II. Silhuetas e vãos

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Eu costumava ser seu vestígio de luz, mas estava tão escuro aí dentro. E essas fagulhas se extinguiram em um único e desapiedado instante. Nós tínhamos tudo, mas eu não podia te dar nada em troca. Você não deveria ter se apaixonado, mesmo quando eu tive a minha parcela de culpa derramada.

Você tem suas bordas afiadas, modelando o espaço. E em seus olhos, eu me enxerguei em transição. Estava esperando a chuva passar, mas ela nunca veio. E eu não fui nada sem você, sem seu olhar de esguela, sem o Sol e as risadas roucas nas manhãs que existiam apenas para nós.

Te fiz esquecer, você lavou o tempo. Chuvas de verões são momentanêas, você sabe. Quando as nuvens se dispersam, o Sol volta a queimar. E isso arde tão fundo.

Visualmente, você é como uma silhueta intocável no vão, existindo apenas para nós. Deixe-te ir faz algum tempo. E você ainda não entende o porquê... Tem razão, não podemos tocar no que está morto. Eu estava em sua cabeça esse tempo todo, mas você não pode me tocar, Taeyong. Nunca pôde.

Para você, eu sou um fantasma. Para mim, você é apenas mais uma silhueta intocável.

Deixo-me partir, esperando que você não tente segurar esse vazio. O tempo não pode ser esquecido enquanto as sombras não forem de vez, e os corações não estiverem afundados. Vãos e silhuetas. Tudo o que não fomos. Tudo o que poderíamos ter sido. Fantasmas e visões. Sensações, mas não reais. Eu queria não ter sido tão real para você também.

Porque eu não posso tocar no que está fora do meu alcance, Taeyong. E você não pode amar o que está morto.

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