Capítulo 24: Lorena

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— Tudo bem. — Falei firme, puxando seus braços para mais junto de mim.

Ficamos mais algum tempo com a turma, e só quando a banda do palco terminou de tocar, foi que me dei conta de não ter visto Diego depois que sai do teatro. Imaginei que ele ainda estaria com raiva de mim, e isso me deixava muito triste, mas não pediria desculpas por aquilo de jeito nenhum. Se Diego quisesse me ignorar por mais algum tempo, eu ficaria quieta, mas não cederia.

Quando só estávamos eu e Klaus da nossa turma por perto, resolvemos pegar nossas coisas e irmos embora.

Fomos até a moto no estacionamento, com a promessa de que ele me deixaria ali depois para pegar o fusca, e saímos da cidade por uma estrada pouco usada. Ela dava para a fazenda dos Narcole, mas também ia para as colinas. Depois de um tempo parei de prestar atenção no caminho e me foquei nele ali na minha frente. O cheiro bom de madeira e limão que seu corpo tinha. A postura decidida pilotando a moto. Tudo em Klaus me deixava maluca, e quando ele cantou a música para o pai dele naquela noite, eu achei que morreria de orgulho. Foi a primeira vez na minha vida que me vi amando alguém ao ponto de me despedaçar por ela.

Paramos em frente a uma cabana de madeira branca bem antiga. Eu desci da moto passando o capacete para ele sem olha-lo. O lugar ficava exatamente em cima de uma das colinas. Cheirava fortemente a uvas, e quando caminhei um pouco mais, deixando a claridade da lua me ajudar a enxergar, notei um trecho da fazenda dos Narcole logo abaixo, e do outro lado o rio, fazendo seu percurso sinuoso. Eu pensei que a casa de Adônis era o lugar mais bonito que eu já tinha visto em Esperança. Errei feio. Aquilo era impagável.

— Uau! —Falei alto tapando a boca de emoção.

— Você precisa ver ao pôr do sol. — Ele sorriu se aproximando e me abraçando por trás.

— É uma proposta? Porque se for eu já topei.

— A gente pode vir quando você quiser.

— De quem é a casa? — Perguntei ainda sem tirar os olhos da paisagem. Queria gravar cada pedacinho dela para usar quando estivesse desacreditada de Deus, o que acontecia com frequência.

— Era de uma senhora que meu pai cuidou na velhice. Quando ela morreu deixou o lugar para ele em testamento.

— Homem de sorte, o delegado. — Resmunguei.

— Ele não sabe muito bem o que fazer com o lugar, mas nós estamos por aqui toda a semana para alimentar os pássaros e ver se está tudo bem com os trincos. — Klaus me puxou mais para junto dele e eu apertei firme suas mãos na minha cintura.

— Ele poderia pegar uma grana bacana por isso aqui. — Falei já calculando quanto valeria uma casa num lugar como aquele.

— Apareceram algumas propostas, mas para transformar o lugar em um resort ou algo do tipo. E até eu sugeri certa vez da gente se mudar para cá, mas ele negou todas as propostas. Diz que isso aqui é de dona Ana e vai ser para sempre, mesmo que o testamento diga o contrário.

— Entendo... Quem sabe você o convença a vir morar aqui, quando acabar a escola? – Soltei despreocupada e Klaus bufou logo em seguida.

— Não vou ficar em Esperança quando a escola terminar, Loren. E pretendo vir aqui o mínimo possível.

— Tem tanta raiva assim da cidade?

Ele me soltou e voltou caminhando para perto da moto. Virou para mim quando se encostou a ela e soltou um suspiro longo.

— Aquilo que aconteceu na igreja, com a tal da professora, não foi a primeira vez. Já cai na briga com meus colegas de escola por muito menos. — Ele não me encarou, mas eu podia sentir a dor pela sua voz. — Não quero ficar em um lugar onde as pessoas olhem para mim sentindo pena ou asco. Eu não pedi para Laura ir embora, ela simplesmente foi.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now