Ela se debruçou na lateral da mesa em L, chamando a atenção da colega de trabalho. ― Beatriz, é um casamento!

Como (não) planejar um casamentoWhere stories live. Discover now