Entrelinhas Ron e Hermione - Livro 1 - Intuições

Em treinamento

Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:

All You Never Say

(Birdy)

"O verdadeiro amor é um calafrio doce, um susto sem perigos"

(Guimarães Rosa)

O acordo entre Ron e Hermione de evitar alguns assuntos se limitava ao período em que estivessem fazendo as rondas. Se soubessem que logo se chateariam um com outro, talvez tivessem estendido aquele acordo a outras ocasiões. Afinal, os dois passaram uma manhã inteira sem se falar depois que o ruivo criticou os gorros que, com tanta dedicação, ela havia tricotado para os elfos.

Mas o mal-estar maior aconteceu quando, ao voltar a falar sobre a sua sugestão de Harry dar aulas de Defesa contra as Artes das Trevas, Hermione acabou citando o jogador búlgaro. Ele fez isso para valorizar as habilidades de Harry, mas claro que Ron entendeu "tudo errado".

A reação do ruivo foi impulsiva. Era sempre assim quando se sentia enciumado ou com raiva. Ele virou tão depressa para a garota que deu um mal jeito no pescoço. "É? Que foi que o Vitinho disse?", perguntou com desdém, mas as orelhas vermelhas denunciam toda a emoção do rapaz.

Hermione deu uma risada seca e balançou a cabeça entediada. Estava cansada daquelas cenas de ciúme que não davam em nada. Isso porque achava que se o ruivo gostava dela, como começava a intuir, deveria declarar o seu sentimento. No entanto, ele parecia só saber reclamar do relacionamento da menina com Vítor Krum. Sem olhar para o ruivo, explicou que o búlgaro ficara impressionado com o fato de Harry saber feitiços que ele não dominava, apesar de estar cursando o último ano em Durmstrang.

— Você continua em contado com ele? - a pergunta de Ron foi feita com uma voz ácida, em tom de acusação.

— E se continuar? - Hermione tentou parecer calma, mas sua voz estava levemente estridente e o rosto corado. - Posso ter um correspondente se...

— Ele não quer ser só seu correspondente! - Ron a contradisse enraivecido.

A menina continuou a conversar com Harry, parecendo indiferente a reação de Ron que, por muito tempo, ainda a encarou com semblante zangado. Ele não entendia muito bem porque ficava assim, mas seu sangue sempre fervia quando Hermione mencionava o nome de Krum.

Tentava convencer-se mais uma vez, como já vinha fazendo desde o final do quarto ano, que não gostava da amizade de Hermione com o búlgaro porque não confiava na sinceridade dele. Também argumentava para si mesmo que tinha um sentimento de proteção pela amiga e queria defendê-la de um bruxo mau-caráter. Afinal, Krum havia se aproximado dela apenas para descobrir os pontos fracos de Harry, seu rival no Torneio Tribruxo.

Sacudiu a cabeça reprovando essas justificativas infundadas. Sim, precisava reconhecer a verdade. Aquela desculpa infantil que havia inventado para tentar esconder o próprio ciúme já não o convencia.

Ron e Hermione têm muitos trabalhos para os próximos dias. Além dos deveres passados pelos professores e das tarefas de monitores, assumem a missão de recrutar alunos interessados em ingressar no grupo, que foi batizado pela menina como Armada de Dumbledore.

A primeira reunião é um sucesso e, para surpresa de Harry, muito mais alunos do que imaginava se interessam em participar da armada. Quando saem do Pub Cabeça de Javali, onde aconteceu o encontro, Hermione testemunha mais uma crise de ciúme de Ron, dessa vez da irmã.