Assim que saí de junto deles percorri os corredores com rapidez e não tardei a encontrar o que procurava. Enfiei-me à pressa na sala dos funcionários do hospital e vesti uma das batas disponíveis, fazendo-me passar por um dos enfermeiros e dirigindo-me de imediato à ala onde os pacientes esperavam pelos resultados do raio-x.

Entrei tranquilamente e logo a encontrei, encolhida sobre si mesma num dos bancos desconfortáveis do hospital. Ela está pálida e despenteada, mas ainda assim contínua deslumbrante. A sala está praticamente vazia, além de Tris e dois velhinhos sentados no canto oposto não está aqui mais ninguém.

- Da próxima vez, a Rose que se contente com uma partida de cartas.- Aproximei-me dela pelas costas e sorri ao vê-la voltar-se numa expressão de espanto.

- O que é que...

Tirei rapidamente a bata e guardei-a na mochila, fazendo-me passar por um dos pacientes em espera na sala. O meu objetivo estava cumprido: ficar com ela a sós.

- Como estás? - Perguntei, ajeitando-lhe o saco de gelo junto do tornozelo inchado.

- O que estás aqui a fazer?! - A voz dela está tão fraca que é quase inaudível.

- Vim ver-te. - Respondi com naturalidade. - Dói muito?

Ela acenou silenciosamente e encostou a cabeça na janela, respirando devagar.

- Ela empurrou-me. - Disse ao fim de uns segundos, sem me olhar diretamente.

- Eu sei.

- Ela é horrível. - Continuou, quase num sussurro.

- Eu sei.

- E tu és um imbecil por estares com alguém como ela.

Eu ri baixinho e coloquei-lhe uma mecha solta de cabelo atrás da orelha, tal como na primeira vez que nos vimos.

- Eu sei.

Ela fechou os olhos e eu pensei para mim mesmo que nunca a vi dormir e que definitivamente isso é daquelas coisas que eu não posso morrer sem fazer primeiro.

- Pára com isso. - Pediu ela, com os lábios apetecíveis a curvar-se num sorriso.

- Com o quê?

- Estás a olhar muito para mim.

- Vales a pena ser olhada. - Sussurrei, provocando-a.

- Borhan... a Tinna e o Louis...

- Shh. - Toquei-lhe com o dedo indicador nos lábios frios e aproximei-me do seu rosto. - Que eu saiba olhar não tira pedaço.

- Mas beijar tira. - Respondeu ela perante a nossa crescente proximidade.

- E quem te disse que eu te ia beijar? - Curvei-me sobre ela e depositei um pequeno beijo na ponta do seu nariz, fazendo-a sorrir. Subitamente a sua expressão alterou-se e ela afastou-se com rapidez.

- Vai embora, nem devias estar aqui.

- Foda-se, Bea. - Sussurrei, enterrando a mão no cabelo. Eu devia ouvi-la. Eu devia saber que nem todas as miúdas estão dispostas a viver segundo as minhas normas, muito menos ela. Eu devia saber que ela é de coisas sérias, não de aventuras breves sem compromissos. Assim que me apercebi disso, como já acontecera com tantas outras, eu devia simplesmente deixá-la, como aconteceu das outras vezes... mas com ela é diferente. É quase como se ela fosse uma droga poderosa, e assim que a provei pela primeira vez nunca mais consegui experimentar coisas mais leves. Eu não a amo, nem coisa que se pareça, mas eu quero-a de todas as maneiras, eu preciso dela de uma forma quase urgente, quase demente mesmo...

Love WingsWhere stories live. Discover now