Capítulo 32: Lorena

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— Não. — Respondi olhando para os vinhedos do lado de fora da janela.

— Quais as opções? — Ela perguntou depois de um tempo.

— Adoção ou criar esse bebê. — Minhas palavras saíram secas, mas não pude evitar. Pensar nisso revirava meu estômago.

Falei sério quando disse que fugiria de perto de Klaus se eu achasse que isso seria demais para ele. Só não sabia como uma menina de dezesseis anos poderia fugir com um bebê na barriga para qualquer lugar que fosse sem que a polícia me mandasse de volta para o meu pai.

Meu pai.

Meu coração entrava em colapso cada vez que a imagem dele vinha na minha cabeça. Independente do que fosse fazer, meu pai teria que saber dessa gravidez. E queria acreditar que ele tinha o bom senso de ficar ao meu lado e me ajudar com isso, pelo menos até eu poder me virar sozinha. Mas eu conhecia bem o pastor, então rezei aos céus para que ele tivesse misericórdia de mim e só deixasse de falar comigo nos próximos meses, até eu sair de casa, ou dar o bebê.

— Porque você não vai morar com Diego e Marcos? — Rany perguntou quando um carro passou em alta velocidade do lado dela, abafando metade do som da sua voz.

— Não vou carregar mais um problema para meu irmão em reabilitação, Rany. — Resmunguei de volta para o rosto concentrado dela dirigindo. — Além de que, Klaus iria atrás se eu fosse, e lá não tem faculdade de música.

— E dai? — Perguntou ela.

Respirei fundo, voltei a olhar paisagem e, enfim, respondi.

— Você sabe que eu não vou deixar Klaus desistir do sonho dele.

Ela travou o corpo no volante, fez uma careta estranha e desabou em cima de mim:

— Eu sabia que você diria isso. — Ela fez uma pausa, onde notei os dedos apertando o círculo de borracha em sua frente — Se você resolver ficar com esse bebê, você vai sim senhora permitir que Klaus abandone o sonho dele, ou seja lá o que. Se você pode abandonar os seus, ele pode fazer o mesmo.

— Mas você não entende como isso...

Ela me interrompeu, com a voz mais alta do que a minha.

— O que eu não entendo, é que você queira criar essa criança sozinha. Você terá dezessete anos quando ele nascer, Loren. O que você vai fazer com um bebê?

— Eu não sei, Rany, está bem? Eu não sei o que merda eu vou fazer com um bebê e meus dezessete anos! — Gritei e ela se retraiu na cadeira. Respirei fundo, tentando recuperar o ar. — Mas eu não vou deixar Klaus se meter nessa também.

— Você não fez um filho sozinha. — Ela respondeu à altura.

— A porra da culpa é mais minha do que dele!

Explodi ao mesmo tempo que batia no painel do carro, dissipando minha raiva e frustração por não ter tomado a pílula que ainda estava na minha bolsa. Comecei a soluçar e Rany deu a seta para estacionar no meio da estrada. Baixei a cabeça entre as pernas quando a tontura veio, como Adônis me ensinou a fazer, e respirei fundo. Quando o carro estacionou, Rany puxou meu cabelo e fez um coque desajeitado. Ela só estava preocupada comigo, não tinha sentido algum eu gritar com ela.

Nunca tinha sentido mais vontade de ter minha mãe por perto como naquele momento. Eu queria um ombro de família, e não contaria isso a Diego enquanto ele estivesse se recuperando. E meu pai não seria muito caloroso com a ideia, e esse era o eufemismo do século.

Será que minha mãe saberia antes de mim mesma que eu estava grávida?

Esses "serás" enchem a vida de incertezas e possibilidades.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now