Não, o Nate que eu conhecia faria de tudo para ficar com qualquer garota que lhe despertasse o mínimo de interesse. Até fazer o melhor amigo apanhar.

 Percebi que ainda havia um pouco de ressentimento da minha parte, mas também sentia falta de ter um amigo do sexo masculino. Não só colegas de time ou pessoas que acenam porque você namora uma garota que conhecem ou joga no time e tem a jaqueta legal. Zoe era uma amiga maravilhosa, entretanto eu não a enxergava como um cara, e, apesar da nossa relação estritamente de amizade, acho que ela preferia assim.

 Deixei Nate entrar. Eu estava vestindo meu pijama verde. Na verdade, eu só tinha um pijama e era aquele. O resto dos dias eu usava roupas velhas para ficar em casa.

 - Está mais forte, irmão - observou Nate, enquanto tentávamos reproduzir nosso antigo “toque secreto”, mas parecíamos estar jogando “adoleta”, como garotinhas no pré.

 Com uma careta, me lembrei que com plenos treze anos, às vezes eu fazia essas brincadeiras de mãos com Zoe. Ela era uma criança bem mandona e eu não me atreveria a dizer não.

 - Lacrosse - expliquei e ele concordou, sentando-se no sofá e já conectando os controles na TV.

 - Me fale as novidades - pediu ele com a voz abafada por estar abaixando perdido em fios.

 - Eu jogo lacrosse e tenho uma namorada agora. - Por alguma razão, ainda não mencionei Zoe, mesmo sabendo que eles haviam se conhecido no restaurante mexicano que ela trabalha.

 - Uau. Não brincou em serviço - disse ele com tom de divertimento, se levantando do chão e limpando as mãos de poeira na calça jeans escura. Notei como seu sotaque estava mais forte. Um charme, não? Nunca entendi as garotas e os sotaques.

 Se bem que uma vez gostei de uma menina só pelo sotaque francês. Ela nunca me deu bola, mas eu adorava ouvi-la falar, então ficava fazendo perguntas bobas que ela raramente respondia: “Você prefere cobertura de marshmallow ou caramelo?”, eu indagava. “Mon Dieu!”, exasperava ela em resposta. “No se, tanto faz” e olhava para a amiga baixinha de boina: “No se prrreocupe. La roue tourne.”

 Sem entender uma palavra, eu sorria mesmo assim. Mas talvez a palavra “paixonite” descreva melhor, já que gostar exige que você veja mais que a superfície, ao meu ver. Não que eu seja especialista nem nada. Minhas habilidades envolvendo vida amorosa sempre me deixaram na mão.

 Zoe era inglesa, mas não tinha sotaque, só quando estava extremamente irritada; do tipo cabeças-vão-rolar.

 - E você? - perguntei a Nate, pegando o controle que me era oferecido.

 Sentamos no sofá ruidosamente.

 - Vamos jogar - disse ele, ignorando minha pergunta, e começamos.

 Nate ganhou com muita facilidade e fizemos uma pausa para o lanche. Pelo menos tive sorte no Pedra, papel, tesoura e fomos de comida chinesa ao invés de pizza.

 Não me entenda mal, eu adoro pizza. Zoe não seria minha amiga se não fosse assim. Mas às vezes meu estômago pedia variedade. Muitas ocasiões minha mãe acabava pegando o telefone ao invés da panela e meu pai, coitado, só sabia fritar um ovo e olhe lá. Eu, por outro lado, havia sido agraciado com os dons da culinária, mas meus pais diziam que não era meu papel e eu descobri que discutir era inútil. Eles eram tradicionais nesse sentido.

 Anoitecia e ainda estávamos jogando. A cozinha estava uma bagunça, meus dedos doíam com câimbras e meus olhos ardiam de olhar para a tela por tanto tempo.

 Ainda assim, não largamos os controles. A adrenalina nos deixava inquietos, nos fazendo mexer os braços como se o movimento fosse ser reproduzido no jogo, e ter sobressaltos sentados no sofá.

Nós Podemos Ter TudoWhere stories live. Discover now