— Pela manhã quero todas as suas coisas fora daqui.

— O quê? — Ian perguntou em tom agudo e sentiu a mão de Ella em seu braço.

— Ian, não.

— Não o caralho! Ou estou ficando louco ou ela está te colocando para fora de casa! — Ele se voltou para a mãe novamente. — Estou ficando louco, certo?

— Eu e seu pai criamos vocês para serem pessoas normais. — O pai de Ian acariciou a própria testa, desolado ao ouvir as palavras da esposa.

Ian deu um soco na mesa e se levantou quando Ella soluçou ao seu lado.

— Qual é o seu problema? Ella beija meninas! E daí? O que isso muda na sua vida?

— Ian, não me teste. Abaixe o tom. Não vou deixar que fale assim comigo para defender essa... insanidade. — A mãe bradou e ele percebeu que a mão dela ainda sangrava muito.

— Isso — ele apontou para o ferimento dela — é insanidade. A senhora é completamente louca!

— Já chega! — A voz do pai soou firme. — Sua mãe precisa descansar. Estamos todos nervosos. Precisamos nos acalmar para conversar depois...

— Não vai ter conversa alguma. Quero ela fora daqui e falo sério. Não sou mãe de lésbica. Morri para você, Ella. Morri para você! — Com nojo, Ian viu a mulher a sua frente romper em lágrimas.

Ella, ao seu lado, chorava copiosamente em silêncio e se mantinha sentada onde estava desde o início, sem forças para mover um músculo sequer.

— Ella e eu somos filhos da mesma mãe. Se a dela está morta, isso significa que sou órfão também.

A mãe levantou os olhos atônitos para ele. O pai fez menção de dizer algo, mas desistiu ao não encontrar as palavras certas.

— Pela manhã já estaremos bem longe daqui. Não se preocupem. — Foi a última coisa que disse antes de levantar Ella pelos ombros e a acolher em um abraço apertado.

~*~

— Já vai! — Olivia ralhou, ouvindo a campainha soar desesperada. Despejou o conteúdo quente da forma no refratário à sua frente e xingou baixo ao sentir a pele do dedo queimar ao deixar cair um pouco de molho em si mesma. — Cory, atende pra mim por favor. — Choramingou enquanto via a carne borbulhar dentro da panela e tentava desesperadamente salvá-la do queimado.

— Estou ocupado. — Cory respondeu ao longe e pelo eco de sua voz, Olivia soube que ele estava usando o banheiro.

— Ótimo. Literalmente cagou pra mim. — Falou para si mesma antes de limpar as mãos no avental e correr em direção à porta, ouvindo o som estridente da campainha pela milésima vez.

— Seus pais não te deram educaç... — Seus olhos se arregalaram ao ver que não era Ian em sua frente, mas sim a versão feminina dele. — Ella? MEU DEUS! ELLA?

Ella se pendurou em Olivia com tanta ou mais intensidade do que havia feito quando encontrara o irmão.

— Você está aqui! Você está aqui! — Olivia repetia freneticamente enquanto sentia os olhos se encherem d'água.

— Você me deve trinta libras. Eu disse que ela iria chorar. — Ian cantarolou ao lado de Ivete e Ella gargalhou, desprendendo-se da amiga.

— Me desculpe se eu ainda tenho um coração, tá legal? — Olivia limpou uma lágrima e virou-se para Ella novamente. — O que está fazendo aqui? Meu Deus, já faz o quê? Cinco anos desde a última vez que te vi! Você está ainda mais bonita, como pode isso?

Pedaços do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora