Amanhecer

Os raios de sol

Era inverno em São Paulo. Um clima propício para fortes chuvas. A cidade era incrivelmente movimentada. Todos os dias, a cada instante ouvia-se o som de buzinas, misturando-se com as vozes de bêbados que brigavam por algum motivo banal na frente dos bares. Pessoas morriam o tempo todo, mas havia uma boa parte delas que apenas matava.

Nick, tinha acabado de completar os seus dezoitos anos, logo após concluir o ensino médio. Ele não possuía muitos laços com parentes, tão pouco com amigos.

Seus olhos cor de mel estavam fixos na janela, contemplando minuciosamente as gotas de chuva que escorriam pela vidraça. Enquanto que sua cabeça estava inundada de pensamentos, assim como as ruas estavam de água. Tentava a todo custo entender o porquê de as pessoas gostarem tanto de se perder. Suas pupilas já estavam ficando marejadas, buscavam loucamente uma resposta, uma solução. E foi assim bem diante de seus olhos que ele viu um jovem rapaz sendo atropelado e largado para morrer, pois nem mesmo o resgate foi chamado. O maldito nem se quer parou, como alguém poderia negar socorro? "Deve ser mais um daqueles bêbados que insistem em dirigir sem ter condições para isso". Pensou consigo mesmo.

Estava encharcado da chuva que ainda caia sobre seu corpo que já estava ficando gélido. Estava engasgando com o sangue que não parava de escorrer. "Eu não quero morrer", foi tudo o que ele conseguiu pronunciar antes de desmaiar. A ambulância chegou o mais rápido que pode, e logo em seguida colocaram o homem na maca. Nick no calor do momento se atirou para dentro da ambulância e foi como acompanhante e responsável pelo desconhecido.

Após horas em cirurgia o médico diz para Nick que o rapaz já não corre perigo e lhe diz para preencher a ficha do hospital com todos os dados do desconhecido. E também o aconselha a fazer uma consulta para prevenir quaisquer doenças que poderia vir a pegar pela chuva que tomou e por ainda está com as roupas molhadas. Nesse momento ele se pergunta, "O que eu estou fazendo aqui". Explicou a enfermeira sua situação e ela compreendeu e o aconselhou a tomar uns antibióticos que o médico iria receitar e esperar que o desconhecido acorde da anestesia e que isso seria bom para o paciente, conhecer quem o salvou. Nick ponderou por um tempo, mas por fim optou por aceitar o conselho.

Por sugestão da enfermeira ele ficou no quarto sentado ao lado do rapaz. Enquanto aguardava a recuperação do homem, Nick não pode deixar de notar o semblante tranquilo que ele esbanjava na face enquanto dormia tranquilamente. Quem o visse naquele instante, jamais cogitaria a ideia de que algumas horas atrás o mesmo sofreu um acidente gravíssimo e esteve entre a vida e a morte. Despertando rapidamente de seus devaneios, ele também percebeu que aquele homem era muito jovem, e arriscava dizer que possuíam aparentemente a mesma idade.

Algumas horas se arrastaram, o suficiente para Nick cochilar na poltrona do quarto. De repente uma voz soa pelo quarto, fraca e baixa. Ele rapidamente se levanta e se aproxima do homem, notando que o mesmo estava acordado.

- O-Onde eu estou? - Ele se esforça bastante para fazer a pergunta. Pois, seu corpo ainda não havia se recuperado por completo.

- Você está no hospital...você sofreu um acidente e....e foi operado. Mas, agora já está tudo bem. - Nick tenta dar um sorriso para passar confiança, mas não deu muito certo, ele não sabia o que seria correto dizer.

- Q-Quem é você? - Suas palavras falharam. Era visível a força que ele fazia para pronunciar uma palavra só.

- Eu me chamo Nick! Eu chamei a ambulância. Uma das enfermeiras me disse que seria uma boa ideia esperar você acordar, que isso iria lhe ajudar. - Fez uma pausa. - Pensando bem isso não foi uma boa ideia. - Completou sua pequena apresentação sem notar que havia dito a última parte em voz alta.

Um sorriso surge nos lábios do rapaz acidentado seguido por um gemido de dor. Foi aí que Nick percebeu que falou tudo em voz alta.

- DROGA. - Bramiu.