Capítulo 5: O Anjo da Morte Ascende

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Aquela foi a pior cena da minha existência. O tempo parecia não passar enquanto via minha mãe cair. Caminhava em sua direção, sem conseguir correr, sem forças pra nada, como se estivesse ali, caindo com ela. Atravessando a rua enquanto as pessoas disparavam em sua direção. Alguns gritavam: "Liguem para a ambulância!" enquanto outros gravavam o caos em seus celulares.   Aproximei-me do corpo e pude ver seu rosto lavado em sangue. Suas mãos ainda tremiam e seu coração ainda batia. Posicionei meu rosto sobre o seu peito, atormentado. Chorei como alguém que estava perdendo tudo. Quando levantei a cabeça, as pessoas ainda gravavam."Sádicos! Hipócritas! Vocês deveriam ligar pra alguém, ou pegar um carro e levá-la, eu os amaldiçoo!" 

O semblante do público mudou. Toquei sua testa com minha testa, as lágrimas escorrendo livremente. Até que senti alguém se aproximando de mim. Tentei levantar. Quem poderia ser? Uma luz bem forte irradiava de sua direção, como se um carro com o farol aceso estivesse apontando pra mim. Meus olhos ardiam.

"Vai ficar tudo bem" uma voz disse. Gabriel? Ainda de cabeça baixa e soluçando, agradeci enquanto ele pegava minha mãe nos braços. Finalmente me levantei e percebi que o sangue de minha mãe escorria na minha testa. Meu corpo tremia, não sabia se era de frio ou de raiva de todos ao meu redor. Avistei meu irmão Luke, que permanecia sentado no acostamento - atônito - sem conseguir se aproximar dela, olhando para o chão como se estivesse sem coragem de encarar aquele momento perturbador. Seus amigos o abraçavam em forma de consolo, mas todos não estavam enxergando Gabriel - o anjo - com a minha mãe no colo. Alguns disseram:"Nós entendemos a sua dor"

"Não entendem! - gritei - "Seus falsos! Não digam que entendem!"

Minha mãe estava sendo levada por um anjo? Estou louco? O que devo fazer? Algumas vozes sussurravam entre si, até que alguém disse: "Kevin! Pegue as roupas dela, corra pro hospital e esteja ao lado dela!"Até que enfim... Algum afeto sendo demonstrado. A voz na verdade era de Lissa que assim como eu, também chorava. Os encarei por mais uns segundos e fui em direção a minha casa. Sua frente estava toda destruída, e o carro estava estacionado na sala. Cruzei pela sala e enquanto subia as escadas, vi meu pai na cozinha. Fui até sua direção:"O que está fazendo?" - perguntei - "O que você está fazendo?"Empurrei seu corpo contra um dos armários, segurei sua camisa e o encarei. Eu queria falar tanta coisa! Mas sempre que minha boca abria, as lágrimas ameaçavam sair.

"Por que você é sempre assim? Tranquilo! Ela estava lá caída sangrando e você não moveu um músculo! Ficou aqui dentro como sempre... eu te odeio, eu, te, odeio...

"O que você queria que eu fizesse? Eu deveria sair e pegá-la no colo como o Gabriel fez? Hein?" esbravejou."O quê?""Me diz Kevin... Queria eu eu tivesse saído hoje cedo? E lutasse contra o Rafael com você?"Você o viu? Mas como? Ninguém os vê!""Achei que já tivesse percebido que o mundo não é como você achava antes, seus olhos já viram o suficiente para entender que não existe somente os humanos".

Soltei seu corpo e me afastei. Que homem é esse na minha frente? Parecia um total estranho, aquele que estava sempre na televisão é alguém especial... Meu pai é um anjo? Nada faz sentido. Cada segundo que passa vejo que tudo ao meu redor não passava de uma mentira."Como você os viu? Você é um anjo?"Não Kevin... não sou um anjo.""Então me diz quem você é? E porque apenas nós conseguimos ver eles? O Luke também consegue vê-los? "Você tem muitas perguntas, não consigo responder todas. Não sei a quem se aliou Kevin, mas tome cuidado..."Me responde uma coisa: você é um anjo, demônio... o que é você?"Você está mesmo pronto pra isso? Contarei tudo que posso contar."Quanto mais eu souber, menos perigoso será para quem amamos pai, por favor, seja totalmente sincero."Eu sou seu guardião, e não o seu pai. Encontrei você quando tinha acabado de nascer. Era de madrugada e chovia meteoros. Você estava nos braços da sua mãe, que morria lentamente. Sozinha na garagem, ela tinha acabado de gerar a luz por conta própria. Ela me fez seu guardião. Ela e mais uma pessoa selaram a nossa casa como um lugar seguro, e foi quando fui nomeado seu guardião. Todos já sabiam da minha real identidade, então minha maldição era ficar dentro da casa;. Pois enquanto eu estivesse ali dentro, as pessoas que rastreavam o seu sangue não conseguiriam te encontrar. 

O tempo parecia passar numa velocidade absurda. Eu estava em choque. Era muita informação para processar e minha respiração ficou desequilibrada. Minhas pernas enfraqueceram e eu caí. Eu vinha julgado meu "pai" da forma errada por toda a minha vida. Costumava presumir que ele na verdade era um cara inútil, que não ligava pra mim. E com isso, o privei de sair, acabando com sua vida.

"Sinto muito, eu.... eu sinto muito Kevin, Não era pra isso acontecer... Tentei fazer de tudo pra te manter longe deles, mas eles sempre irão te encontrar, tanto o bem quanto o mal".


Tínhamos muito o que conversar, mas agora eu precisava estar junto da minha mãe, pois eu a amava, mesmo sabendo que ela não era a minha mãe de sangue. Levantei e agradeci por tudo que ele - meu guardião - fez por mim. O permiti sair da casa, pois eu enfrentaria tudo o que viesse. Não iria deixar quem eu amo corresse perigo novamente.

"Tome cuidado Kevin. Não vou sair, prometi que iria proteger você da forma que pudesse, e assim o farei. Você pode salvá-la da forma certa, meu filho. Escolha sempre a forma correta.


Acenei com a cabeça. E enquanto o observava imaginava o quanto eu não compreendia meus sentimentos com relação a ele. Me virei e subi para o quarto dela, juntei algumas coisas numa mala e me retirei. Encarei meu rosto num espelho que ficava no canto do quarto. Quem sou eu? Não consegui reconhecer o desenho do meu rosto fino, sem barba e com os cabelos lisos. Meu corpo estava magro. Quem sou eu? Não mais perguntas! Desci as escadas e o meu "pai" estava exatamente no mesmo lugar, cabeça baixa.

Com a mochila do lado disparei em direção ao hospital que não ficava muito longe. Policiais, bombeiros, repórteres e curiosos preenchiam a rua. Meu ódio por todos eles só aumentava. Dentro do hospital, falei com um dos médicos. Ela já estava em cirurgia "bem delicada", definiram. Sentei na sala de espera. Ansioso. Quando senti o sono chegando, alguém tocou o meu ombro. Me virei e vi Ângelo, que veio até mim e me abraçou dizendo:"Você pode salvá-la Kevin, feche os olhos".Obedeci e fechei os olhos."Agora abra"Quando abri, a sala de cirurgia inundava meus olhos, os médicos estavam tentando parar a hemorragia. Eu não queria ver e fechei os olhos novamente."Por que estamos aqui Ângelo?"Olhe para eles. Acha que estão fazendo tudo o que podem? Eles não se importam Kevin... São abutres e vermes. Ela morrerá logo, afinal para eles é só mais uma vida desconhecida"."Monstros!""Sim, sim, mas você pode Kevin, você pode salvá-la"."Mas como? Como? Não sou especial. Sou apenas um garoto que conseguiu parar um carro." repliquei. "Não deixe que te limitem garoto, vou te dizer como vai salvar a sua mãe""Diga, eu vou fazer qualquer coisa que você mandar"."Ótimo, é assim que eu gosto!"Ele me levou até um prédio alto, onde tinha um Homem parado bem na beirada. Levei um susto. Ele vai pular? Será que se eu salvá-lo salvarei a minha mãe?"O empurre" disse Ângelo."Quê? Você quer que eu o mate? No que isso vai ajudar a minha mãe?"Kevin, o anjo da morte já sabe que alguém vai morrer e virá buscar uma alma, se você o matar, ele irá levar a alma dele e sua mãe vive, não é isso que você quer?""Não posso matá-lo, Ângelo. Não deveríamos salva-lo?""Uma vida pela outra Kevin, o empurre e salve a sua mãe"."Ele é uma pessoa ruim?"É um banqueiro rico, que rouba da população e deixa milhões na miséria, você acha que ele merece viver no lugar da sua mãe?""Não, eu sei que ele não merece, mas não estou no controle da vida, eu não posso, ou posso? Não é mais questão de poder... é questão de necessidade. Ele precisa morrer. Caminhei em direção ao homem e quando fiquei bem perto, ele olhou para trás. Antes que sua boca abrisse para falar algo, o empurrei da beirada. Seus gritos ao cair era agonizante."Agora você pode ir ver a sua mãe" disse Ângelo."Obrigado, mesmo sendo errado. Sou grato por me ajudar, como sabia que o anjo da morte estava vindo buscar a alma da minha mãe?" perguntei."Porque eu sou o anjo da morte".

Entre anjos caídosOnde histórias criam vida. Descubra agora