10 - Pesadelos

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A manhã seguinte não prometia nada de diferente, depois que me despedi de Victor alegando querer ficar sozinha acabei por ouvir os pensamentos do garoto que tinha esbarrado em mim. Inconscientemente acabei respondendo e arrancando algumas informações sem sua permissão, Gabriel vivia a sombra de um acontecimento fatídico do passado.

O que vi em sua cabeça foi repassado em meus sonhos dessa noite, a linda garota que ele tanto amava estava morta aos seus pés e ele não pode fazer nada. Lágrimas despencavam dos meus olhos com o peso da culpa em meus ombros, eu estava distante da academia mas tinha certeza que era com isso que ele sonhava e que de alguma forma acabei me apegando a essa dor como um vínculo.

O resto da noite eu passei em claro olhando pela janela uma tempestade distante que se formava além das cidades de Oncep, na cratera além mar não existia nenhuma forma de vida. Os cataclismas normalmente aconteciam por ali embora as raras vezes que chegavam ao novo mundo as consequências eram devastadoras.

Escutei a porta da frente abrir e me apressei a ver quem era, Victor se esgueirava para dentro de casa com uma expressão cansada no rosto, algumas marcas de batom sujavam seu pescoço e sua mandíbula. Ao notar minha presença ele se aproxima com um sorriso simpático.

- Ainda acordada, tampinha? - bagunçou meus cabelos castanhos claro com sua mão grande e pesada.

- Não consigo dormir, pesadelos. - embora não sejam os meus pesadelos estavam de fato me assustando, ele virou para olhar a porta do quarto do pai e fez sinal para que en entrasse em meu quarto, ele me seguiu e fechou a porta devagar para não fazer barulho.

- Eu também tinha muitos, venha. Nada melhor para espantar os pesadelos do que companhia não acha? - ele riu retirando o coturno, o cinto, a jaqueta e a blusa. - Vou tomar um banho.

Ele entrou no banheiro e eu ouvi o barulho da água, aproveitei psra espiar um pouco mais a janela. Aqui era frio a noite, não como Oncep, era um frio gostoso de sentir na pele. Depois de um tempo Victor saiu do banheiro vestindo a calça do moleton que eu usava psra dormir, os cabelos castanhos café estavam molhados, o peitoral forte desnudo deixando a vista algumas cicatrizes de batalha. Sorri para ele e me deitei na cama sentindo o lado afundar com seu peso, eu me sentia uma criança dormindo com um gigante, ele tomava conta da cama quase inteira.

- Feche os olhos e durma, caso o pesadelo volte embora eu duvide que ele se atreva a voltar com minha presença, eu estarei aqui com você. - era uma lógica infantil, mesmo que meus pais tenham me dito psra enfrentar os pesadelos sozinha quando eu era criança. Me deixei levar pelo cansaço e me segurei na certeza de suas palavras.

[···]

Os pesadelos não voltaram, acordei provavelmente o mesmo horário de sempre e encarei a janela, eu estava sozinha na cama bagunçada. Olhando de uma forma ampla eu ficava perdida em meio aos lençóis sem o gigante do meu lado.

- Bom amanhecer! Como se sente? - por um momento achei que ele tinha me enganado e sumido durante a noite, mas ele estava ali saindo do banheiro com os cabelos molhados e um sorriso fácil.

- Eles não voltaram. - respondi contendo ums felicidade, ele e Tavarres estavam cumprindo a risca o que me falavam. Diferente das pessoas que diziam se importar comigo.

- Eu falei, os pesadelos morrem de medo de mim. - ele cruzou os braços gargalhando com um orgulho exposto, acabei rindo também e a porta do quarto foi aberta. Tavarres entrou nos encarando e em seguida sorriu.

- Ah, vocês estão aí! Eu fiz o café. Hoje o dia será longo. Espero vocês. - ele pareceu não se importar com o fato de estarmos no mesmo quarto, Victor deu de ombros pegando suas roupas do chão.

Numbers Zero - Livro 1(DEGUSTAÇÃO) Where stories live. Discover now