Capítulo 1

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Sete anos depois...

Me formar em enfermagem não foi fácil e nem passar na prova para trabalhar nesse hospital.

Mas Deus me ajudou, e agora eu vou conseguir ajudar minha mãe.

Ela está doente e o tratamento não é barato.

O hospital que vou começar a trabalhar é da rede privada, grande e sofisticado. Eu tinha feito estágio em um bem menor e nada luxuoso, da rede pública. Nesse eu ia ganhar bem mais e trabalhar menos.

Eu esperava que, enfim ia ter um tempo para passear, ler um livro e dar mais atenção pra minha mãe.

- Mãezinha, a senhora está bem melhor!

- Eu já estou velha minha filha, não me importo de morrer.

- Não diz isso mãe!

- Você já é uma mulher adulta, não precisa mais de mim. Minha missão está cumprida. Você se tornou uma linda e maravilhosa mulher. Não precisa mais de mim.

- Claro que preciso mãe!

- Eu só te dou trabalho filha!

- Mas eu também já te dei trabalho...

- Não é verdade, você nunca me deu trabalho. Deus me abençoou quando me deu você. E ele vai te abençoar também quando te der filhos.

- Eu não penso nisso mãe.

- Você tem que pensar, não é bom ficar sozinha. Eu não vou durar muito tempo.

- Pois eu acho que vai!

O médico entra em seguida.

- Oi Danielle, que bom que está aqui! Podemos conversar?

- Claro! - Eu olho pra minha mãe, e ela me olha desconfiada.

- Se for sobre mim eu quero ouvir.

- Não é sobre a senhora dona Ana, pode ficar despreocupada.

- Sei. - Ela continuou olhando desconfiada.

- Mãe, já volto, descansa um pouco.

- Minha vida é descansar, já tô cansada de descansar! - Ela resmunga.

Saio do quarto atrás do Dr. Pablo e fecho a porta. Eu quis parecer tranquila perto da minha mãe, mas a verdade é que eu gelo, toda vez o médico me chama para conversar.

- Vamos até minha sala. - Eu o sigo pelos corredores do hospital. Ele entra, senta atrás de sua mesa e me indica a cadeira a sua frente, para eu sentar.

Doutor Pablo era um homem bonito, pele clara e cabelos escuros e curtos. Com um cavanhaque bem aparado, ele era muito atraente, e não parecia ter mais de quarenta anos.

- Então Danielle, você sabe que sua mãe tem que fazer uma cirurgia, que está esperando pelo SUS.

- Sim.

- Então, não temos previsão de quando isso sai, e ela precisa urgentemente dessa cirurgia para sobreviver.

- E é muito caro Doutor?

- Olha, a cirurgia com os medicamentos e tratamentos pós cirúrgicos, deve ficar por volta de uns 30 mil.

- O que? - Eu dei um pulo da cadeira.

- Infelizmente esse é o valor. - Ele fala com tristeza.

- Meu Deus, eu não tenho esse dinheiro todo, eu vou trabalhar em um hospital maior, e ganhar bem mais que ganhava no outro. Mas ainda vou começar, eu não tenho nada! Eu era só uma estudante até umas semanas atrás. - E ainda devo a faculdade!

Mas esse detalhe eu disse só no meu pensamento.

- Eu sei, eu estou sendo honesto com você. Ela pode não conseguir esperar por muito tempo.

- Tudo bem, eu vou dar um jeito! Obrigada por me falar doutor.

- Pablo, pode me chamar de Pablo.

- Ok, obrigado!

Eu saio do consultório com a cabeça fervendo. Volto para o quarto que minha mãe está internada, e tento não pensar nisso por enquanto. Na segunda feira eu começo a trabalhar e vou pensar em alguma coisa para comswguir esse dinheiro.

Vai dar certo, e vou conseguir ajudar minha mãe!

Gastei mais um pouco do restinho das minhas economias, para comprar esse jaleco branco. O outro que usava no outro hospital já não estava legal, na verdade eu já tinha comprado usado.

Depois de conhecer o setor onde ia trabalhar, e meus colegas de trabalho, eu começo meu serviço.

Estou no setor de idosos, eu gostei muito, amo idosos! Acho eles tão bonitinhos com a pele enrrugadinha.

Com o passar do tempo, descobri que tem uns mal humorados, mas também tem uns bonzinhos. E sem exceção todos gostam de falar, são muito carentes, as pessoas mais nova não costumam dar muita atenção.

Tem uma senhorinha em especial que já está aqui a uns quinze dias. Os enfermeiros não gostam dela. Dizem que ela é muito grossa, e como eu sou novata, me colocaram para tomar conta dela.

Normal, tudo que é ruim fica para os novatos e estagiários. Eu estava acostumado, já fui estagiária, e agora sou novata.

Eu estou feliz demais com esse trabalho, para me preocupar com isso. Também tenho que me preocupar com a cirurgia da minha mãe, isso não está me deixando dormir direito.

Entro no quarto para conhecer minha nova paciente.

- Quem é você? Cadê a outra? Esse hospital era bom, quando era só particular. Agora que é do SUS também, ficou uma porcaria, olha só a enfermeira, uma negra! Eu não quero você, chama a outra. - Ela despeja isso tudo em cima de mim, antes mesmo de eu ter a oportunidade de me apresentar.

E ela era tão linda! Parecia a atriz que fez Titanic, a idosa. Ela tinha os olhos azuis, a pele bem branquinha com pintinhas por todo lado. O cabelo já estava todo branco meio acinzentado, mas devia ser loiro quando ela era mais nova.

Mas ao contrário da atriz, dessa aqui não saia nada de bom da sua boca.

- Eu sou a enfermeira que vai cuidar da senhora. Meu nome é Danielle e sou negra. A senhora vai ter que se acostumar com isso.

- Como que pode? Eu estou pagando, eu não posso ser cuidada por uma...

- Negra, não se preocupe, a senhora acostuma. - Eu começo a trocar seu soro por um novo. - Assim como eu me acostumei a cuidar de gente branca.

- Você é muito atrevida mocinha! Quando meu neto chegar vamos resolver isso! - Eu solto um suspiro.

- Ok, quando ele chegar, pedi pra ele me procurar. Agora vou colocar um medicamento para dor e um para pressão. - Eu falo depois de olhar sua receita. - A senhora vai ficar boa logo logo!

- Não se depender de você que está me deixando nervosa, e fazendo minha pressão aumentar.

- Sua pressão está ótima dona Agda! Se precisar de alguma coisa é só apertar a campainha. - Eu falo depois de medica-la.

- E você vai vim? Porque eu canso de apertar essa campainha e ninguém aparece! - Eu acho estranho.

- Eu vou vim.

Depois disso ela apertou a campainha de dez em dez minutos. E sempre me xingando e dizendo coisas desagradáveis sobre minha cor e classe social, até que dei a ela seu remédio para dormir. Já estava escuro lá fora e eu estava morta de cansaço.

Votem e comentem ❤️ beijinhos, até o próximo 😘😘

QUANDO O AMOR ACONTECE [Na Amazon]Where stories live. Discover now