Capítulo Único

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E Helga Rosenstein puxou a corrente que prendia A Criatura mais uma vez, mas sentiu em suas mãos enluvadas o ferro rijo, com o experimento segurando a própria corrente com um olhar determinado nunca antes visto.

Não era capaz de ferir sua criadora, A Criatura sabia e a doutora também. Por isso o tenebroso ser imaginou os castigos tortuosos que receberia por tamanha audácia que tivera, mas ao invés disso se surpreendeu com um sorriso afiado fazendo-se presente no rosto pálido da mulher, que afrouxou a corrente.

– Você realmente deseja isso? – Ela indagou com as sobrancelhas escuras erguidas e um sorriso cínico a confundir A Criatura que a encarava. – Pois bem, então vá dar uma volta.

Helga Rosenstein tirou do bolso de seu jaleco manchado uma chave, aproximando-se de sua criação e se pondo na ponta dos pés para destrancar a coleira de ferro que o prendia. A Criatura ficou atônita por um instante tateando incrédulo o próprio pescoço que nunca havia permanecido livre, estranhando a sensação.

– Pode ir, a porta está aberta. – Disse de maneira tranquila, apenas deixando A Criatura mais confusa ainda com aquela reação. Não imaginava que seu protesto fosse realmente funcionar, muito menos daquela forma tão pacífica. – Vai logo seu tolo! Ou irei mudar de ideia.

A Criatura então começou a percorrer por conta e de passos hesitantes seu caminho até a liberdade que nem em seus maiores sonhos imaginou que um dia conquistaria. Quando a grande porta de madeira e ferro foi aberta, sentiu o coração de suíno em seu interior pulsar de alegria ao sentir a brisa em seu rosto.

Correu, com uma vitalidade e entusiasmo que jamais conseguiu desfrutar antes. Pode sentir a terra e a grama, encantar-se com o azul límpido do céu e suas nuvens feitas de algodão, os olhos se arregalando ao ver as folhas de outono caindo das árvores e repousando em seus ombros largos. Desfrutou das águas de um lago, tentando pegar com suas mãos os peixes que nadavam ao redor. Seguiu os passos das trilhas de formigas e sentou-se por horas na sombra apenas vendo os pássaros voarem aqui e acolá.

Jamais esteve tão feliz em toda sua vida feita pelo e para o sofrimento, sentindo lágrimas de felicidade aparecerem pela primeira vez em sua face repleta de cicatrizes.

Foi ao crepúsculo a pintar o céu em tons de laranja que então A Criatura notou um filete de fumaça saindo de uma chaminé no horizonte. Por vários minutos observou com curiosidade e dúvida frente aquilo, se questionando se poderiam ser as pessoas que ameaçavam a vida de sua criadora vez ou outra, ou a possibilidade de conhecer pela primeira vez outros indivíduos com quem pudesse aproveitar em companhia a beleza daquele vasto mundo.

Poderia muito bem ter permanecido na segurança da floresta, mas já havia se arriscado tanto naquele dia que A Criatura só era capaz de imaginar todas as novas possibilidades naquele instante, inebriada por um sentimento de liberdade que jamais teve em sua vida cativa.

Aproximou com seus passos largos até o vilarejo que se formava diante de si, observando com um olhar surpreso e petiz as construções simples de pedra e teto de madeira e palha, o moinho a rodar de maneira imponente e os celeiros abarrotados de feno.

O primeiro ser a lhe cumprimentar foi um cão pequeno que se aproximou desconfiado, mas que logo cedeu aos seus afagos. A Criatura provavelmente teria sorrido se fosse capaz, mas seus olhos já espelhavam a felicidade naquele pequeno gesto. Porém, ambos os seres se sobressaltaram quando de repente um grito ressoou em suas costas, fazendo o experimento de Helga se virar atônito.

Uma mulher com um balde de água derrubado diante de si o olhava com uma expressão mortificada, antes de correr por entre as cabanas suplicando por ajuda. Dezenas de cabeças apareceram então para espiar pelas janelas, portas abertas revelando rostos apavorados e enojados com o que viam diante de si. A Criatura virava seu olhar de um lado para o outro não compreendendo toda aquela comoção, até sentir algo chocar-se contra suas costas, notando um homem que tentava derrubá-lo com a pancada de uma pá, mas o experimento de Rosenstein era resistente demais a golpes tão supérfluos, somente encarando sem entender nada o homem de feições raivosas e longo bigode.

A CriaturaWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu