Poeta Das Manhãs [reescrevendo]

4.No lugar certo

Devolvo o livro ao lugar em que peguei, desistindo de tentar focar em alguma coisa, e vou para o chuveiro.

No carro, percebo que Lory está inquieta. Animada.

Imagino que vá ser estranho avaliar garotas para o grêmio, já que nunca tivemos um método em específico para escolher quem entraria. Apenas buscamos por amigos ou artistas que precisassem de amparo artístico nesse forte que construímos.

Mais uma vez me pergunto porque ela mesma não podia dar conta disso. Seria até mais prático, afinal que critério devo seguir para escolher uma artista, e como faço isso sem fazer parecer que estou interessado em algo mais?

Definitivamente não sei como agir perto das mulheres. Não sei nem mesmo como agir perto de minha irmã.

Mas Lory está sendo tão paciente em me trazer, me guiar e estar ao meu lado, que devo isso a ela. Na verdade, por ter ido embora e deixado todos a deriva, devo muitas coisas a ela.

- Você vai adorá-las. Quer dizer...- Ela diz, com os olhos na estrada - Algumas garotas me pareceram um tanto...exageradas.

- Então você já as conhece?

Mais uma vez...Porque eu estou aqui???

- É...eu realmente poderia dizer já de prontidão quem você precisa escolher. - Ela tira os olhos do caminho e me dá um sorriso - ...Mas se eu conheço você, vai saber sozinho.

Vou mesmo?

- Você sempre soube me alertar sobre minhas amigas que falavam mal de mim na época da escola. - Ela continua. - Você tem uma espécie de radar, eu acho.

Se eu tivesse, jamais teria me interessado por Natalie.

- A qual é? - Digo em meio a uma risada - Todo mundo sabia disso, só você não conseguia enxergar.

- Tudo bem...- Ela diz, também sorrindo. O que me mostra que esse assunto não a afeta mais.
Pelo visto sou só eu que não supero traumas de colégio.

- Mas...- Ela diz - Você foi o único que tentou me dizer, ou que se importou.

- O que isso quer dizer?

Ela ri.

- Quer dizer que...você se preocupa em manter as coisas no lugar certo. Pelo menos as coisas com que se importa.

Ficamos calados por um tempo. Minha mente digerindo aquela informação.

Devo parar de me martirizar tanto assim pelo que fiz e simplesmente consertar as coisas? Mas o que eu tenho de consertar? Todos seguiram suas vidas sem mim. É como se eu só estivesse me lamentando e sentindo um medo totalmente idiota de ser rejeitado. Eu estou me rejeitando.

Decido que posso fazer isso. Posso conversar com artistas sem suar frio. Conhecer mulheres brilhantes com habilidades incríveis sem sentir que estou sendo um completo idiota vindo da idiotolândia e agir com a naturalidade que sempre usei nas minhas antigas decisões de líder.
Ninguém está me culpando além de mim mesmo. Coragem!

Estou com medo.

Lorelai estaciona o carro na entrada do casarão onde é nosso grêmio. Saímos do automóvel e minha irmã me leva ao jardim dos fundos, onde será supostamente o local do sarau.

Deus, que isso ainda não tenha começado!

- Ainda não começou. - Lorelai diz, balançando as chaves do carro entre os dedos. Não vejo seu rosto pois ela anda na minha frente, mas sinto que está rindo da minha cara. Com toda certeza.