21 hours ahead

70 22 17
                                    

"amor, você não pode ver? pra mim, você é a pessoa certa e se eu não sou pra você, não diga" ‒ fishtail, lana del rey

Oops! Bu görüntü içerik kurallarımıza uymuyor. Yayımlamaya devam etmek için görüntüyü kaldırmayı ya da başka bir görüntü yüklemeyi deneyin.

"amor, você não pode ver? pra mim, você é a pessoa certa e se eu não sou pra você, não diga" ‒ fishtail, lana del rey


sentada na beira da lagoa, vi três corolas pequenas encolhidas, dançando ao som da falsa correnteza, a cesta de piquenique esquecida há dois metros de distância. eu queria ter feito diferente, cumprido promessas durante épocas em que estive mais perto, quando a saúde laureava sorrisos e não empunha o branco e preto no quadriculado xadrez. agora, o bebê sumiu da manjedoura, anjos sangram pelos olhos e eu mal reconheço o que idealizei para nós desde que te conheço.

sempre estivesse apaixonada por sua mente, yves. e eu desejo que esteja pela minha também.

todas as estações fazem um estardalhaço no meu coração. esqueço onde parei. suas palavras sempre regem o tornado. teria como ser diferente? por que pesa tanto? por que nunca consigo te alcançar? por que minhas briófilas estilhaçadas te observam como ervas daninhas em um campo de batalha esotérico? eu e você estamos dentro dessa embarcação velha, mas ainda não consigo entender se eu sou a razão de termos afundado.

suas conquistas se levantam sobre mim como montes gigantescas de ouro e prata, costurando-se na pele de cobre, e destoa tão desigual que tenho vontade de te alertar para minha falta de nobreza, falsa dignidade, insuficiente amor, que pena em alcançar a vastidão de um ninho milenar, um castelo repleto de penas azuis. e quando eu penso que está na hora de virar o corpo para trás e abandonar tudo que me tanto encanta, lembro-me de que é impossível se desvencilhar de fantasias em que eu comecei em primeiro lugar.

dentro do meu cantabile doentio, varro sua existência coesa, penteando fios, amansando carne, triturando antigos amores, invejando toques...paro, sinto o vento úmido da água doce, volto ao meu lugar de miséria e sei que não vou te reerguer do fundo da lama, que não vou invocar o espírito de um amor por mim que nunca existiu. 

talvez eu seja obcecada pela ideia de poder te amar em um universo onde os planetas se entrelaçam em toda sua pele, as estrelas dançam uniformemente e a gravidade me puxa no sentido dos seus pensamentos. talvez eu perigosamente invada seu espaço pessoal com medo de perder o pouco que eu tenho para respirar, mas estou em terra firme, a grama faz cócegas nos pés e a barra do vestido já está completamente enxarcada. 

de novo, as abelhas anunciam a presença das flores na beira do lago. tento me concentrar nas corolas, mas meu cérebro traiçoeiro me puxa e me coloca de volta na realidade com tamanha brutalidade que tenho dificuldades para decidir se te amo ou se te odeio por não conseguir me idolatrar como a idolatro.

tantos anos depois, vinte e uma horas de distância, é como se a falta de proximidade representasse um desejo profundo de terror e vexame. uma incompetência singular por não conseguir compactuar sua figura, por não conseguir te fazer sentir um pouco desse amor-perfeito que tanto escorre de mim e espalha dentre as linhas do mapa, de sevilha à são paulo, formando novos meridianos incorrigíveis. a geografia do meu coração é um desastre, uma tragédia...

acho que não posso mais consertar as coisas. não posso dedicar mil palavras, tecer mais letras do que você, desemperrar portas marrons ou tentar decifrar o significado de todas suas pétalas sem afundar no lago, sem perder a consciência ou pensar que todo o diagnóstico é uma grande coincidência. porque, afinal, madeira molhada apodrece, e eu percebi que tenho mastigado tábuas há muito tempo.

sabe, yves, talvez, quando ficar mais velha, eu encontre meu próprio fecho e compreenda o que você quis dizer. talvez eu encontre paz e entenda que você não foi feita pra mim.

 talvez, eu esteja dentro dessa embarcação velha.

talvez, você nunca tenha afundado pra longe de mim, porque a probabilidade de você estar junto nessa comigo é pequena demais pra quem te inveja tanto.

e eu ainda não consigo entender se eu sou a razão de você ter pulado.

eu te inventei, yves.

"não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. quero uma verdade inventada" ‒ clarice lispector

envious.Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin