a arte, assim a ele se referia, do sexo e o quanto este podia ser alegre.

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Mais pra gordinha, como os seios e traseiro arrebitado, sempre atraíram a preferência dos homens que ela conhecia. Sabia e gostava disso. Descobrira ainda adolescente essa atração e aprendeu a gostar de fazer o que todos eles desejavam fazer com ela. Um homem mais velho, vizinho no mesmo prédio de apartamentos onde crescera, lhe ensinara a arte, assim a ele se referia, do sexo e o quanto este podia ser alegre.

Nas horas extras, ensinou-lhe também a querer fazer, como uma profissão exercida com talento voluntarioso. E o campo inicial de treino e experiência foi no mesmo edifício. Voando em línguas viperinas e ciumentas, chegou até os ouvidos de seu pai o que ela aprontava com os moços do prédio. E os não tão moços. Igual àquele, cuja esposa era também dona de uma das tais línguas. Motivo de sua expulsão do convívio com o pai, que, de tão severo e viúvo, preferiu lhe pagar o aluguel num outro lugar, a ter de aturar a vergonha de ter filha assim. Assim? E ecoou pelas escadas: Desavergonhada!

Mas esses eram ecos respingando em águas passadas, coisas da juventude. Agora não, com o tempo e a vida, aprendeu a evitar possíveis dissabores, como esposas e doenças venéreas. E depois de um aborto, aprendeu e jurou não deixar isso se repetir. Por isso, aos trinta anos, quando operou dos ovários, não foi por tumor e sim por sossego. Aborrecimentos, os quais podiam ser poupados sem aviltar nem a si nem a ninguém, era um de seus lemas. O prazer, sua bandeira. Inclusive na mesa, culpada pelos quilos a mais que às vezes alargavam sua cintura. Nada que dieta de alguns dias não conseguisse fazer voltar ao peso da semana anterior.

Recebera religiosa e mensalmente dinheiro do pai, até este falecer. Ao imóvel herdado, nem quis rever, contratou imobiliária para tomarem conta de seu aluguel. Preferia assim, um pagava o outro, e este, metade em espaço e custos, lhe fornecia dinheiro suficiente. Porque ela não era de gastar com frivolidades. Só quando as contas ficavam apertadas demais, pedia ajuda a alguns amigos, homens. Que amiga não tinha nenhuma. Mas quando o fazia era por necessidade urgente, coisa rara. Devolvia em espécie. Mas no seu estilo, e eles assim preferiam, único, pessoal, divertido e discreto. Afinal, a maioria era de homens comprometidos. Coitados.

Ananita era assim, uma mulher quase ingênua, quase devassa, quase libertina, costumada em sexo e descomplicada.

Não tinha preferências muito exigentes a respeito da maneira de fazer sexo, da aparência ou idade da pessoa.

A excitavam também as situações divertidamente eróticas, às vezes mais compensadoras que a penetração propriamente dita. Como excitar homens dentro de ônibus apinhados, roçando o traseiro nas suas virilhas até sentir a ereção que devia provocar-lhes o gozo. Ela sorria discretamente. Libertina.

Ou excitar os coitados dos garotos da vizinhança com a exibição de seus seios ao léu na sacada do apartamento; lunetas brilhavam ao sol e à lua quando nua se pavoneava por ela.

Ou fazer sexo oral nos locais mais curiosos ou perigosos de serem surpreendidos, a ela e ao dono do que tinha na boca:na sala de um cinema; na casinhola do vigia de prédio ou casa em construção; atrás do balcão do zelador; no descanso de escadas entre andares; debaixo da mesa de um bar; no ambulatório de fábrica; na sala de consultório de médico; no banco traseiro de táxis ou dianteiro, no motorista do próprio.

Ela era muito popular nos pontos de táxis na periferia de sua casa. Muitos deles, quando a vêem passar, fazem questão de oferecer-lhe carona. Estes, da mesma forma que os outros profissionais, cada um na sua área, nada lhe cobravam pelo serviço prestado. Os técnicos chamados para consertar os mais diversos problemas da casa, a esses, ela seduziu quase todos. O que arrumara o equipamento de vídeo, nada cobrou por isso: contentou-se com assistir um filme pornô bem junto dela; o homem que deixou em estado de novo o aparelho de som: um tango sensual bem apertado com ela nua, e não se fala mais nisso; nem aquele que, após consertar o chuveiro, testou seu bom funcionamento tomando banho juntos.Enfim, todos consideram o sistema de pagamento muito satisfatório. Na sua maioria, telefonam de vez em quando para saber se está precisando de algum serviço novo. E ela diz que sim, mesmo sem precisar, só para se divertir e alegrar o outro. A maioria homens infelizes de tão casados. Coitado, ela pensa, e responde, sim, pode vir.Ananita era assim, uma mulher quase pura, quase devassa, quase libertina, costumada em sexo, descomplicada e popular. E puta, mas sem-vergonha.Mas... Essa solidariedade entre ela e as pessoas, iria mudar. Sem quê nem para quê, num abrir de pernas e fechar de olhos, um fim de semana inteiro passado com aquele homem sem nome, não fora o bastante. Tão feliz e encantada se sentira ao seu lado, que nem percebeu o perigo, quando a segunda feira lhe fez sentir um vazio nunca antes experimentado.

Sem quê nem para quêWhere stories live. Discover now