Proibição velhaca

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Meu pai e minha irmã estavam na igreja ontem; meu pai e Esmé, minha irmã de apenas 8 anos. Não pude me aproximar deles; meu bisavô não deixou. Apenas os vi de relance. Quis falar com eles. Tocá-los. Ouvir a voz de meu pai, Henri. Abraçar a pequena Esmé e sentir o perfume dela.... Uma última vez. O meu bisavô é um tirano; está velho e ruim. Tão ruim que não me deixa ver meu pai ou Esmé. Mal fala deles. Em segredo, ainda lembro da minha família antes do maldito processo, que tirou meu pai de mim, achando que ele era um fraco, um homem subversivo pelos seus posicionamentos políticos (bonapartista). Pensavam que ele, por ser pobre e viver com a miserável pensão militar, não conseguiria me criar direito.

"Fraqueza de caráter", disse o advogado do velho Darcy. "Pobreza e fraqueza de caráter. Um homem deplorável, senhores do júri. Não tem condições de criar duas crianças. Pode ser má influência para elas. Serviu no exército de Napoleão; é um mau elemento. "

Mau elemento.... Má influência... Mesmo após 5 anos, o velho Darcy continua inflexível. Me deu uma bronca ontem.... Apenas por olhar para eles. Olhar. Se olhar para alguém fosse um crime, todos nós estaríamos presos, ou, talvez, mortos. Meu pai não era uma má influência ou um mau elemento; era apenas uma pessoa tentando nos criar da melhor forma possível. Ele contava histórias sobre batalhas e sobre o exército, e não colocava nada na nossa cabeça sobre a glória de Napoleão, ou algo assim. De todo o modo, o velho D. me deu uma bronca ontem, dizendo que eu não podia encará-lo, porque isso seria RENEGAR a salvação que o velho me deu, ao me tirar de Henri (sempre se refere a Henri quando fala de meu pai).

- Aquele fraco, morando em um pardieiro! Marius, você devia me ser grato, criança! Tirei-te da pobreza e da fraqueza daquele homem! - Exclamou ele, tirando as luvas e se jogando no sofá.

- Em compensação, me jogou em um mundo de futilidades. Sim, deu-me melhores condições de estudo, e sou grato por isso, mas preferiria estar com meu pai, levando uma vida simples e sendo um autodidata do que ficar aqui, em Paris! O que fizestes com meu pobre pai foi cruel, jogando tudo contra....

O velho me deu uma bofetada.

- Vá para o seu quarto agora...Criança...

Falou a palavra criança entredentes, encarando a minha bochecha direita. Suspirei e subi as escadas, as lágrimas jorrando.

Olhar é um crime? Para o velho, sim. Para mim, é um ato de rebeldia, como se, ao olhar para meu pai, eu dissesse:

Ainda estou aqui, pai...

Esmé também não foi poupada; foi levada para a casa de uma tia rica, mas de bom coração, que deixa que papai a visite semanalmente. Estou despejando essas palavras no papel, mas sei que serão ignoradas pelo velho Darcy, que é tão sensível quanto um pedaço de madeira dos mais duros. Acho que encerrarei por aqui.

Sinceramente,

Marius Chermont

Laços de sangue [DESCONTINUADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora