Capítulo 37: Adônis

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Minha felicidade ainda estava em Klaus, Samuel, no meu violão. E nos últimos meses, em Lorena e naquele bebê.

Pensar nele gelava minha barriga. Eu estava tão preocupado com Klaus, que não conseguia tentar ser racional nessa situação. Não achava pistas de onde ele poderia ter ido, mesmo que a resposta estivesse dançando pagode na minha frente. Não conseguia enxergá-la.

Senti a aproximação de Tony antes mesmo dele chegar. Tinha passos fortes, e sempre um barulho irritante de chaves no bolso. Sentou ao meu lado no banco e soltou um suspiro de frustração. Eu bem sabia o que ele estava sentindo.

— Nada. — Murmurou coçando a mão direita. — Até parece que ele evaporou no ar.

— Ou que nunca existiu. — Completei sentindo a dor de cabeça chegar aos poucos.

— Como em um filme de ficção científica — Tony falou com a voz pesada, e eu me virei para ele revirando os olhos das besteiras que era capaz de dizer em momentos como aquele.

— Acho que vou ligar para Lorena. — Puxei o celular do bolso e ativei as teclas. — Já está tarde e ela não me ligou para dizer nada.

— Talvez seja porque ela não tenha novidades. — Ele disse.

Alisei o aparelho cinza em minhas mãos, pensando que talvez eu tivesse que deixar Lorena em paz, um pouco. Não queria que ela se abusasse das minhas constantes ligações. Podia ser que ela estivesse dormindo. Mas a impaciência do meu coração, e o gelo no meu estômago, não me deixariam ficar quieto.

— Ela teve um dia longo. Só quero saber se está bem.

Então disquei o número dela, que chamou por segundos, mas ninguém atendeu. Desliguei, negando com a cabeça para Tony. Minha perna começou a se balançar involuntariamente. Ela estava grávida e sem Klaus. Eu não estava confortável com a ideia dela sozinha em uma casa daquele tamanho com a barriga avantajada. Esperei alguns segundos e voltei e ligar.

O telefone chamou mais um bocado, e enfim, alguém atendeu.

— Loren? — Chamei, mas só ouvi a respiração sofrida e aterrorizante de alguém. Gelei. — Lorena? — Nada de resposta. Levantei impaciente, sentindo meu coração bater feito louco na caixa torácica. — Lorena, por Cristo, responda!

E então foi só um sussurro, e meu mundo caiu:

— Socorro.

Por um tempo fiquei desnorteado no lugar, sem conseguir me mover. Como se tivesse levado um choque e o corpo inteiro tivesse recebendo descargas naquele instante. Daí depois eu corri o máximo que pude, tentando descobrir nesse meio tempo onde tinha estacionado a porcaria do carro. Ouvi os gritos de Tony vindo atrás de mim, mas não parei para olhá-lo. Falei algumas vezes mais no telefone, mas Loren não voltou a responder.

Joguei-me dentro do carro, tremendo quando encaixei a chave no lugar. Tony conseguiu sentar no último minuto, respirando pesado ao meu lado. Joguei o telefone em cima dele enquanto dava a partida.

— Liga para Lorena de novo. — Falei ligeiro, e ele me olhou assustado. — Agora, Tony! — Gritei e ele se retraiu, pegando o telefone sem jeito e discando os números.

Agradeci aos céus que as estradas por ali eram calmas pela noite, ou certamente me envolveria em um acidente.

— Nada. — A voz de Tony saiu afetada, e minha cabeça pulsou mais forte, com estalos característicos de um enxaqueca.

Agora não, cabeça. Depois você pode doer.

Atravessei um semáforo vermelho, e um carro buzinou alto do outro lado.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now