9-Guilherme

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"Não parece certo alguém
Que tem asas ser colocado
Dentro de uma caixa, sem ver
A luz do Sol brilhar

Pra mim, não faz sentido alguém
Que tem asas não ter o céu
Inteiro para poder voar
Se tenho asas, eu sei que o céu é o meu lugar

Eu só queria voar, eu só queria voar
Eu só queria voar, eu só queria voar"

Liberdade -Priscilla Alcântara



Liberdade -Priscilla Alcântara

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1 semana depois...


[Guilherme]

É por volta das treze horas quando resolvo sair a procura de Melissa lá fora. Eu e Bruna conversamos um pouco sobre seu comportamento durante o almoço o qual ela não apareceu.

Melissa obviamente ainda não está plenamente a vontade no novo ambiente e com nossa presença por perto, porém, é visível o seu esforço e empenho para trocar algumas poucas frases ou olhares de interação com um de nós. E essa atitude por si só já é um grande avanço, um pequeno passo de muitos que provavelmente o sucederia.

Caminho em direção ao píer que se encontra na extremidade mais afastada que margeia o lago, onde como eu já previa, Melissa está sentada com a cabeça apoiada sobre os joelhos como de costume, observando a superfície da água tranquila e límpida a sua frente.

-Sabia que a encontraria aqui. -digo anunciando minha presença ao me aproximar por suas costas. -Você perde muito tempo nesse velho píer. -comento puxando assunto. -Posso? -pergunto se posso me sentar apontando para o lugar ao seu lado.

Melissa responde com um dar de ombros ainda sem desviar o olhar do mesmo ponto e abraça as próprias pernas em um aperto maior. Ela claramente está nervosa com minha presença. Então tentando não invadir seu espaço pessoal, eu me sento a uma distância considerável, para que relaxe e possamos manter um diálogo por mais que trinta segundos constrangedores.

-Analisando por outra perspectiva pode-se considerar isso como ganho de tempo e não perca. Pelo menos é o que tenho para mim. -Melissa diz quando já estou acomodado no lugar e imediatamente giro a cabeça em sua direção surpreso com o comentário.

-E eu posso saber o porquê?  -instigo para que ela continue a falar.

-Quando se passa muito tempo enclausurado como um passarinho em uma gaiola... qualquer instante contemplado ao ar livre, onde há cheiro de liberdade por todo lado, é uma verdadeira dádiva. -suas pálpebras piscam algumas vezes como se ela estivesse imersa em um mundo particular seu em sua mente, enquanto seus dedos torcem um fio de lã que está descosturado na barra da manga do casaco que veste.

-O que quer dizer com isso? -questiono cautelosamente atento a cada pequena e nova informação que ela possa me dar.

-Que tenho certa experiência no assunto. No passado... -Melissa começa, mas se detém sacudindo a cabeça ao se dar conta do que está prestes a fazer.  -Não quero falar sobre isso. -ela afirma e em seguida morde os lábios com tanta força que acho que irão sangrar com o castigo que lhes é afligido.

Engulo em seco antes de fazer a próxima pergunta temendo ouvir a resposta que já imagino.

-Você estava vivendo em cárcere privado, Melissa? Alguém estava te mantendo a força em algum lugar?

-Sim... -sua voz não passa de um sussurro rouco quando responde e eu percebo que ela está chorando quando vejo seu peito subindo e descendo rapidamente em um soluço contido.

Melissa derrama lágrimas silenciosas ao elevar o rosto para mim, os lábios tremendo e a pele mais pálida que uma vela fazem eu me sentir culpado por ter tocado em um assunto que a faz reviver seu sofrimento.

-Um monstro arruinou minha vida para sempre quando um dia entrou nela. Agora eu estou tão quebrada que... -ela se interrompe novamente e sei que dessa vez não continuará. -Como eu disse, não quero falar sobre isso. -sentencia com o semblante transtornado e se cala logo em seguida.

Sufoco dentro de mim a vontade que tenho de gritar e sair daqui nesse mesmo segundo atrás do bastardo filho de uma mãe que causou isso a ela. Um dano como esse leva anos para se recuperar e com muita ajuda profissional. E eu me pergunto, como ele pode? Só pode ser um bastardo. Nem ao menos conheço o culpado e já tenho muitos pensamentos homicidas a respeito dele que jamais tive em toda a minha vida.

-Já passa muito do tempo do almoco e você ainda não foi comer. -mudo de assunto sem saber como consertar a situação sem piorar mais do que já está.

-É... eu sempre me esqueço. -ela ri sem graça. -É a falta de costume em ter uma rotina diferente e saudável. -ela desvia o olhar para longe ao perceber que falou mais do que deveria. -Acho que me distraí com a paisagem e o barulho da natureza aqui fora que acabei perdendo a noção do tempo.

Melissa se coloca de pé e bate a poeira da calça dando enfim a conversa por encerrada. Faço o mesmo também me levantando do chão e começamos a caminhar devagar de volta para casa.

-Você é bem diferente da sua irmã. -ela comenta alguns segundos após recuperar do choro que havia derramado.

-Alguém tinha que ser nomal na família. -faço piada e dessa vez ela ri, fraco mas já é um passo.

Um passo de cada vez eu relembro. Já dizia o ditado a pressa é a inimiga da perfeição.

-Mas falando sério agora, Bruna é a caçula de nós dois que somos os únicos filhos dos nossos pais. Ela é um garota muito alegre, comunicativa e fácil de fazer amizades. Se você a considera falante, imagina se a conhecesse há um ano atrás. Era quase o dobro do que é hoje, mas... algumas circunstâncias aconteceram que a tornaram mais introspectiva e menos aberta a qualquer um hoje em dia, entende? Às vezes me pergunto se eu tivesse sido mais atento e previsto, talvez pudesse ter feito algo para mudar ou impedir que o que aconteceu acontecesse. -desabafo sentindo o peso do mundo que carrego nas costas.

-Entendo. -ela concorda anuindo com a cabeça para cima e para baixo. -Todo mundo tem um fardo a carregar nessa vida, mas você nem sempre pode ajudar a todos. Nem sempre é possível. Há coisas as quais ninguém consegue prever e com isso mudar o futuro. Seria ótimo se pudesse, mas não é assim que funciona.

Paramos  em frente a porta de casa quando finalmente chegamos.

-Não sei quem você é Guilherme, mas tenho certeza de que sua irmã o conhece bem e sabe até aonde você seria capaz de ir por ela, então... Acho que é isso que importa no fim. -Melissa diz e segue para o lado de dentro deixando-me pensativo no mesmo lugar.












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Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por ? O que estão achando? Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem? Então é isso. Que a força esteja com você ;)

Beijos borrocados de batom 😘😘

Como eu vim parar aqui -DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora