Mais um Navio de Partida

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- Não tem nada que possamos fazer?

Ronan fechou os olhos, sentido, antes de abri-los de novo, os olhos evitando encarar os que o observavam, úmidos, tão expressivos quanto os seus. O horizonte do mar, da praia escolhida para protagonizar aquele momento, enfeitado com tantos navios e barcos que iam e vinham seguindo suas rotinas, não lhe era nem um terço tão interessante quanto a voz que lhe fazia companhia.

Balançou a cabeça, querendo ao máximo evitar que seu coração se quebrasse.

Tarde demais.

- Nada.

Um soluço foi ouvido, mas Ronan não tinha forças para encarar a outra pessoa, por que sabia que se fizesse isso seria capaz de voltar atrás, e isso não podia acontecer.

- O mar continua agitado...

Concordou com a cabeça, os lábios tremiam e já podia sentir o calor atrás de seus olhos, indicando que não conseguiria segurar as lágrimas por muito mais tempo.

- Sempre agitado.

Não estava sendo ele mesmo, Ronan sabia, mas ser honesto naquele momento não podia ser uma boa ideia. Não quando tudo parecia doer tanto.

- Sei que existia um navio.

- O navio partiu, mas ninguém viu.

Estava sendo frio, sim. Mas tinha como agir de outro modo quando seu corpo parecia ferver, a dor deixando um rastro de fogo que só piorava tudo e fazia suas mãos tremerem?

Era impossível.

- Por quê?

- O quê?

- Por que é que nunca aproveitamos quando o navio está atracado? Digo, ele fica tão próximo e só nos damos conta da importância quando está de partida.

Existia alguma resposta para aquilo? Ronan achava que não. Não quando a voz pela qual era tão apaixonado lhe fazia aquele tipo de pergunta, tão embargada e instável quanto a sua agora era. Mas ao mesmo tempo tão firme, tão conformada com o futuro.

- Por quê? - devolveu a pergunta, agora fechando os olhos enquanto procurava regularizar a respiração para não chorar. Em vão.

- O quê?

Balançou a cabeça, um sorriso triste sendo esboçado em seus lábios quando olhou para quem lhe acompanhava. Parecia impossível que pudesse amar tanto aquela pessoa. Os olhos brilhantes, os lábios sempre tão perfeitos e expressivos e que agora se apertavam em uma linha para conter as lágrimas. Era apaixonado, e por isso lhe doía tanto ter aquela conversa.

- Por que nos conhecemos aquele dia? Não é muita coincidência duas pessoas se encontrarem tão casualmente?

Viu os lábios tão bonitos para si tremerem, o peso daquelas palavras causando impacto para ambos.

- Acho que ninguém acreditaria se contássemos que nos conhecemos assim, na praia, observando os navios passarem.

Ronan aquiesceu, voltando a olhar para os navios que saíam e chegavam ao píer.

- Não mesmo... - Sorriu, fraco, e apontou para um deles. - Olha ali.

- O quê?

- Mais um navio de partida.

Pôde ver o sorriso que brotou nos lábios bonitos. Estava desviando do assunto, tentando ao máximo adiar o momento final.

- É de carga.

- Leva café.

- Hm ­­- A voz pela qual era apaixonado resmungou, e Ronan soube que era porque não era o único a querer adiar o momento. - Já visitou a Bolsa de Café?

Porto da MorteWhere stories live. Discover now