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Há girassóis na porta.

É a terceira vez na semana, e Harry suspira e olha em volta, busca algo que ele não saberia explicar se lhe fosse questionado, a vizinhança da cor segura e temperada de um verão boêmio, dois garotos pálidos em suas bicicletas vermelho fusco e marrom, descendo a ladeira.

Ele inclina o suficiente para segurá-las, dois dias experiente para saber que há um cartão. É uma caligrafia fixa, evidentemente caprichada e espaçosa; o pedaço de papel foi rasgado ao meio. "Você tem o sorriso mais bonito do jardim", Harry lê e enrola a nota para o bolso, confuso e meio tocado.

Jardim.

Ele quer achar isso esquisito e até acha superficialmente, mas algo diz a ele que é doce. A admiração. E na oitava vez, ele guarda o bilhete – mais longo com o tempo – e senta na varanda com chá e leite, o único tempo vago que teve desde o início do verão. A camisa abotoada, óculos ajustados e pés descalços no assoalho rijo de madeira.

"Eu me arruinei na chuva ontem à noite. Chuvas de verão sempre me derrubam. Você merece que eu entregue suas flores, embora, e é definitivamente a minha maior motivação para sair da cama e trabalhar hoje. Espero que não tenha tomado a chuva também, mas me deixe saber se precisar de uma sopa quente, ok?"

Harry sorri. É impossível não. Mas isso preocupa ele. O céu vibra em um azul opaco e morre no laranja quando já é tarde demais, devia ser quase oito da noite e ele sai para tomar um café. Há um aberto ao lado da floricultura e ele aprecia não ter que andar mais três quarteirões para o próximo.

"Hey, huh", ninguém realmente sai para um café à essa hora, não quando há uma visível tempestade mais próxima do que distante, então o lugar está vazio. Quando olha mais uma vez para o atendente, tem a sensação de que seu rosto lhe é familiar. "Um café amargo, por favor."

E o garoto é uma bagunça fazendo isso, caneta frouxa entre os espaços dos dedos e mãos inquietas. "Hum, você...vai– levar ou prefere...Porque..."

Harry deduz que sejam seus primeiros dias trabalhando no lugar e sente a empatia esmagando-lhe o peito. O temor de iniciante é um dos piores. Ele diz: "Não, tudo bem. Não tenho pressa, vou sentar e", ergue o livro que trouxe em sua mão e meio que sorri. "Esperar por aqui. Leve seu tempo. Tenho distração."

Se ele pode ou não chamar Arthur Conan Doyle de distração, é apenas um detalhe; mas não nota quando o mundo começa a cair. Ele lê sabe-se lá quantos parágrafos no banco de couro sintético antes de ouvir o ding ding do sino, fazendo-se consciente de onde estava e o quê fazia.

Harry vai até lá e percebe que o garoto preparou o pedido para que ele levasse. "Você quer muito que eu vá embora agora, não quer?"

Olhos hesitantes e azuis de céu imediatamente negam: "Não, eu– Achei que...Um segundo, vou dar um jeito nisso. Só um segundo."

Harry enquadra seu rosto na própria concentração. O garoto é bonito, um tipo de beleza que marca, um pouco tímido quando ele escorrega os cotovelos no balcão e apoia seu rosto para assisti-lo. Ele treme e deixa o copo próximo à Harry, o lábio preso nos dentes de cima.

"Obrigado", diz. "Você é novo aqui?"

"Na cidade?"

Harry sorri detrás da xícara. "No trabalho. Esse é seu primeiro?"

"Não", ele hesita. "Trabalho na floricultura", seus olhos se movem para o balcão. "Desde sempre."

"Oh"

Eles entram um silêncio severo, um tanto constrangedor agora que Harry analisa seu erro. Ele não termina seu café, mas a chuva estranhamente decide liberá-lo antes e ele entende, como um ótimo caçador de brechas, que é hora de ir. Abre a carteira e escorrega uma nota no balcão. "Ótimo café."

moonbeams and fairytalesTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon