O maior desejo de Paula naquele momento foi ter um buraco onde pudesse se enfiar ou quem sabe... Ser capaz de voltar no tempo e não estar ali... Completamente despida na cama de Letícia, enquanto a namorada dela berrava e esmurrava a porta do lado de fora do apartamento:
- Letícia, abre essa porta! Que merda!
Levantou, juntou as roupas no chão e começou rapidamente a vestir-se.
A tentativa de Letícia tranquilizá-la só tornou tudo pior ainda:
- Calma, eu não vou abrir.
O barulho parou um pouco. O suficiente para Paula ir até a sala, com Letícia atrás dela:
- Paula... Me escuta... Eu juro que eu não...
Foi interrompida pelas batidas e gritos, que voltaram com mais fúria ainda:
- Tem alguém com você? Letícia, eu não acredito! De novo? Tem outra vagabunda aí?
Depois a voz se tornou chorosa:
- Você prometeu... Jurou que não ia mais me trair...
O celular de Letícia começou a vibrar e a tocar em cima da mesa...
Paula sentou na primeira poltrona que encontrou, sem saber o que pensar, o que dizer, muito menos o que fazer...
Letícia ajoelhou na frente dela, segurou Paula carinhosamente pelos braços e pediu:
- Por favor... Me deixa falar...
Não tentou se desvencilhar, foi imperativa:
- Me solta.
De um jeito impossível de não ser obedecido.
Quando as mãos de Letícia se afastaram, Paula levantou a cabeça, olhou dentro dos olhos dela e disse:
- Eu quero ir embora... Agora.
Num único impulso, Letícia levantou... Ficou andando em círculos... Enquanto a mulher lá fora continuava... Aos gritos:
- Letícia, sua filha da puta! Eu não vou embora enquanto você não abrir!
Havia um constrangimento nítido... Quando Letícia parou de novo na frente de Paula e pediu:
- Desculpa por te colocar nessa situação.
A frase foi a gota d'água, fez Paula levantar e esbravejar:
- Não, eu não desculpo, não vou desculpar nunca, isso é indesculpável!
Percebeu que estava gritando...
Respirou fundo, tentando conter-se... Inútil.
Voltou a sentar na cadeira, manteve os olhos fixos no piso de madeira clara. Naquele momento, se voltasse a olhar para Letícia, seria capaz de matá-la.
Não pediu, exigiu:
- Resolva isso.
Letícia virou de costas para ela, cobriu o rosto com as mãos... Ficou um tempo assim... Respirando de um jeito audível...
Quando voltou a olhar para Paula, o olhar dela tinha mudado, estava... Profundamente abatido:
- Eu vou sair, você tranca a porta atrás de mim e espera um pouco. Vou levar ela daqui e aí... Você pode ir.
Fez uma pausa antes de completar:
- Tranca a porta e leva a chave.
Não precisou falar:
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O INFINITO EM OUTRAS VOLTAS
RomanceO que você ainda sabe sobre seu primeiro amor? Letícia e Paula se descobriram lésbicas juntas, em uma paixão adolescente avassaladora. Mas isso não era suficiente para Letícia: ela queria provar e experimentar mais, tudo que a vida pudesse lhe ofere...