Aquele imbecil!!! Pela primeira vez em alguns dias puxei o trinco da janela com violência. Isto iria impedi-lo de entrar, e se ele tivesse de ficar ao frio, melhor ainda. Só desejo que em vez de chuva caia granizo e de preferência com pedras de 50 centímetros. Deixei-me cair sobre o sofá e lutei contra as lágrimas que ameaçavam chegar. O que se passa comigo? Por que é que ele mexe tanto comigo?

Enterrei o rosto numa almofada e chorei livremente, embora a vergonha do gesto pesasse sobre mim. Não consigo perceber como me deixei chegar a este ponto: desde quando me tornei esta pessoa detestável que trai e mente sem piedade?! O que estou eu a fazer ao Louis, que tanto gosta de mim?! E por alma de quem é que estou a chorar por um filho da mãe qualquer?! À medida que ia tomando consciência dos erros que tinha cometido nos últimos dias, sentia-me afundar mais e mais numa sensação de culpa e horror de mim mesma que parecia não ter fim. Chorei compulsivamente durante algum tempo até que sem me aperceber, acabei por adormecer no sofá.

           Um estrondo na janela fez-me sobressaltar e quando olhei para o relógio vi que marcava as duas da manhã: Borhan batia na janela, com a habitual máscara a cobrir-lhe o rosto, e eu decidi ignorá-lo. Ele era insistente e o barulho na janela poderia acordar Louis e Rose, pelo que acabei por me aproximar da janela, acenando negativamente. Vi que ele barafustava e senti de novo as lágrimas turvarem a minha visão: como é que ele pode fazer-me isto?!

            - Vou partir a janela. – O som abafado da sua voz fez-me deter e quando reparei que ele segurava o cano da arma na mão, não tive dúvidas que ele iria fazê-lo. Precipitei-me sobre a janela e abri-a para trás, deixando que ele se escapulisse para o lado de dentro, molhando tudo à passagem.

            - Mas que merda foi esta?! – Berrou, agarrando-me o braço com violência.

            - Fala baixo! – Avisei, virando o rosto para que ele não visse que eu estava a chorar. – Vai embora. Acabou, eu não quero mais isto.

            A minha voz saia com um tremor que eu gostava de evitar e senti-o puxar-me o rosto na sua direção.

            - Bea estás a chorar?! – Pela primeira vez desde que o conheço um laivo de preocupação atravessou o seu rosto mas eu preferi ignorá-lo. Pensar nisso seria ainda mais doloroso e eu estou mais do que determinada a levar a minha resolução avante.

            - Não. – Protestei, soltando-me dos seus braços. – Vai embora.

            - Foi ele?! O que é que o Louis te fez?! – Ele voltou a agarrar-me os braços, desta vez com uma força ainda maior, forçando-me a olhar para ele. – Bea diz-me, o que é que ele te fez?!

- Nada! – As lágrimas escorriam agora livremente e enterrei o rosto nas mãos, envergonhada. – Ele não me fez nada, tu sim!

- Eu?! – Ele parecia confuso e tirou a máscara, encarando-me com severidade. – És capaz de te explicar?!

- A Tinna? A sério? – Peguei nervosamente num pano, ajoelhando-me para limpar o chão molhado: se me mantivesse ocupada conseguia dominar melhor o nervosismo.

Ele riu alto e apeteceu-me ter ligado para a polícia quando ele estava empoleirado no lado de fora da janela.

- Tu estás com ciúmes, bebé? – Ele sentou-se no chão e puxou-me para mais perto, molhando-me a roupa toda.

- Não! – Respondi, fazendo força para me libertar, mas sem sucesso. – Eu só…tu…destruíste a minha vida! Eu não era assim, uma mentirosa desprezível!

Ele arqueou a sobrancelha e olhou-me friamente.

- Nunca te obriguei a nada que não quisesses. – Disse ele, aumentando o meu nervosismo. – Além disso, que tem a Tinna? Tu não tens o Louis?

Love WingsWhere stories live. Discover now