O passado

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Meus olhos se abrem em total confusão e sem um rumo certo de para onde olhar ou o que procurar. Não faço a menor idéia de como vim parar aqui, ou onde é 'aqui'. Tento não abrir muito meus olhos, não por medo do que posso ver ou descobrir sobre o que está acontecendo comigo nesse exato momento, mas pela enorme dor se cabeça que a luz de grande intensidade que está acima de mim está me causando. Meu estado no momento? Estou deitada, punhos amarrados a algo que não posso ver, não tenho movimentos completos em meus pés por falta de controle deles, pois tenho quase certeza que fui dopada. Me sinto ridiculamente tranquila por me achar superior a qualquer pessoa que estivesse em minha situação, por que sei exatamente o que está acontecendo, e o que não devo fazer, como gritar feito uma trouxinha de filme de terror dando o que meu sequestrador quer, pânico. Ele provavelmente ainda não sabe que recobrei a consciência e isso deve ser usado a meu favor agora, pois me dará tempo para raciocinar o que está acontecendo. O mais importante agora é: O que me lembro?

1- Festa

2- Muita bebida

3- Cara gato me dando mole ( o que é estranhamente improvável, mas meu nível de álcool do sangue não me causaria esse tipo de alucinação).

4- Eu estranhamente dançando. ( Tá', isso está ficando muito estranho, primeiro que eu nem deveria ter ido a essa festa, mas minha 'amiga' (colega de quarto) me obrigou a ir por que acha que ainda sou virgem).

5- Fim.

Minha opinião? Fui dopada pelo cara gato, que eu mal lembro o rosto, mas ele era gato por que não beijaria qualquer um. O que eu teria a oferecer? O que ele quer comigo? Okay, acho que preciso me concentrar no agora. QUE DIABOS ESTOU FAZENDO AQUI DEITADA E TODA AMARRADA COM A PORRA DE UM HOLOFOTE NA MINHA CARA? Tortura? Bom, se for, digamos que pelo meu conhecimento estou lidando com um psicopata e não alguém apenas a procura de dinheiro, até por que não tenho muito.

Mas por que alguém iria querer me torturar desse modo?

Meu coração da um leve salto quando escuto um barulho de porta se abrindo, medonho.

Minha boca ameaça emitir um gemido de dor por minhas mãos terem se movido involuntariamente, mas eu o controlo quase como um espirro num momento errado, totalmente inoportuno. Não quero demonstrar medo, desespero, embora esteja apreensiva sobre o que vou passar aqui. O que psicopatas querem?

Pânico, confusão, medo, inferioridade, vítimas que se sintam indefesas e sem saída, ou seja, me ver gritar ou espernear agora só aumentaria seu prazer no que está fazendo. Então entrando no jogo, de modo confiante e desajeitado ao mesmo tempo disse.

- O que você quer de mim? - forcei um sorriso, sabia que ele podia me ver. Não ia perder nenhuma expressão facial que mostrasse o que realmente estou sentindo.

Ele ainda sem contato visual, apenas respirando profundamente de modo assustador e excitante para uma pessoa que ama psicopatologia, admito.

- Abra os olhos. - Vamos lá Tarie, forme o perfil dele.

Pela voz rouca, mas definidamente suave e natural, diria que ele tem mais de 30 anos. Ele aparentava estar supreso por minha atitude, não parece saber muito o que falar, mas planejou o que fazer. Não demonstrou nada em específico que o ligasse a mim, como se aquilo fosse por motivos pessoais. Parece que fui vítima do acaso. Mas isso não muda que agora sou eu, ele não vai mudar seu brinquedo por que eu acho que não serei a pessoa certa para essa brincadeira psicologicamente perturbadora. O que me preocupa agora? Não tenho com quem contar, sou só eu. Espero que ao sumir tenha deixado pistas. Mas quem procuraria por mim? Eu não sou ninguém. Ao deixar a luz invadir meus olhos, meu subconsciente espera encontrar o cara da balada, o qual provavelmente me dopou, o ultimo rosto que vi antes de acordar aqui. Mas talvez certa decepção e algo totalmente diferente me ocorreu, eu tento ser apática aos acontecimentos agora, mas quando um rosto diferente do cara de olhos azuis e cabelos castanhos da noite passada enche minha visão, minha respiração intensifica imediatamente, talvez pela sua ausência eu tenha lembrado perfeitamente sua aparência. Mas o homem grotesco a minha frente não era o Rick. Sua boca não pronuncia mais nada quando suas mãos empurram minha cabeça para trás, na posição de deitada novamente, sinto uma leve dor na nuca. O lugar era completamente sujo e o único lugar iluminado era minha face.

- O que você quer comigo? - Cuspi em desprezo, mas sem resposta. - Onde estou? - Disse depois de um tempo que ele se pôs em um silêncio interminável - ME RESPONDA!

- Gosto da sua audácia Tar.

- Não lembro de termos sido apresentados. - Disse irônica e supresa por ele saber meu apelido de infância, dequales que seus tios chatos te dão quando você tem idade o suficiente para começar a ser bombardeado de gozações. - Que intimidade da sua parte, mas pode me chamar de Tar se quiser. - Tenho quase certeza de seja quem for, me conhece intimamente.

- Você mudou muito Tarie. Muito mesmo.

- Quem é você? Eu sei que me conhece.

- Não seja precipitada. Mas isso não importa agora. Aproveite seus momentos. Pelo que eu sei de você isso será interessante.

Está bem, estou assustada e com medo. Me vem a mente o que estaria fazendo agora, mas não sei há quanto tempo estou inconsciente. Talvez pela ressaca estaria sendo acordada por latidos da minha cachorrinha Cloe, minha colega de quarto estaria em algum quarto de motel com um cara que conheceu em uma balada qualquer e eu iria pedir a Cloe que me desse mais 5 minutos de descanço.

- Ai! - Disse ao sentir o aperto em meus braços. - O que está fazendo? Por favor eu não tenho nada a oferecer a ninguém, muito menos dinheiro.

- Não quero dinheiro Tar, vamos lá, sei que você é esperta. Diga o que eu quero. - Diz ele com a voz alterada, assustando-me. Sua voz ganha um tom mais excitante e macabro a cada vez que sussurra. - Diga... Tar... Diga... Diga... Diga...

- Chega! - Minha garganta ardia pelo choro que estava prendendo desde que ele começou a falar. Era ele, eu reconhecia a voz intimidadora, o modo como falava meu nome, Várias lembranças que foram bloqueadas a anos se fazem mais presentes do que nunca. Eu sentia a dor que ela me causava, como se voltasse aos anos em que sofri nas mãos dele e não tinha ninguém, exatamente ninguém que me tiraria daquele lugar, ninguém que sentisse pena ao ver sua mão percorrer pelo meu pequeno corpo frágil, com apenas 9 anos, me machucando, agindo e me tocando como se eu fosse a mulher dele na qual ele batia e maltratava todas as noites.

O CativeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora