Capítulo 2

115 4 2
                                    

O maior desejo de Paula naquele momento foi ter um buraco onde pudesse se enfiar ou quem sabe... Ser capaz de voltar no tempo e não estar ali... Completamente despida na cama de Letícia, enquanto a namorada dela berrava e esmurrava a porta do lado de fora do apartamento:

- Letícia, abre essa porta! Que merda!

Levantou, juntou as roupas no chão e começou rapidamente a vestir-se.

A tentativa de Letícia tranquilizá-la só tornou tudo pior ainda:

- Calma, eu não vou abrir.

O barulho parou um pouco. O suficiente para Paula ir até a sala, com Letícia atrás dela:

- Paula... Me escuta... Eu juro que eu não...

Foi interrompida pelas batidas e gritos, que voltaram com mais fúria ainda:

- Tem alguém com você? Letícia, eu não acredito! De novo? Tem outra vagabunda aí?

Depois a voz se tornou chorosa:

- Você prometeu... Jurou que não ia mais me trair...

O celular de Letícia começou a vibrar e a tocar em cima da mesa...

Paula sentou na primeira poltrona que encontrou, sem saber o que pensar, o que dizer, muito menos o que fazer...

Letícia ajoelhou na frente dela, segurou Paula carinhosamente pelos braços e pediu:

- Por favor... Me deixa falar...

Não tentou se desvencilhar, foi imperativa:

- Me solta.

De um jeito impossível de não ser obedecido.

Quando as mãos de Letícia se afastaram, Paula levantou a cabeça, olhou dentro dos olhos dela e disse:

- Eu quero ir embora... Agora.

Num único impulso, Letícia levantou... Ficou andando em círculos... Enquanto a mulher lá fora continuava... Aos gritos:

- Letícia, sua filha da puta! Eu não vou embora enquanto você não abrir!

Havia um constrangimento nítido... Quando Letícia parou de novo na frente de Paula e pediu:

- Desculpa por te colocar nessa situação.

A frase foi a gota d'água, fez Paula levantar e esbravejar:

- Não, eu não desculpo, não vou desculpar nunca, isso é indesculpável!

Percebeu que estava gritando...

Respirou fundo, tentando conter-se... Inútil.

Voltou a sentar na cadeira, manteve os olhos fixos no piso de madeira clara. Naquele momento, se voltasse a olhar para Letícia, seria capaz de matá-la.

Não pediu, exigiu:

- Resolva isso.

Letícia virou de costas para ela, cobriu o rosto com as mãos... Ficou um tempo assim... Respirando de um jeito audível...

Quando voltou a olhar para Paula, o olhar dela tinha mudado, estava... Profundamente abatido:

- Eu vou sair, você tranca a porta atrás de mim e espera um pouco. Vou levar ela daqui e aí... Você pode ir.

Fez uma pausa antes de completar:

- Tranca a porta e leva a chave.

Não precisou falar:

O INFINITO EM OUTRAS VOLTASOnde as histórias ganham vida. Descobre agora