CAPÍTULO ÚNICO

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Havia uma casa no litoral de São Paulo que era conhecida por ser o centro das atenções de qualquer jovem adulto passando as suas  férias de verão na praia. O motivo? Bem, não tinha realmente um motivo. As pessoas só gostavam de passar em frente a ela e imaginar tudo o que já havia acontecido ali. O ar que emanava da casa enganava tanto quanto a sua aparência, com suas grandes portas e a idade pouco conhecida, e a maior parte dos curiosos gostava de acreditar nas histórias sobre fantasmas contadas por quem já a conhecia.

Apesar disso, havia outra coisa que fazia daquela casa uma casa especial. Esse fato, na verdade, era particular, quase um segredo, e aconteceu em 1997, quando duas estranhas compartillharam de uma noite entre as paredes dela, ambas fugindo de uma tempestade que pouco se via em cidades como aquela.

A primeira a chegar foi Susan, que não tinha ideia do que estava fazendo quando decidiu concordar em ir com os pais aventureiros em uma trilha entre dunas e coqueiros. Era Natal e ela queria agradar a família, mas no meio do caminho desistiu de participar e pediu permissão para voltar ao hotel em que estavam hospedados.

Não foi uma boa ideia, porque Susan acabou tendo azar no meio do caminho.

Ela já estava quase no fim da ladeira que a levaria à praia e ao Hotel quando raios começaram a ficar constantes. Então uma chuva repentina agitou o mar, e Susan precisou procurar por abrigo. Foi assim que ela encontrou a casa. O lugar que mudaria a sua vida para sempre.

A primeira coisa que Susan percebeu quando chegou lá foi o fato de ela estar vazia. Então notou que ninguém se importaria se ela esperasse a chuva passar escondida perto da varanda, atrás de uma das grandes janelas vitrais que tinha na sala de entrada. Foi ali que ela se acomodou, abraçando o próprio corpo, desejando ter escolhido ficar no hotel com seu caderno e seus romances em ascensão. Pelo menos seria um tempo produtivo.

Susan estava quase dormindo quando ela chegou, e foi a segunda coisa que mudou a sua vida naquela noite.

A estranha bateu na porta da grande casa de forma desesperada, pedindo ajuda, e quando Suzan atendeu o chamado se assustou com a expressão que encontrou no rosto da garota.

— Você pode me ajudar?

Suzan não soube exatamente o que fazer, mas não achou que seria uma boa ideia chamá-la para entrar em uma casa que não era sua. A menina não parecia machucada, mas como poderia saber? Ela podia ser qualquer pessoa. E era uma situação bem estranha.

— Qual o seu nome?

— Aline — a estranha respondeu.

Suzan saiu da casa, e Aline deu um passo para trás, parecendo decepcionada por não ter sido convidada para entrar.

— Você tem um telefone aí? — perguntou.

Ela achava que a casa era de Suzan, o fez com que algumas coisas ficassem claras.

— Não moro aqui. Só estou fugindo da chuva.

Aline olhou para a casa atrás de Suzan, agitada, e então seus olhos pararam na pessoa que parecia ser a sua última esperança em um momento misteriosamente desesperado:

— Será que eu posso usá-la para fugir de algo também?

X X X

Naquela época, a casa não estava tão velha. E Susan só percebeu que ela tinha um dono quando entrou com Aline ao seu lado e viu os móveis espalhados pelos cômodos.

As duas estavam encharcadas, com frio e com sede. Água escorria da calça jeans de Susan e pingava no chão de porcelana branco.

— Quem mora aqui? — Aline perguntou.

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