Capítulo 23: Klaus

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Era uma cabana de madeira em cima de uma colina com uma vista lindíssima para o rio e para a fazenda de uvas dos Narcole. Ele não tinha ideia do que fazer com ela, mas ia lá todas as semanas para colocar comida para os pássaros que tinham ficado, checar fechaduras e se o terreno tinha sido invadido. Às vezes eu mesmo ia em seu lugar, e julgar pelo olhar desesperado que ele me lançava, eu teria que ir hoje de novo.

— Klaus, eu sei que você não tem dormindo bem por conta da apresentação de hoje, e sei que você vai sair meio morto de lá, mas...

— Eu vou, pai. Assim que sair do Festival eu passo lá.

Ele soltou o ar enquanto me jogava as chaves, e eu sorri para ele, as enfiando no bolso da calça. Se esses dias andavam sendo terríveis para mim, com Laura me seguindo pela cidade inteira, quem dirá para ele, com as pessoas apontando e o chamando de corno. Eu não tinha ouvido nada parecido, e que bom que não, porque eu estava bem próximo de socar pessoas por muito menos.

Mas ouvi Samuel e Adônis falando sobre isso. E ontem Rany me disse que Lorena teve que dispensar um colunista do jornal porque ele tinha escrito uma matéria ofensiva sobre essa história. Eu enchi a paciência das duas para descobrir quem tinha sido o idiota. Lorena, como sempre, deu uma de durona e disse que já tinha cuidado do cara, e eu não duvidava disso. Ela era dessas mulheres que faziam você repensar sua masculinidade. Eu não conseguia me comportar como um macho alfa perto da garota, no máximo um macho beta. E eu simplesmente amava isso nela!

— Bom dia, cavalheiros!

Adônis apareceu na porta da cozinha com um sorriso enorme no rosto. Estava com os cabelos molhados e penteado para trás. Já entrando no personagem de Johnny Zuko.

Meu pai bufou quando o viu, e ele já foi pegando uma xícara no armário e sentando à mesa para comer conosco. Adônis já era de casa, e nada daquilo surpreendia mais a gente. Era sempre reconfortante quando ele resolvia aparecer de manhã ou dormir por aqui. Eu sentia que tinha um irmão em casa, melhor que um na verdade.

— Bom dia para quem? — Murmurou meu pai tomando o café.

— Nossa, tem alguém de mau humor logo cedo. — Adônis brincou.

— Ele não parou de receber ligações a madrugada inteira. Parece que quiseram destruir as barracas do festival. — Falei tomando a frente quando meu pai apenas encarou Adônis com uma expressão óbvia de cansaço nos olhos.

—Estou sabendo. Parece que o grupo de Matheus Veloso está envolvido.

— Quem te disse isso? — Meu pai perguntou levantando a cabeça.

— O chefe dos seguranças que meu pai contratou achou um deles querendo se esconder em um beco. O cara estava com latas de tinta spray e martelos na bolsa.

Adônis tinha uma expressão divertida no rosto, e isso meio que confrontava com a visão de seriedade que meu pai tinha das coisas. Ele o fitou como se ele fosse um alienígena.

— Você é doido, sério! — O delegado resmungou e nós três acabamos por cair na risada. Não podia dizer que ele era fã da família de Adônis, mas obviamente era fã do filho deles. Não tinha visto com bons olhos nossa amizade no princípio, mas na primeira vez em que eles sentaram juntos para ver um jogo de futebol, meu pai passou uma semana só elogiando o garoto. Não tinha esse que não curtisse Adônis. Ele era simplesmente um deleite.

— E o senhor é louco por mim, delegado. Sabe que fui a melhor coisa na vida de Klaus. — Adônis piscou para meu pai, que riu baixinho.

— Vocês estão com a vida ganha. Vou tomar um banho e voltar para a delegacia.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now