Cap. 7 - Cricket

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- Cricket -

Eu não sabia o que fazer. Não conseguia falar, me movimentar. Uma onda de pânico repentina tinha tomado conta de mim. Até o simples ato de respirar tinha se tornado difícil.

Estávamos parados na calçada, um de frente para o outro. Nenhum de nós falava nada. Não tenho certeza quanto tempo ficamos daquele jeito, mas assim que ela começou a falar, tive certeza que iria embora. Cada segundo que passava, cada palavra que ela pronunciava, aumentava o meu desespero e a dor em meu peito.

De repente ela se aproximou e beijou minha bochecha. É quase impossível descrever a sensação que tive ao sentir seus lábios em contato com minha pele. Meu coração, que alguns segundos atrás parecia que tinha parado, assumiu um ritmo descontrolado, minhas mãos começaram a a transpirar feito louco. Se antes eu achava difícil falar, agora era impossível. Meu cérebro entrou em parafuso. Eu não conseguia pensar em mais nada além daquele beijo, em quanto eu queria outro, em como eu queria abraça-la, em quanto queria que ela ficasse.

Mas agora era impossível. Com um casto 'adeus' ela virou e partiu, se perdendo em meio as pessoas.

Pelo que pareceram horas eu fiquei lá parado, vendo-a se afastar cada vez mais de mim. Ela não tinha acreditado no que eu disse, que iria ficar ao seu lado, que queria ajudá-la. Claro que não. Eu era um desconhecido, como ela mesma disse, 'podia ser um maníaco'. Era mais do que óbvio que ela iria embora. E eu tinha que deixá-la ir. Ela não me pertencia.

Esse pensamento só aumentava o vazio em meu peito, a dor se apossava do meu corpo. Senti minhas mãos tremendo. Respirei fundo buscando pelo ar que me faltava. Sentia-me fraco, tonto. Mesmo estando no aberto da rua sentia como se estivesse sufocando. Eu estava tendo um ataque de pânico. Não podia ser. A última vez que eu tive um foi quando... merda!

' Respire Cricket! Respire, se acalme e vá atrás dela! ' , meu subconsciente falava.

Tentei acalmar minha respiração, e juntando todas minhas forças comecei a correr na direção que ela tinha partido. Não podia deixar que fosse embora. Precisava encontrá-la, convencê-la que eu iria manter a minha palavra e ajudá-la.

Liesel tinha entrado em minha vida por algum motivo. O destino não tinha nos unido naquela noite, na minha ponte, à toa. Talvez ele estivesse dando-me a chance de salvá-la, a chance que eu não tive para salvar uma das pessoas que eu mais amava nesse mundo.

Fui ziguezagueando entre as pessoas, procurando no meio da multidão aquela frágil garota em seu casaco vermelho. Não ouvia o som dos carros ou das pessoas ao meu redor, enquanto acompanhava aquele ponto vermelho, perdido em meio à tantos pretos e beges, descendo as escadas apressadamente.

Rapidamente procurei um bilhete nos bolsos, por sorte sempre andava com um reserva. Percebi que não tinha tanta sorte assim quando tomei consciência que a tinha perdido de vista. Desci as escadas percorrendo todo o espaço à sua procura. Assim que entrei na estação, ouvi o barulho da sirene avisando da partida do trem.

'Por favor, não tenha partido Liesel. Por favor, que tenha esperado pelo próximo trem. Por favor!' , pensei.

Coloquei o bilhete na catraca e disparei para a escada rolante. Senti meu corpo ficando tenso. Cada segundo que se passava era torturante. Não esperei chegar o último degrau e pulei. Precisava encontrá-la. Disparei por entre as pessoas, recebendo olhares feios e algumas reclamações. Se fosse um dia normal, eu com certeza teria me importado, teria ao menos pedido desculpas, mas naquela momento aquela era a minha última preocupação.

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⏰ Last updated: Jan 07, 2017 ⏰

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