Modesh devia estar longe, caçando, ou dormindo em alguma caverna nas montas ao leste. O castelo de Rubi não tinha proteções como a academia de dragões da madeira tinha, deixando o dourado livre para ir tão longe quanto ele desejava ir.

Nossa ligação ainda era sua prisão, me lembrei, mas agora tínhamos um objetivo comum. Modesh parecia odiar tanto quanto eu tudo que vinha da névoa e seu campeão. Uma raiva em comum.

Quando estava quase nos limites do castelo ouvi dois pés rápidos se aproximarem, eu tinha ficado longe por tempo suficiente, faltando a apresentação que a rainha tinha ordenado que me fizessem sobre os costumes do Reino e meus afazeres como Herdeira.

Minha corte de fracassados não precisou que eu pedisse duas vezes quando os fiz me deixar em paz e voltar para o que quer que eles costumavam fazer por ali. Para maioria deles, bebedeiras e banquetes.

— Herdeira. — Uma mulher mais velha falou, fazendo uma mesura complicada. Minhas sobrancelhas se arquearam. — Meu nome é Helgan, sou a assistente que mandaram para te ajudar com as tarefas de sua posição.

— Está dispensada. — Falei sem rodeios. Retomando meu caminho até o castelo.

A mulher apertou os lábios, e quando se afastei limpou a garganta para chamar minha atenção.

— O que foi? — Perguntei, me virando mais uma vez para ela.

— A Rainha mencionou que podia dizer isso. — A mulher de cabelos curtos e negros falou. Uma trança bonita e elaborada combinada com tecidos verdes adornava o lado direito de sua cabeça. — Seu próximo encontro é com ela. E já está atrasada.

Xinguei baixinho. Eu devia reconhecer que a Rainha de Rubi era inteligente, apesar de extremamente ardilosa. Ela tinha o que eu precisava, o diário de Alintanie, a antiga general que conseguiu finalmente acabar com os dias de terror e derrubar o Campeão da Névoa, a primeira Rainha de Rubi. A rainha estava disposta a me entregar o tesouro mais bem guardado de seu reino, e em troca, eu precisava descobrir quem estava matando seus preciosos herdeiros. 

Estava mais do que claro que era um trabalho de alguém de dentro.

Pelo que eu já tinha descoberto, dois herdeiros tinham sido mortos, ambos já tinham sido substituídos mesmo antes de minha chegada. E um dia antes da missão ser dada a mim, a primeira herdeira, e favorita da rainha, Nira, tinha sido empurrada do topo de uma das escadas do castelo, por alguém que não viu o rosto.

Segui silenciosamente Helgan pelos corredores do castelo, alguns deles, mesmo depois de um dia naquele lugar, que eu ainda não tinha conhecido.

Ela me levou para um lado diferente do castelo, menos adornado e brilhante, quando passamos um portal de madeira clara por entre dois guardas fortemente armados e equipados com armaduras prateadas, me surpreendi. Parecia outro lugar. Em nenhum lado se via as cortinas pesadas vermelhas de veludo que adornavam os salões do castelo. Tudo ali era mais simples, mas não deixava de ser extremamente bem decorado.

— Toda essa ala é privativa da Rainha. — Helgan informou. — Poucos podem vir aqui. 

Paramos na frente de uma porta grande e pesada, da mesma cor clara do portal que tinha visto anteriormente. Ela se abriu devagar e eu entrei. 

Para minha surpresa minha corte já estava lá, e nenhum deles parecia muito feliz com isso.

— Já falei o que tinha para falar com vocês. — A Rainha falou severa, seu tom de voz cortante como uma faca afiada. — Sabem as consequências do comportamento que estão tendo, o que isso pode trazer para vocês e suas famílias. 

A Herdeira de RubiOnde histórias criam vida. Descubra agora