Capítulo 1

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Em algum lugar de Trenton, 2028

Quase dez anos depois dos acontecimentos que quase definiram a extinção da raça humana, aqueles poucos que sobreviveram a queda de um enorme meteoro que gerou tsunamis nas áreas costeiras e terremotos devastadores na maior parcela do território Norte Americano, seguido do superaquecimento do planeta em diversas outras partes do mundo — tal fato que só era esperado para anos à frente —, agora estão isolados em bunkers, nos quais as reservas de comida, água e energia elétrica estão se esgotando. As pessoas não aguentam mais. Eu não aguento mais! Sinto falta da quente e reconfortante luz do sol. O vento suave de Dumont balançando o meu cabelo. O ar puro invadindo minhas narinas. E sinto falta da minha mãe.

Lauren Thompson — antes Lauren Giller —, mais conhecida como minha mãe, é uma inteligentíssima engenheira química que havia acabado de conseguir um trabalho como professora em uma das melhores universidades de New Jersey. Ela se apaixonou nos anos 2000 por um cara brincalhão e meio atrevido, que estava muito animado com a recente convocação para o exército americano. Depois de alguns encontros, o jovem casal resolveu oficializar o namoro, que não durou muito tempo, pois o rapaz, Robert Thompson, precisava cumprir o seu dever com a pátria. Lauren prometeu esperar seu querido Robbie, enquanto começava sua graduação em Engenharia Química. Dois anos depois, Robert voltou da missão na Síria e reencontrou sua amada. Fizeram juras de amor em meio a multidão de oficiais e suas famílias na estação de trem. Pouco tempo depois da volta de Robbie, uma surpresa pegou o jovem casal de jeito. Mais 9 meses, e lá estava eu. Fruto de uma paixão repentina, entre uma mulher séria e responsável, e um homem doce e bobalhão. Uma pena que minha mãe se tornou viúva tão jovem. Não tiveram muito tempo para desfrutar o amor entre eles. E eu não tive muito tempo para aprender a andar de bicicleta e ir ao parque de diversões com meu pai.


Sentada no chão do quarto que divido com mais seis jovens muito desorganizados, observo o anel gasto de tungstênio em meu dedo anelar, que foi dado pela minha mãe pouco antes de ser chamada pelos oficiais para ajuda-los em algo muito sigiloso. Estou muito preocupada com ela. Já faz 2 meses e eu não recebi nenhuma notícia.

— Hey, Emms! Por que ainda está aqui? Não devia estar na aula de combate? — Ed questionou, tirando-me de meus pensamentos.

— Só queria um tempo sozinha. Estou preocupada com a minha mãe.

— Já faz um tempão que levaram ela, não é? — Sentou na minha cama.

— Sim. Eu odeio eles, Ed. Eu odeio todos eles. — Cerrei os pulsos com força, o que fez o anel grosso e frio machucar, mais do que eu gostaria, entre os meus dedos.

— Calma. Por que você não fala com o Tenente Willow? Ele pode te dizer se a tia Lauren está bem. Ou quanto tempo isso, seja lá o que seja que ela está fazendo, vai demorar.

— Eu falei na semana passada, mas ele disse, com aquele jeito fofo de sempre, que não tem nada para me falar. — Reviro os olhos ao lembrar da maneira como aquele velho chato fala com uma autoridade que não tem, como se fosse o próprio General.

— Eu preciso ir para o treinamento do GSC. Até o almoço!

Fazemos um toque de mãos e Ed sai. Olho no relógio velho no topo da grande e cinza parede central do quarto, e vejo que estou atrasada. Ou melhor, muito atrasada. Troco a camiseta debotada da banda Queen que uso para dormir e visto a blusa verde musgo sem graça do uniforme. Corro até o grande salão com paredes de metal que transformaram em um sala de aula.


Os olhares que antes prestavam toda a atenção ao professor Ward e seu apessoado uniforme do exército americano, agora pairavam sobre mim.

DISTRITO 33Onde as histórias ganham vida. Descobre agora